
Diante da retomada das negociações entre a construtora Record e o Hotel Jatiúca para a construção de cinco megatorres de 15 andares cada uma no entorno da Lagoa da Anta, em Maceió, o Ministério Público do Estado (MPE) afirmou que está monitorando o avanço do projeto e reforçou seu compromisso com a preservação ambiental da área.
O projeto bilionário é desenvolvido pela Record Construtora em parceria com o Grupo Lundgren, proprietário do Hotel Jatiúca. Para o promotor de Justiça de Urbanismo da Capital, Jorge Dória, a construção das torres não pode descaracterizar o ambiente natural da Lagoa da Anta.
“A paisagem passou a ser um bem a ser tutelado como outro bem qualquer, como um rio, uma floresta. Isso significa dizer que nada poderá ser feito para desconfigurar aquela paisagem que já existe”, afirmou o promotor em entrevista à TV Gazeta.
Ainda de acordo com Dória, o órgão não vai permitir que o projeto em questão destrua o ecossistema. “Diante dessas novas notícias [retorno das negociações], o MPE continua atento e, caso esse projeto venha a ser apresentado, adotaremos as providências necessárias para preservar aquele ambiente”, enfatizou o promotor.
O Hotel Jatiúca ocupa uma área de 62.000 m² e se destaca pela integração com a natureza da capital alagoana, utilizando a Lagoa da Anta como um espaço de lazer para maceioenses e turistas.
Construído há mais de 40 anos em um terreno cedido pela prefeitura, o empreendimento foi estabelecido sob a premissa de que o ecossistema ao redor da lagoa não fosse descaracterizado.Se as negociações avançarem, ambientalistas alertam que o novo projeto poderá causar impactos significativos na região.
“O que fazer com os esgotos sanitários desse hotel? Porque, evidentemente, a população vai dobrar com as torres que serão construídas. A questão dos resíduos sólidos precisa ser avaliada, assim como a qualidade ambiental da Lagoa da Anta, o acesso da população e o tráfego. Tudo isso deve ser analisado dentro de uma matriz complexa”, ponderou o consultor ambiental Alder Flores.
Para Flores, técnicos, órgãos competentes e a sociedade precisam ter acesso ao projeto para entender as intervenções previstas no local.
“É necessário que as pessoas, os técnicos e os órgãos competentes vejam qual é o projeto e o que está sendo planejado para que possa ser discutido tecnicamente e de forma aberta ao público. A população deve ter acesso a essas informações, que não são sigilosas”, pontuou .
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PROJETO BILIONÁRIO “SOB SIGILO”
O projeto da Record Construtora na Lagoa da Anta tem um Valor Geral de Vendas (VGV) – que representa o faturamento total das unidades a serem comercializadas – estimado em R$ 2 bilhões. É um dos maiores empreendimentos imobiliários já planejados para Alagoas.
No entanto, as negociações envolvendo o Grupo Lundgren e a incorporadora estão sendo mantidas “sob sigilo”, conforme declarou o sócio da empresa, Hélio Abreu, o que tem levantado questionamentos sobre a falta de transparência na condução do projeto. Interlocutores que participam das negociação tentam sensibilizar os vereadores de Maceió diante da discussão.
Além disso, a falta de clareza nos trâmites gera preocupações quanto ao modelo de ocupação da área, especialmente diante da ausência de regulamentação específica para a Lagoa da Anta no Plano Diretor de Maceió, que segue desatualizado há quase 20 anos.
A discussão também chegou à Câmara Municipal de Maceió e à Assembleia Legislativa de Alagoas. O presidente da Comissão de Meio Ambiente da Casa de Tavares Bastos, deputado Delegado Leonam (União Brasil), anunciou que, após o recesso parlamentar, no próximo dia 15, marcará uma audiência pública para ouvir os envolvidos e debater a viabilidade do empreendimento.