
“Da vida não levo nada, do jeito que a vida vem, depois de fechar os olhos ninguém é ninguém...” Foi com a melodia dessa música do compositor Nenéo que, na manhã desta terça-feira (1º), o Parque das Flores em Maceió virou palco de uma despedida marcada por muita emoção, lembranças e homenagens ao cantor e sanfoneiro Sebastião José Ferreira Maximíno, o Xameguinho, ícone do forró em Alagoas e no Brasil.
Familiares, amigos, colegas de trabalho e artistas do cenário musical nordestino se reuniram para prestar a última homenagem a um homem que viveu, respirou e eternizou o forró. As lágrimas mesclavam-se aos acordes da sanfona, enquanto relatos emocionados celebravam a trajetória de um mestre que deixou um legado imenso para a cultura nordestina.
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Presente para dar o último adeus ao artista, o músico Geraldo Cardoso lembrou o talento inigualável do sanfoneiro. “Não era apenas um sanfoneiro, era um músico por excelência. Ele criou arranjos que fizeram sucesso até em Nova York. Perder o Xameguinho é perder parte da tradição musical de Alagoas.”

Para o produtor cultural Marcos Assunção, a dor é ainda maior pela partida precoce. “Chameguinho tinha apenas 62 anos, estava no auge do sucesso. Perdemos um mestre, um amigo, uma inspiração. A saudade é enorme, mas sua estrela continuará brilhando no céu da música.”
O velório e sepultamento refletiram a grandeza de sua vida e obra, deixando uma lacuna imensa no forró, mas também a certeza de que seu som e sua história jamais serão esquecidos.
LEGADO
Sebastião, natural de Atalaia, começou a tocar aos 12 anos, influenciado por ícones do forró como Luiz Gonzaga e Trio Nordestino. A paixão pela sanfona o acompanhou por mais de cinco décadas, tornando-se referência nacional e internacional no gênero.
A notícia de sua morte, na madrugada dessa segunda-feira (30), por provável infarto, comoveu o meio artístico e fãs em todo o país. Joelson dos Oito Baixos, amigo próximo, resumiu o sentimento de todos. “Chameguinho era um menino de ouro, puro, um sanfoneiro nota 10. Todo mundo amava ele.”

Nome destacado da nova geração do forró, Anderson Fidellis tem no encontro com Xameguinho uma marca pessoal e profissional significativa. Para ele, a generosidade do mestre abriu caminhos fundamentais.
“Xameguinho é um tipo de artista que aparece para criar um espaço. E foi isso que ele fez. Criou o seu ambiente, criou o seu jeito de trabalhar e influenciou muita gente com isso. Inclusive eu”, explica Fidellis.
O jovem artista ainda recorda, com leve humor e profundo respeito, os ensinamentos que recebeu no estúdio onde Xameguinho sempre oferecia a sanfona como instrumento acessível a quem estivesse disposto a aprender.
“Às vezes ele aparecia de surpresa no estúdio e eu me avexava. Levava um susto. Pensava: ‘Meu Deus do céu, tô aqui gravando uma coisinha e, de repente, tem Xameguinho observando’. Eu errava, errava muito, mas corrigia depois. E ele sempre ali, dando aquela força.”
Mesmo com décadas de carreira, Xameguinho teve um novo impulso nos últimos anos com o sucesso repentino de músicas como "Outra Vez" e "Tanta Solidão", que viralizaram nas redes sociais. Suas letras, sempre carregadas de emoção, saudade e romantismo, conquistaram um público mais jovem, que passou a redescobrir seu talento nas plataformas digitais.
Dono de um estilo inconfundível e de um timbre marcante, ele se destacou também como arranjador, produtor musical e dono do Stúdio Xamego, por onde passaram dezenas de artistas alagoanos, sergipanos e pernambucanos.

Além do forró, também deixou sua marca na música gospel, gravando com artistas como Amara Barros e Marilyn Caroline. Em sua vasta discografia estão álbuns como “Do Jeito do Meu Coração” (1992), “Xameguinho – O Original” (2013) e “Só Xamego” (2011).
Entre suas parcerias, estão nomes como Mano Walter, Chambinho do Acordeon, Kara Véia, Mestre Zinho, Joseane de Josa, Tito do Gado, Banda Forró de Xodó, Zuza, Chau do Pife (com quem compôs "O Casamento do Pife") e até o multi-instrumentista Hermeto Pascoal.