Três dias antes da aguardada assembleia geral dos policiais civis de Alagoas, que ocorreu na última segunda-feira de janeiro, no Clube de Engenharia, o governador Renan Filho concedeu a si férias de quinze dias e saiu à francesa do Estado. Se não fosse uma diminuta mensagem de duas linhas, veiculada pelo twitter, apenas os áulicos saberiam da escapada.
Na manhã do dia da assembleia da categoria, um discreto termo de transmissão de cargo, só descoberto por atentos leitores de atos governamentais, foi inserido no Diário Oficial. Era o vice-governador repassando o exercício temporário do mais alto cargo do Estado ao presidente do Poder Legislativo, deputado Marcelo Victor.
Leia também
Com a dupla ausente do Estado, a interinidade de Marcelo Victor iniciou sob a expectativa do desfecho da assembleia dos policiais civis, dispostos a decretarem greve, como já haviam anunciado. Após seguidos anos, exaustivas tentativas de diálogo e rejeição ao atendimento de reivindicações da categoria, uma sinalização de última hora, da área da Seplag do governo, adiou o início do movimento paredista, que ainda pode eclodir antes do carnaval.
Não resta dúvida de que o tratamento é desrespeitoso, refletindo na qualidade do serviço que o governo deve prestar à sociedade. Se o quadro é de desestruturação, como comprova o Sindpol, as consequências recaem no cidadão, que paga a conta. Afinal, são mais de 15 mil inquéritos parados pelas delegacias. E ainda há o colapso da área de perícia criminal, já denunciado.
Adiado o desfecho da crise com os policiais civis, a interinidade governamental se deparou com algo assombroso. Em tom de desespero e cansado de clamar por providência, um cirurgião gravou áudio e causou indignação geral. Ele denunciou alto risco de morte no centro cirúrgico do HGE pela falta - vejam só! - de ar condicionado. Passaram-se duas semanas intermináveis, com pacientes sendo operados em condições insalubres, até que o governo, frente à denúncia do cirurgião, resolveu sair do canto e consertar o aparelho.
O governador tirou férias sabendo da situação e das providências que já deveria ter adotado de pronto. Preferiu viajar e repassar o comando do Executivo a Victor num momento em que áreas de profunda sensibilidade social denunciam o descaso e pedem socorro. Com tanto abacaxi para descascar, a jogada palaciana foi um tanto arriscada.
Se a intenção era um gesto de concórdia com o Parlamento e seu líder, ficou mesmo com jeito de "presente de grego". Só não colou no governo temporário, porque Victor tocou a agenda para frente, checando informações, despachando com secretários, recebendo gestores municipais, ouvindo a classe política e até indo à UFAL para prestigiar o novo reitor da instituição.