Com pompa e circunstância. Foi assim a apresentação oficial de Levir Culpi na tarde desta segunda-feira, no salão nobre das Laranjeiras. O novo técnico tricolor, que assinou contrato com o Fluminense até o fim do ano, chegou cedo ao clube e conversou com a comissão técnica antes de falar com a imprensa. Em seguida, vestiu a roupa de treino e iniciou o trabalho comandando sua primeira atividade à frente do time carioca.
Durante sua apresentação, ao lado do presidente Peter Siemsen e do diretor de futebol Jorge Macedo, Levir mostrou sinceridade, bom humor e otimismo.
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- Com a qualidade do elenco, podemos chegar ao primeiro lugar - afirmou.
As primeiras palavras foram escolhidas para explicar por que não abre mão da espontaneidade nas entrevistas coletivas.
- Boa tarde a todos. É um prazer estar aqui, quero agradecer a oportunidade. Vocês sabem que eu gosto de brincar. As entrevistas ficaram muito chatas. Por vezes, não me conformo com algumas perguntas e falo algumas bobagens. Espero que me entendam. Sou sincero, uma qualidade maldita. Mas falo a verdade. É a maneira que encontrei após passar pelo Japão. Fluminense dispensa comentários - disse.
Nesse domingo, Levir Culpi assistiu de um camarote no estádio Los Larios à vitória do Fluminense por 1 a 0 sobre o America. O treinador que recebeu o bastão do interino Marcão e assumiu o lugar deixado por Eduardo Baptista não terá muito tempo para conhecer os jogadores. O primeiro adversário na Taça Guanabara será o Botafogo, justamente o único time que Levir dirigiu no Rio de Janeiro, em 2003. Antes do duelo com o Alvinegro, no entanto, o Tricolor decide seu futuro na Primeira Liga. Quinta-feira, provavelmente em Juiz de Fora, o time enfrenta o Criciúma na última rodada da fase de grupos. E Marcão recebeu elogios de seu sucessor.
- O que eu mais gostei ontem (domingo) foi o Marcão, que não jogou. Fez as trocas corretas. Preservou Pierre, que tinha cartão. Fez time ofensivo. O potencial do Fluminense é o mesmo dos outros times do primeiro nível do Brasil. O problema do Fluminense é o mesmo dos outros times do Brasil: não tem time. O Barcelona tem um time que todo mundo sabe. Uma escalação que todo mundo sabe.
Confira outros tópicos abordados por Levir:
Reencontro com Fred
Já falei com ele, tivemos oportunidade de trabalhar no Cruzeiro. Realmente diferenciado, dispensa comentários. Espero que se reencontre. Começa a trabalhar hoje (segunda-feira). Fiquei sabendo que gosta de ir direto para o jogo. Em breve estará em campo..
Bom humor impera, mas dias ruins também acontecem
Mas às vezes fico mal-humorado. Ninguém tem só alegria, tem dias ruins. É aí que se conhece as pessoas. Quero sair daqui com muitos amigos e com uma boa imagem, especialmente de relacionamento. Os seres humanos são parecidos.
Retorno ao futebol carioca
Usando a franqueza, vejo o futebol carioca parecido com o futebol brasileiro em geral. Estava pensando... o futebol brasileiro é uma bagunça desorganizada, muita bagunça. Ferj briga com os clubes. Estamos distantes do Inglês, por exemplo. Não é futebol apenas é, tudo o que envolve. Brasil caminha assim. Procuramos soluções.
"Futebol brasileiro péssimo"
Futebol brasileiro é péssimo, assim como a política. Precisamos de novas lideranças. Temos que sobreviver, fazer o que acreditamos. Aqui vamos tentar fazer um trabalho que dê orgulho para os torcedores e jogadores. Há muita coisa para se fazer. Espero que o futebol caia em boas mãos, assim como o governo.
Busca por título e "viagem" na sede tricolor
Seria ótimo ser campeão aqui, é um objetivo. O Rio dispensa comentários. Os clubes têm tradição. Estar na sede do Fluminense é fazer uma viagem. Estilo colonial. Quero ser campeão aqui, é um objetivo legal. Todos têm de pensar da mesma maneira.
Enfrentar o Botafogo (no domingo) o incomoda
Nunca é bom. Não gosto de jogar contra os clubes que passei, porque costumo deixar amigos. Meio constrangedor. Não me sinto muito feliz. Mas faz parte da profissão. A ideia é vencer.
Primeira semana de trabalho
Como trabalho, sinceramente, muito pouco. Estava muito calor no domingo, gramado alto. Vamos jogar na quinta e no domingo. O que fazer? Olhando de fora... Vamos nos apoiar no Marcão, ele fez o time funcionar. Temos um problema na escalação. Terei de consultar médicos e fisiologistas para ver. Mudou a comissão, vai mudar a forma de trabalhar.
Foco no primeiro lugar
Não sei exatamente onde podemos chegar. Mas com a qualidade do elenco podemos chegar ao primeiro lugar.
Expectativa de trabalho a longo prazo
Vai ficar acoplado aos resultados. Tem a parte extracampo. A minha realidade é a brasileira. Ganhou está bom, perdeu está ruim, tem que mexer. É mais ou menos assim. Temos que procurar os resultados. Estou com isso na cabeça. Infelizmente a coisa funciona deste jeito. Vou fazer o que eu acho que tenho que fazer.
Ausência do Maracanã
Quando eu falei que o futebol brasileiro é uma bagunça desorganizada... é o que eu digo. É esquisito. Até esqueci da pergunta que me fez. Claro que me preocupa. Não tem como escapar disso. Tem de se adaptar. É um agravante à campanha. Onde vamos jogar? Tem a logística... é ônibus ou avião? Estamos aqui para solucionar isso.
Mudou muito após deixar o Atlético-MG?
Não senti se mudei algo. Demorei para desacelerar. Enveredei para o lado das palestras, que é o mercado que está dando mais dinheiro atualmente (risos). Mas trabalhar com futebol é melhor. Passou muito rápido.
Necessidade de reforços para o Fluminense?
Por vezes, com criatividade, conseguimos solucionar problemas financeiros. O Fluminense tem uma ótima categoria de base, uma das melhores do Brasil. Posso observar. Vamos pensar isso com carinho. Fica em aberto. Se aparecer algo bom, se faz. Assim como pode sair algum jogador. Especialmente pelos empresários. Sempre quer colocar alguém, tirar alguém.
É possível o Fluminense ganhar a cara de Levir rapidamente?
Imediatamente, não. Fluminense tem uma escola de cadenciar, toque de bola. No Atlético, está no DNA a velocidade. Nós temos que acompanhar a evolução do futebol. Com a mudança na dimensão dos campos, automaticamente o jogo fica mais rápido. O Barcelona tem posse de bola e velocidade no ataque. Mas isso é coisa de ajustar o elenco.
Time na ponta da língua do torcedor
O torcedor tem que saber a escalação do time. São poucos os times que têm a escalação pronta. Não existe tempo, continuidade. O técnico está chegando agora, até trabalhar em harmonia, tem um tempo. Vamos em busca das primeiras posições.
Planejamento especial para jovens?
Não tenho exatamente um plano a eles. Se eu chegar aqui e sentir que um menino de 18 anos tem qualidade, vai jogar. Não tem essa de que se é do júnior... Futebol não tem idade, tem produtividade.
Uso da tecnologia no futebol
Acho que vamos continuar sofrendo com erros, assim como os presidentes sofrem com os erros de técnico, e os torcedores com erros de time. Mas a tecnologia pode oferecer mais segurança. No tênis, é legal. Temos que adaptar os custos, porque é caríssimo. Mas seria o mais justo. Sou a favor, desde que não quebre muito o ritmo do jogo. Um ou dois pedidos por tempo, por exemplo. Temos que dar a chance ao árbitro de errar menos. Acho válido.
Pierre, barrado por você no Atlético, perde espaço?
Não é automático, é temporário. Agora é outro tempo. Agora estamos no Fluminense. A parte tática...tudo é envolvido. O Pierre me deixou impressão boa. Teve problema de família. Assassinaram o irmão dele. Ele foi ao enterro e voltou para jogar. Coloquei ele como capitão naquele jogo. Profissionalismo que tem que ser respeitado. Ele vai ser tratado como os outros. Queremos ver o time jogar bem. Se for um menino de 17, vai. Mas o relacionamento atleta/técnico é tranquilo.
Conhece o elenco?
Não existe uma receita. Às vezes o jogador que menos se espera, é o que tem o melhor aproveitamento. Isso que é a graça do futebol. Venho preparado par tudo, só tenho certeza de que não sei o que vai acontecer.