
Roberta Monique da Silva Santos e Elton Alves de Barros são casados. Eles tinham 10 anos de experiência no preparo de sushi quando, em 2020, o patrão de Elton precisou fechar o food truck. Sem recursos, o dono negociou com o casal a transferência do negócio.
“A gente morava de aluguel e só tinha uma moto 125 cilindradas. Hoje temos nosso carro e, no ano passado, saímos do aluguel e compramos nossa casa própria"
Formada em Administração, ela afirma: “Pude colocar o conhecimento em prática”.
Leia também
O food truck mudou de nome para Goku Sushi e fez tanto sucesso que, formalizado, passou de microempreendedor individual (MEI) para microempresa (ME). Atualmente, emprega sete pessoas, entre sushiman, auxiliar de cozinha, atendente, entregador, social media e contador.
O empreendimento integra o Na Rua Food Park, na Serraria, onde funcionam outros 11 food trucks. Entre os clientes fiéis está a psicóloga Priscila Seixas, que costuma fazer pedidos com a família. “Antigamente íamos até duas vezes por semana. Hoje, pedimos mais por delivery, por causa da rotina com o bebê. Somos clientes tanto pelo ambiente quanto pela variedade de opções, além da qualidade da comida e do atendimento diferenciado”, destaca. Ela também divulga o sushi nas redes sociais.
Dentro de veículos adaptados, que funcionam como cozinhas móveis e restaurantes, os food trucks vendem alimentos de forma itinerante ou em pontos fixos. Apesar de o segmento não ser regulamentado em Maceió — após a revogação da Lei nº 6.633/2017 em 2022 —, os proprietários buscam formalizar suas atividades, como fizeram Roberta e Elton, registrando-se em categorias como restaurante, lanchonete, serviço ambulante ou cantina.
Sem dados oficiais, não é possível mensurar o número de empreendedores no setor. No entanto, considerando as atividades correlatas, a reportagem analisou dados da Junta Comercial de Alagoas (Juceal) sobre novos empreendedores na capital entre 2020 e 2024. Dos 4.797 registros nos 20 bairros com maior número de cadastros, 3.385 são da parte alta, o que representa 70%.

Entre esses bairros está a Serraria, onde fica o Goku Sushi, e a Cidade Universitária, onde Kauê Peixoto também atua com food truck, mas vendendo hot dog prensado. Microempreendedor individual, ele escolheu a praça do Conjunto Jardim Royal para abrir o Chapadog, que é a principal fonte de renda da família, que neste ano vai ganhar mais um integrante, seu filho.
“Em 2019, eu estava na Europa e decidi voltar para abrir algo próprio. Como morei no Rio de Janeiro, conheci o hot dog prensado, que foi a inspiração. E como vivi 30 anos no bairro, resolvi investir aqui mesmo”, afirma Kauê, que já trabalhou como fotógrafo. “Hoje vivo disso e não me arrependo.”
O economista Jarpa Aramis avalia que as iniciativas, especialmente na parte alta da cidade, aquecem a economia local. “Há geração de renda, emprego, descentralização do consumo, formalização parcial e inclusão produtiva, estímulo ao empreendedorismo — especialmente entre jovens — e dinamismo da cadeia produtiva local”, ressalta. “Além disso, cria um ambiente de entretenimento que promove lazer”, acrescenta.
A analista do Sebrae Alagoas, Vânia Britto, defende que a regulamentação seria benéfica para os próprios empreendedores. “É essencial para o crescimento sustentável. Enquanto isso não ocorre, é fundamental que atuem dentro da legalidade e busquem alternativas para manter seus negócios”, recomenda.
Ela também aponta outros desafios da ausência de normas. “Sem regulamentação, os empreendedores enfrentam insegurança jurídica, risco de autuações e dificuldades para obter alvarás e licenças. Isso também afeta a competitividade do setor, já que não há critérios definidos para distribuição de pontos comerciais e convivência com estabelecimentos fixos”, explicou.
Sem alvarás
A Secretaria Municipal de Segurança Cidadã (Semsc) informou que, desde 2022, não estão sendo emitidos novos alvarás de funcionamento para food trucks. “Atualmente está em andamento um trabalho técnico conduzido por uma comissão formada por diversos órgãos municipais que analisa a regulamentação da atividade, bem como a definição de possíveis locais públicos que possam comportar esse tipo de equipamento de forma ordenada e segura”, informou.
A Gazeta de Alagoas questionou sobre os alvarás emitidos antes da revogação da lei. “Atualmente, os alvarás emitidos antes da revogação não estão sendo renovados, e novos também não são concedidos”, respondeu a Semsc. “A fiscalização continua sendo feita diariamente, com foco em irregularidades como ocupação de locais não permitidos e danos ao patrimônio”, detalhou.
Já a Secretaria de Saúde de Maceió informou que a Vigilância Sanitária realiza fiscalizações, rotineiras ou mediante denúncia, em food trucks, visando garantir o cumprimento das normas sanitárias por esses estabelecimentos.