Antes do início do verão de 2020, a Gazeta efetuou uma radiografia do sistema de abastecimento d’água de Maceió. A preocupação jornalística era procedente, porque a nossa capital já vinha registrando a escalada dos problemas e aflições enfrentados pela população, com mais gravidade ainda na alta estação e nos bairros periféricos.
Mesmo a cidade sendo privilegiada pelas águas de superfície, existentes em seu entorno, é recorrente a falta desse bem essencial à vida. A principal causa está na lamentável política de governo, geradora da chaga das obras inacabadas, que pune duplamente o contribuinte: pela deficiência do serviço e pelo prejuízo causado ao erário.
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É o caso do projeto Pratagy, que há décadas vem sendo apresentado como a grande solução para o abastecimento d’água. O empreendimento começou em 1984 e até hoje não foi concluído. Quanto à Estação de Tratamento de Água Catolé-Cardoso, há alguns aspectos a serem examinados.
A bacia do ribeirão Catolé tornou-se pioneira como solução para o abastecimento de Maceió, na década de 1940. A viabilização ocorreu pela parceria entre o Estado e o industrial pernambucano do ramo de fiação e tecelagem, Othon Bezerra de Mello, então proprietário de extensa faixa territorial no traçado do aqueduto projetado, na região de Fernão Velho.
Inaugurado em dezembro de 1950, o pleno funcionamento do aqueduto do Catolé chegou a ser estimado até 2005. O que não se contava no curso de todo esse tempo era com o desleixo governamental, com a falta da permanente e adequada manutenção e modernização do equipamento, como vem ocorrendo especialmente nos últimos anos. Muito menos com a tragédia produzida pela extração de sal em área urbana de Maceió, que, entre tantos e graves problemas criados na vida dos maceioenses, também comprometeu a ETA Catolé-Cardoso.
O “novo” aqueduto do Catolé virou mais uma das obras inacabadas do governo Renan Filho. O serviço começou há mais de dez anos e já se transformou num escândalo que precisa ser investigado, em razão dos prejuízos causados aos cofres públicos.
Enquanto o velho aqueduto do Catolé, construído na metade do século passado, vaza como peneira, a construção do novo ficou pelo meio do caminho, com tubulações enterradas que não chegam a lugar nenhum.
Ou melhor, as tubulações chegam até certa parte da Vila Goiabeira. É uma obra sem fim, em que o bolso do contribuinte entra pelo cano. Se a atual ETA do Cardoso, em Bebedouro, está comprometida pelas rachaduras e provavelmente será realocada, então como ficam os tubos e os demais investimentos enterrados na obra, que já deveria ter se transformado no novo aqueduto? Eis um questionamento que bem poderia compor uma investigação pelos órgãos fiscalizadores.