
Nos dias 28 e 29 de junho, às 21h, o palco do Teatro Homerinho será invadido por uma presença fulminante: Lulu, espetáculo teatral encabeçado por Silvie Leal, que também assina a tradução e adaptação do texto.
Inspirada nas peças A Caixa de Pandora e O Espírito da Terra, do alemão Frank Wedekind, a montagem do grupo alagoano Ozinformais celebra 25 anos de trajetória com uma releitura feroz, sensual e politizada de um clássico do século XIX.
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Dirigida por Carlos Alberto Barros, Lulu é muito mais que uma personagem: é símbolo de ruptura. “Lulu é a mulher do futuro, o poder feminino do presente e uma homenagem a todes travestis do passado”, define o diretor, que inseriu na encenação elementos da cultura Ballroom e do universo LGBTQIAPN+.

A peça, criada sem apoio financeiro e de forma completamente independente, é um ato de resistência. Com uma equipe diversa e plural, formada por artistas locais, Lulu levanta um grito contra a transfobia, o machismo, o patriarcado e todas as formas de castração social. “Até hoje existem controvérsias sobre o gênero teatral da peça. Talvez o público deva saber apenas o que não esperar: nada convencional”, avisa Silvie.
Na trama, todos — inclusive os poderosos — são vítimas de um sistema hipócrita. Lulu surge como catalisadora do colapso, desestabilizando estruturas, expondo silêncios e desejos reprimidos. “Ela vem para pôr em xeque as ‘verdades incontestáveis’”, diz a atriz.
Com estética provocadora, o espetáculo mistura drama, grotesco, burlesco e erotismo. A trilha sonora inclui o rap potente da alagoana Ariely, e a visualidade, marcada por luz e sombra, carrega influências de Bob Wilson e do diretor Lael Correa. A proposta é cutucar, provocar e deixar marcas. “Cabe aos artistas o trabalho ingrato de lançar luz nas trevas, incomodar, cutucar as feridas. Não dá para fingir que nada está acontecendo”, afirma Silvie.
Lulu é um manifesto cênico que reverbera desejo, dor, denúncia e liberdade — tudo encenado com o corpo, a voz e a coragem de quem acredita no teatro como trincheira.
No elenco, além de Silvie Leal, há nomes conhecidos da cena cultural de Alagoas: Flora Uchôa, Matheus Marin, Paulo Moura, Alexandre Ferrari, Lucca Bargmann, Brunno Afonso e Diogo Oliveira.
A trilha sonora é assinada por Pedro Salvador; a coreografia é de Marcos Topete; preparação corporal de Jal Oliveira; e os figurinos são de Joicy Rocha e Nanny Moreno.