O cenário de abastecimento energético no Brasil tem sido permeado por fatores negativos nas últimas semanas. A seca avança, os reservatórios das hidrelétricas estão em baixa e um apagão deixou dois estados sem energia ao mesmo tempo no fim de agosto. Diante dessa situação, o Ministério de Minas e Energia (MME) diz estar atento à situação, afirma não haver risco de desabastecimento ou racionamento e que tenta reforçar o abastecimento.
Sobre a situação, o MME não afirma que há risco de desabastecimento, racionamento ou apagão em 2024 e 2025. A pasta explicou apenas que, com as ondas de calor, e, eventualmente, uma geração menor das usinas eólicas, as fontes de energia imediata, como as termelétricas, terão de ser mais demandadas.
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O ministério também informou que está “atento às condições de atendimento nos próximos meses” e segue reforçando o sistema de geração. “(O MME recomendou) à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a antecipação da Usina Termelétrica (UTE)Pernambuco, inicialmente contratada para iniciar o suprimento em julho de 2026, para se tornar recurso disponível nos próximos meses”, respondeu, em nota.
Com a piora no cenário hidrológico, o Operador Nacional do Sistema (ONS) apresentou, na última quarta-feira (4), medidas para a “manutenção da garantia de atendimento”. Entre as propostas estão o acionamento de duas termelétricas e a entrada em operação de cinco linhas de transmissão. O ONS também recomendou, no fim de agosto, o acionamento, a partir de outubro, das usinas termelétricas.
Como as termelétricas têm uma operação mais cara, a Aneel determinou a aplicação da bandeira vermelha patamar 1 em setembro. Com isso, haverá acréscimo de R$ 4,463 a cada 100 quilowatt-hora consumidos.
Segundo dados do ONS, no último ano, os principais reservatórios de energia do Brasil registraram queda no nível de água. As hidrelétricas são dividas em quatro subsistemas: Norte, Nordeste, Sudeste/Centro-Oeste e Sul.
O subsistema que teve a queda mais abrupta foi o Sudeste/Centro-Oeste, que, comparando dados de agosto de 2023 e 2024, teve diminuição do nível de água em 23 pontos porcentuais (p.p.). Maior do país, ele atende a oito estados. Os subsistemas do Sul e Nordeste também apresentaram queda acentuada, 18 p.p. e 17 p.p., respectivamente. O Norte teve a menor queda, de apenas 2 p.p.
Diretora do Sindicato dos Engenheiros no Distrito Federal (Senge-DF), Fabyola Resende analisou documentos oficiais, como o Plano Decenal de Expansão de Energia 2034 (PDE 2034). “Não há previsão de risco imediato de desabastecimento, racionamento ou apagão relacionado à redução nos níveis dos reservatórios das hidrelétricas”, resumiu.
Resende embasa a avaliação no fato de que há um monitoramento contínuo e mecanismos de solução, como as hidrelétricas. Mas faz uma ressalva. “A situação exige monitoramento contínuo para garantir que medidas adicionais sejam implementadas, caso necessário, visando manter a segurança do abastecimento energético”, afirma a profissional, que também é mestranda em Energia pela Universidade Nacional de Brasília (UnB).
Relatório da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) aponta a necessidade de ampliação da potência a partir de 2027. “Considerando o tempo necessário para a implementação dessas soluções, o início imediato dessas providências é essencial”, pontua.
Seca
O último período de chuvas foi abaixo da média em boa parte do Brasil, por causa, principalmente, do El Niño. O boletim de seca do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) relativo a agosto considera que 3.978 mil cidades brasileiras apresentaram algum nível de seca. No país, o total de municípios é de 5.570.
Na análise do Cemaden, o Distrito Federal e mais 16 estados passam pela pior seca em 44 anos no Brasil. Os mais afetados são: Amazonas, Acre, Rondônia, Mato Grosso, Pará, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Piauí, Maranhão e Tocantins.