
Cientistas anunciaram nesta quarta-feira (2) que conseguiram fotografar pela primeira vez os restos de uma estrela que explodiu duas vezes antes de ser completamente destruída.
A descoberta confirma uma teoria que os pesquisadores tinham há anos, mas nunca conseguiram comprovar visualmente (veja ACIMA).
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O achado foi feito por meio do Very Large Telescope, um dos maiores telescópios do mundo, localizado no Chile e operado pelo Observatório Europeu do Sul. Os resultados foram publicados na revista científica Nature Astronomy.
🌌ENTENDA: A estrela estudada pelos cientistas era uma "anã branca", um tipo de astro pequeno que sobra quando estrelas parecidas com o Sol queimam todo seu combustível e "aposentam". Essas estrelas mortas podem voltar à vida de forma explosiva quando roubam material de outras estrelas próximas.
"As explosões de anãs brancas desempenham um papel crucial na astronomia", explica Priyam Das, estudante de doutorado na Austrália que liderou a pesquisa.
Das conta que elas nos ajudam a entender como o Universo está se expandindo e também são responsáveis por criar o ferro que existe no nosso planeta, incluindo o ferro do nosso sangue.
Por isso, desvendar o funcionamento dessas explosões é fundamental para a astronomia e para entender a origem dos elementos que compõem nosso planeta, e, consequentemente, a própria vida na Terra.
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Como aconteceu a dupla explosão
Segundo os cientistas, a anã branca orbitava muito próxima de outra estrela e, aos poucos, captava material dela. Com isso, esse material acabava formando uma camada ao redor da estrela morta.
Em um certo ponto, essa camada tornou-se instável e explodiu primeiro. A explosão gerou uma onda de choque que percorreu a estrela e desencadeou uma segunda detonação, ainda mais intensa, no centro da anã branca. E foi justamente essa segunda explosão que levou à destruição completa da estrela.
Ivo Seitenzahl, um dos pesquisadores que lideraram as observações e que, na época, trabalhava no Instituto de Estudos Teóricos de Heidelberg, na Alemanha, conta que, até então, tudo isso não passava de uma hipótese.
“[Mas agora temos] uma indicação clara de que as anãs brancas podem explodir muito antes de atingirem o famoso limite de massa de Chandrasekhar [o ponto em que a estrela colapsaria sob o próprio peso], e que o mecanismo de ‘dupla detonação’ ocorre de fato na natureza", celebra Seitenzahl.

Para chegar nesse achado, a pesquisa analisou os restos de uma supernova chamada SNR 0509-67.5, que explodiu há centenas de anos.
Usando equipamentos especiais, os cientistas conseguiram identificar duas camadas separadas de cálcio nos destroços, a "impressão digital" que prova que houve duas explosões.
As explosões de anãs brancas, chamadas de "supernovas Tipo Ia", são como faróis cósmicos para os astrônomos. Elas sempre brilham com a mesma intensidade, o que permite aos cientistas calcular distâncias no espaço.
E foi usando esse tipo de supernova que pesquisadores descobriram que o Universo está se expandindo cada vez mais rápido, uma descoberta que rendeu o Prêmio Nobel de Física em 2011.
Por isso, agora os pesquisadores esperam agora aprofundar o estudo sobre como esses objetos explodem. E entender melhor esse processo vai ajudar a explicar por que o brilho dessas supernovas é tão previsível, uma informação fundamental para medir o cosmos com mais precisão.
"E esta evidência tangível de uma dupla detonação não só contribui para a resolução de um mistério de longa data, mas também oferece um espetáculo visual", acrescenta Das.