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João das Alagoas e a arte de contar histórias por meio do barro

Mestre das esculturas quer transformar Capela, no interior do Estado, em celeiro de artistas e fala da importância da cidade natal em suas criações

O galo que canta inaugurando a manhã, os anônimos que partem para a lida assim que o primeiro raio de sol rasga o céu, o tropel dos cavalos na estradinha de barro, os pés que levantam poeira quando o coco de roda dança, uma poesia bem feita, os forrós e trupés do Guerreiro. São esse recortes e particularidades da vida interiorana — dos quais os costumes modernos não têm dó, mas que resistem — que inspiram João Carlos da Silva, o João das Alagoas, que ganha a vida contando histórias no barro.

Aos 65 anos, o artista de Capela, na Zona da Mata de Alagoas, se dedica, há mais de 20 anos, exclusivamente à arte. Antes disso, era peão, mas diz que passava a semana pensando em folguedos, também trabalhou como arrumador de prateleiras em supermercados, embalador de grãos e varredor de chão. De cada ocupação, afirma, trouxe substância e força para pegar pesado, também, no fazer artístico.

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Hoje, João das Alagoas acorda por volta das 6h, toma seu café, sai de casa sem pressa, contempla a rua, fala com os amigos e chega ao seu precioso ateliê, na mesma cidadezinha na qual nasceu, cresceu e formou sua família. De acordo com João, que é reconhecido como Patrimônio Vivo de Alagoas e um dos mais reverenciados escultores do Brasil, a arte lhe deu a oportunidade de continuar sua observação atenta da vida, das belezas, das coisas simples e valiosas que desafiam a moenda do tempo.


			
				João das Alagoas e a arte de contar histórias por meio do barro
Ailton Cruz

“Eu vivo assim, totalmente para a minha arte. De vez em quando paro, olho o celular, olho o esporte, que eu também gosto. Aliás, olho tudo, política, esporte, tudo”, conta João. “Mas minha vida é, de domingo a domingo, neste ateliê. Meio-dia saio pra almoçar e volto uma hora depois. Tudo isso pra dar conta das encomendas”.

Quem cuida das muitas encomendas e da relação com os clientes é uma das filhas do artista. A família toda, aliás, participa dos processos ligados ao ofício do mestre, cuidam da organização da agenda, do ateliê, e até arriscam suas próprias esculturas. Algumas delas até evidenciam que o talento está no sangue.

Após o nome e a arte de João das Alagoas rodarem o mundo, pedidos de novas obras não param de chegar. Pouco antes de conversar com a reportagem, o artista havia fechado encomendas para trabalhar até o final deste ano. “Alguns artistas reclamam, mas a gente, aqui, principalmente eu e a Sil [artesã capelense que já foi aprendiz de João], estamos passando da conta de tanta encomenda”, comemora.

"Quero saber tudo sobre o barro"


			
				João das Alagoas e a arte de contar histórias por meio do barro
Ailton Cruz

João das Alagoas recorda que, na infância, já fazia esculturas de bois e de outros elementos e personagens do cotidiano capelense. Depois, já adulto, começou a fazer pinturas. Em 1987, quando expôs seus quadros na cidade de Campinas, em São Paulo, o artista alagoano, que assinava como João Maravilha, ganhou notoriedade quase instantânea. Foi o curador dessa exposição quem sugeriu mudar o nome do artista, que desde então assina como João das Alagoas.

“Eu gosto demais de Capela, gosto muito. Nasci aqui e nunca saí”, afirma João, ao ser perguntado sobre sua relação com a cidade. “Eu tenho vontade, por conta dos filhos, de ter uma residência em Maceió. Quando eu ficar mais velho, quero me dedicar mais a ler, aprender mais sobre arte, estudar, até para passar para os outros e para os filhos. Produzindo menos, mas sempre produzindo”, revela.

As esculturas em relevo do ceramista tem minúcias que impressionam de colecionadores ao público em geral. Não há quem não se encante com os personagens minúsculos e repletos de detalhes ou os bois-bumbás gigantes enriquecidos com histórias.


			
				João das Alagoas e a arte de contar histórias por meio do barro
Ailton Cruz

A inspiração para criar essas e outras figuras vem também dos cenários e causos nordestinos, mesmo carregando referências de nomes como Van Gogh, Portinari, Di Cavalcanti e, principalmente, o pernambucano Mestre Verdelinho.

“Mas o que me inspira é o meu povo. Sempre foi o meu Estado, a vida das pessoas daqui e tudo o que elas fazem. O trabalho e a dança. Eu me inspiro muito no pessoal do interior, no cortador de cana, que trabalha a semana toda e no final de semana vai dançar o guerreiro, brincar de coco. É por aí. Vou tirando esses detalhes e fazendo arte. Alagoas é tanta coisa, muitos estados são, mas aqui é onde eu vivo. Eu vejo as praias, vejo os trabalhadores, que trabalham e dançam, e isso me inspira demais”, diz o mestre.

“Antigamente, eu via artistas pintando telas, principalmente os artistas populares, os primitivos, pareciam gibis, com tantas histórias em uma só tela. Hoje, eu me inspiro em tudo isso. Nos meus bois, são quatro lados. E em cada lado eu conto uma história diferente”, continua.


			
				João das Alagoas e a arte de contar histórias por meio do barro
Ailton Cruz

Em Capela, João ensinou sua arte aos artesãos Sil de Capela, Nena, Arcanjo e outros moradores da cidadezinha. Atualmente, cada um deles trilha seu próprio caminho, o que deixa o mestre ainda mais satisfeito. Até porque, atualmente, ele está focado em desvendar todas as nuances da sua matéria-prima.

“Eu busco muito compartilhar com as pessoas. Quando o pessoal chega aqui, eu tento mostrar e falar mais do barro do que de mim. Porque assim, a gente trabalha com essa matéria-prima a tantos anos e não conhece muito bem. De uns tempos pra cá, eu tô fazendo o meu máximo pra fazer testes, fiz um minilaboratório aqui no ateliê. Eu tô tentando aprender mais e passar para os outros. Não é só fazer a peça, é saber tudo sobre a matéria com a qual a gente trabalha, até pra ir além”, afirma.

"Eu quero que esse barro que a gente trabalha aqui seja compatível com a beleza das peças e das histórias que a gente conta e tá vendendo, né? Tem que saber a qualidade do barro, estudar, saber qual estoura, quando vai rachar, queimar. Vou aprendendo e passando. Quero que aprendam comigo, mas que evoluam, trabalhem à sua maneira. A minha maneira, particularmente, tá dando certo”.


			
				João das Alagoas e a arte de contar histórias por meio do barro
Ailton Cruz

Ao ser perguntado se tem ciência do impacto da sua arte e do desejo que suas peças despertam, o mestre diz que pensa no assunto, mas não chega a uma conclusão.

“Quem gosta de me fazer essa pergunta, ou melhor, me falar que eu sou importante, é a Sil. Eu não sei bem dizer o que é isso. Eu vivo de arte, é uma coisa que eu nem imaginava poder viver. Eu penso nisso, às vezes penso. Mas eu sou muito grato por tudo que a arte me deu. E mais grato ainda porque essas pessoas chegam aqui e dizem: eu não sabia que existia essa cidade, mas eu vim por sua causa. O pessoal chega aqui, compra tudo, pede mais. Você falou que eu tinha que saber da importância que eu tenho, mas só bate a ficha quando eu ouço isso, que a pessoa veio até aqui por conta de mim. Aí bate uma felicidade porque eu tô divulgando o nome da minha cidade. Sinto que isso é a coisa mais importante pra mim, a minha cidade. É a minha história. Nasci, cresci, é onde moram os meus amigos, Capela é a minha vida”, conta.

“Se eu paro pra pensar na vida, desde pequeno até aqui, quando uma música, às vezes, faz aparecer aquelas imagens na mente, de um determinado tempo, são as imagens de Capela que vem na minha mente. Então, Capela é o que eu sou”, diz João.


			
				João das Alagoas e a arte de contar histórias por meio do barro
Ailton Cruz

A noitinha vem chegando e João das Alagoas ainda faz mágica com barro em seu ateliê. Perto de encerrar o dia, o mestre revela o que seu maior desejo é transformar capela em um celeiro de grandes artistas do barro, matéria-prima abundante e de qualidade comprovada na região.

“As pessoas me perguntam muito o que eu quero realizar”, diz o mestre. “Outro dia, eu tinha uma resposta bem bacana pra dar, mas agora eu não lembro muito bem. Mas eu ia dizer algo como fazer uma peça que eu nunca fiz antes. Mas não é isso “, afirma.

“Eu nunca vou deixar de me desafiar na arte, de querer fazer alguma coisa diferente. O que eu quero mais do que isso é o que meu redor cresça. Eu vou batalhar muito para que aqui seja como um Alto do Moura, uma Ilha do Ferro. Acredito que é isso, eu não quero que esse projeto aqui se acabe quando eu morrer. Eu quero que isso fique, como o Mestre Verdelinho fez em Caruaru, que se perpetue em outras pessoas”, finaliza João das Alagoas.

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