No dia 3 deste mês, a alagoana Carolina Vallejo foi campeã pan-americana de jiu-jitsu sem kimono, em competição realizada em Dallas, no Texas (EUA). O Pan-americano é um dos quatro campeonatos que formam o Grand Slam, conjunto dos eventos mais importantes da IBJJF, Federação Internacional de Jiu-Jitsu Brasileiro.
Nascida em julho de 1995, em Maceió, Carolina é a filha do meio da dona Carmen, mais conhecida como Lela do Pontal, e do seu Silvio. Apesar de ter morado primeiro em Bebedouro, Carol cresceu e se criou no Pontal da Barra, onde a família reside.
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Crescendo no Pontal, a jovem Carolina teve uma infância feliz, brincando nas ruas do Pontal e pulando na lagoa. Inclusive, foi no bairro que ainda na infância ela aprendeu a fazer o Filé, patrimônio cultural alagoano. Durante seu crescimento, a agora atleta de jiu-jitsu teve outros direcionamentos em sua vida, começando a jogar handebol, enquanto estudava eletrônica no Instituto Federal de Alagoas, IFAL, e depois, cursando faculdade de Design, na Universidade Federal de Alagoas, UFAL.
Entre os 20 e 21 anos de idade, ao ir a uma aula experimental de jiu-jitsu, Carol pediu para treinar junto aos demais e se apaixonou pelo esporte. “Não me recordo de ao menos ouvir falar (de jiu-jitsu) até então. Pedi para entrar, mesmo sem kimono. Treinei de moletom! Desde então, nunca mais parei”, disse à Gazeta.
Após pouco mais de um mês de treinamento, ela começou a competir, foi para Olinda-PE disputar o Open Verão e, de cara, levou a prata. Em seguida, foi treinar na Dojjo, no bairro do Prado, onde conheceu o professor Antônio, ou Tonho, que se tornou o grande orientador do início de carreira, acompanhando-a para a sua primeira grande competição: o Mundial da CBJJE (Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu Esportivo), em São Paulo, em 2017, quando foi bronze.
Posteriormente a competição, Carol decidiu que o esporte seria a sua vida. Mesmo com a possibilidade de concluir o curso superior, decidiu seguir sua vida no esporte mesmo com a preocupação de seus pais, que tinham receio da troca entre faculdade e um esporte recém chegado na vida de sua filha não ser a escolha correta para o futuro.
Após isso, com o incentivo da amiga Danusa, Carol abriu uma vaquinha online para angariar fundos para sua 1ª competição internacional: o Europeu, em Portugal. Após participar do torneio, ela se arriscou em Londres, em uma aventura sem muito dinheiro mas com muita vontade de vencer.
Graças a amigos, conseguiu treinar na academia de Roger Gracie, uma das maiores lendas do jiu-jitsu mundial, e, mesmo sem internet no telefone e sem falar inglês, a cria do Pontal faturou dois títulos em solo britânico, o Grand Slam e o Nacional Inglês.
Ao retornar a Maceió, aos poucos a vida de atleta profissional foi ficando solidificada. Início de patrocínios, acompanhamento com nutricionista e um emprego o qual o salário ajudava a custear as competições. Porém, como todo atleta no Brasil, em 2019, o financeiro apertou e, para resolver seus problemas de fluxo no caixa, Carol vendeu água nos semáforos da entrada do Pontal para financiar seu sonho de competir.
O esforço de Carolina para manter seu sonho contagiou várias pessoas que apoiaram o projeto dela de disputar o Mundial Principal (IBJJF) e o Nacional Americano. Ainda em 2019, a alagoana disputou os torneios nos Estados Unidos, onde, a convite de uma academia local, acabou ficando.
Desde maio de 2019, Carolina mora em Los Angeles (Califórnia), onde conheceu Mateo Vallejo, faixa preta de jiu-jitsu, com quem casou em 2021 e vive junto até hoje.
Em 2023 Carol mudou para a AOJ, academia dos irmãos Mendes, conhecidos mundialmente pela qualidade técnica e resultados em competições.
Em agosto deste ano, o maior baque da vida da menina do Pontal aconteceu: a morte de sua mãe, dona Carmen. Sua grande referência e amiga não estava mais por perto.
“Minha mãe me ensinou tudo o que sou ou tento ser. Mainha foi a mulher mais corajosa que já conheci. Também lutou por tudo o que quis. Cresci acreditando que quem quer faz. Em 2023, quando descobri que ela estava doente meu senso de pressa só cresceu, eu queria que ela me visse campeã mundial”, disse.
O sonho de Carolina era que a mãe a visse sendo campeã à nível mundial. Apesar de não estar mais ao seu lado, ela conseguiu o grande feito. No início deste mês, Carol disputou o Pan-Americano, no Texas. O torneio é realizado no formato de “mata-mata” do início ao fim. Da primeira luta até a final quem perder é automaticamente eliminado. Mesmo já tendo disputado a competição, no momento de maior tristeza de sua vida, quis o destino que ela, como uma forte guerreira de Alagoas, que ela vencesse o torneio.
Ela venceu as três lutas em sua divisão sem sofrer nenhum ponto. O momento de seu título também ficou marcado pela emoção. Após a última vitória, Carol homenageou a falecida mãe. De onde a dona Lela estiver, com certeza está repleta de orgulho e alegria.
Para o futuro, alcançar um maior nível dentro do esporte sempre será o objetivo de Carolina Vallejo, com muita humildade e orgulho de ser quem é e de onde é.
“Quero levar o nome de Maceió e, mais precisamente, o Pontal da Barra, para o mundo. Conquistar tudo o que eu puder e construir meu nome no esporte e usar isso para empoderar outras mulheres e pessoas como eu, de cidade pequena, sem muito talento ou dinheiro, a acreditar e a se dedicar”, encerrou Carolina.