
O grupo teatral Camboio de Doido, da cidade de Taquarana, no interior de Alagoas, tem sido celebrado nas últimas semanas. Em junho, com o espetáculo infantil Sonho, a companhia conquistou sete prêmios no 17º Festival Nacional de Teatro de São João Nepomuceno, em Minas Gerais. Já em maio, levou seis troféus com O fim do mundo no 2º Festival Nacional de Teatro de Bayeux, na Paraíba.
O sucesso de crítica e público, no entanto, contrasta com a realidade enfrentada pelo grupo em seu estado de origem. Apesar do reconhecimento nacional, os artistas lamentam a escassez de políticas públicas efetivas que garantam a circulação e manutenção de espetáculos em Alagoas.
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“Do mesmo jeito que as pessoas fora do estado engrandecem nosso trabalho, elogiam nosso trabalho, dentro do estado a gente não consegue viver a mesma coisa. A gente não tem lugares para que o nosso espetáculo possa continuar acontecendo. Quando eu digo de lugares, estou falando de políticas públicas efetivas para que isso aconteça”, afirma o ator e diretor Ígor Rozza.
Escrito e dirigido por Rozza, Sonho trata da passagem da adolescência para a vida adulta, explorando os desafios desse momento com sensibilidade e lirismo. A montagem foi premiada como Melhor Espetáculo Infantil, Melhor Direção, Melhor Ator e Atriz Protagonistas, Melhor Trilha Sonora, Prêmio Júri Mirim e Destaque Geral do Festival, além de indicações a Melhor Figurino e Melhor Maquiagem. A peça é encenada por Ígor Rozza e Rackel Vieira, com trilha sonora executada ao vivo por David Lins e Luís Miguel. A iluminação é de David Oliveira, com maquiagem de João Vitor Muniz e figurinos de Bárbara Maria.

Em Bayeux, o grupo se destacou com o espetáculo O fim do mundo, monólogo distópico protagonizado por Rozza, com direção de Iriwelton Caetano. A produção venceu nas categorias Melhor Espetáculo, Direção, Ator, Iluminação, Sonoplastia e Cenografia.
A trajetória da companhia também é marcada por episódios de superação. Durante a viagem a Minas Gerais, a mala que continha todos os figurinos de Sonho foi extraviada. Com apoio da organização do festival e da costureira Dona Jane, mãe de um dos participantes do evento, os figurinos foram refeitos em tempo recorde, permitindo a apresentação da peça e a subsequente consagração.
Fundado em 2006, o Camboio de Doido é hoje uma referência no teatro independente alagoano, com montagens autorais voltadas à cultura nordestina, às infâncias e a temas sociais urgentes. Apesar disso, os integrantes apontam a fragilidade dos mecanismos de fomento e a curta duração dos projetos aprovados por editais locais.
“Vários espetáculos foram premiados na Lei Paulo Gustavo, na PNAB, aqui em Alagoas, mas muitos duraram uma, duas apresentações e morreram. Não há manutenção de espetáculos, não há a vontade de que eles continuem. Isso tudo com o dinheiro público. E a gente vem aí lutando com espetáculos que já duram dez anos”, desabafa Rozza.