
A Record Construtora fechou um contrato de gaveta com o Grupo Lundgren para a construção de cinco megatorres de 15 andares cada na região da Lagoa da Anta, no coração da Jatiúca, em Maceió. O Valor Geral de Vendas (VGV) do projeto – que representa o faturamento total das unidades a serem comercializadas pela construtora – ultrapassa R$ 1,5 bilhão, segundo projeções de agentes do mercado imobiliário que atuam em Alagoas e em outros estados do Nordeste. Com o mercado de imóveis aquecido, como está neste momento, especialistas estimam que o VGV pode chegar a R$ 2 bilhões.
Executivos diretamente envolvidos na elaboração do contrato revelaram à Gazeta que a Record já desembolsou R$ 10 milhões em dinheiro ao Grupo Lundgren. As partes aguardaram o fim do período eleitoral para retomar agora as tratativas de forma impetuosa. A negociação, mantida “sob sigilo” e confirmada por Hélio Abreu, sócio da construtora, prevê ainda que a Record assumirá uma dívida de R$ 260 milhões que o Grupo Lundgren tem junto a instituições financeiras.
Além do pagamento inicial e da absorção da dívida, os termos contratuais firmados pela Record fixam também um pagamento adicional de mais R$ 260 milhões, perfazendo um total de R$ 520 milhões, valor este correspondente a uma taxa de valorização de 35%, devido à incorporação da área ao projeto. Executivos ouvidos pela Gazeta destacam que a construção das megatorres terá o maior impacto ambiental e imobiliário dos últimos anos. Atualmente, a área de 62 mil m² do Hotel Jatiúca conta com construções baixas, coqueiros e um manancial preservado, garantindo a vista atual em equilíbrio com o meio ambiente.
Disputa judicial pode barrar compra do Hotel Jatiúca
Pela nebulosidade com a qual o negócio vem sendo conduzido, “sob sigilo”, a compra do Hotel Jatiúca pode parar na Justiça. Em 1979, o contrato de cessão do terreno pela Prefeitura de Maceió para a construção do hotel estabeleceu que o ecossistema ao redor da Lagoa da Anta jamais poderia ser descaracterizado. Mesmo assim, o Grupo Lundgren e a Record Construtora retomaram com muito empenho as tratativas para a conclusão do contrato multibilionário, ignorando os dispositivos legais.
Vereadores da capital já estão sendo procurados pelos grupos interessados na compra da Lagoa da Anta com o objetivo de sensibilizá-los a favor desse grande dano ambiental e em apoio à construção das megatorres.
Cinco megatorres e impacto na mobilidade e saneamento
O projeto, assinado pelo escritório italiano Pininfarina, prevê a construção de cinco torres de 15 andares cada, sendo:
- Um edifício comercial
- Um hotel
- Uma torre residencial de luxo
- Duas torres de apartamentos “studio”, com unidades entre 40 e 60 metros quadrados.
Além do enorme impacto sobre a paisagem da região, a construção levanta preocupações sobre mobilidade urbana e saneamento básico.
Trânsito e falta de infraestrutura urbana
A Jatiúca já enfrenta congestionamentos diários, independentemente da alta temporada. Urbanistas e arquitetos consultados pela Gazeta apontam que, considerando as informações iniciais do projeto, o cenário do mercado imobiliário de alto padrão de Maceió e as lacunas no Plano Diretor, que não é atualizado há 15 anos, serão necessárias pelo menos 2.140 vagas de estacionamento apenas para os futuros moradores das megatorres. Esse cálculo não inclui vagas para o hotel, edifício comercial e visitantes, o que vai agravar ainda mais o trânsito na região.
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Impacto ambiental e saneamento
Outro ponto de preocupação, segundo ambientalistas e moradores, é o impacto no saneamento básico. Sem um debate público sobre o projeto, há receio de que a Lagoa da Anta enfrente o mesmo destino de outras regiões da orla de Maceió, tornando-se uma grande língua suja. Diante disso, especialistas defendem que o projeto seja debatido amplamente, incluindo audiências públicas, para avaliar os tremendos impactos ambientais e sociais.