
Joelma completou 51 anos no dia 22 de junho com a mesma intensidade que a tornou um fenômeno nacional: dançando, cantando e lotando palcos por todo o Brasil. Celebrando mais de 30 anos de carreira, ela segue movimentando multidões com a turnê Arraiá Isso É Calypso, que já passou por diversas cidades e deve reunir cerca de 2 milhões de pessoas até o fim de julho.
Nascida em Almeirim, no interior do Pará, Joelma da Silva Mendes começou a cantar profissionalmente aos 19 anos. Em 1999, ao lado do então marido e guitarrista Ximbinha, fundou a Banda Calypso, que marcou a música brasileira com um som dançante, performático e profundamente regional. Seus cabelos loiros, botas de salto alto, jogadas de cabelo e vocais potentes logo se tornaram marcas registradas.
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Durante os anos 2000, a Calypso conquistou uma legião de fãs e o fim do casamento em 2015, que também marcou o encerramento do grupo, não interrompeu a trajetória da cantora. No mesmo ano Joelma lançou sua carreira solo, iniciando um novo capítulo mais maduro, ousado e ainda fiel às suas raízes.
Seu primeiro single solo, Voando pro Pará, viralizou nas redes sociais e impulsionou o chamado “Efeito Joelma”, que colocou o tacacá como o prato mais pesquisado no Google do Brasil naquele ano.
“Aquela música, em especial, despertou o interesse em conhecer o que é o tacacá, por exemplo. Muita gente pesquisou, quis provar, tudo por causa dela. Meu sonho sempre foi mostrar um pouco da nossa cultura e eu sinto que consegui”, comemora.
Além dos compromissos musicais, Joelma tem buscado equilibrar a vida pessoal com a profissional, principalmente após enfrentar nove infecções por Covid-19, que deixaram sequelas. “Depois desses quatro anos, com nove casos de Covid, aprendi a desacelerar, a trabalhar com mais tranquilidade, sem essa loucura de fazer mil coisas ao mesmo tempo. Hoje eu respeito mais o meu tempo. O tempo é precioso”, afirma.
Mãe de três, Natália, de 32 anos, Yago, de 29, e Yasmin, de 20, ela agora se prepara agora para ser avó. A caçula espera seu primeiro filho com o baterista Neto Alcântara, um menino que irá se chamar Oliver. E a filha de Yago, Zahara, está a caminho, fruto do casamento com Lorena. “Foi um presente maravilhoso. Chorei muito de emoção quando soube que ia ser avó duas vezes. Onde uma criança chega, o ambiente muda”, celebra.
Além do lado materno, Joelma também se reconstruiu como mulher após viver um relacionamento abusivo e hoje fala sobre amor com serenidade: “Para mim, amor é sinônimo de sabedoria, paz interior, respeito e equilíbrio. Sem aquela loucura toda. Aprendi a valorizar um amor que traz tranquilidade”.
Com hits que marcaram gerações, seus shows continuam uma explosão, com muita dança e identidade cultural, consolidando seu legado na música brasileira.

Você vai subir ao palco do The Town e também no projeto Amazônia Para Sempre, um evento que celebra a cultura e a riqueza da Amazônia. O que esse momento representa para você e para a mensagem que quer levar ao público?
O The Town foi um evento criado para o rock, foi pensado pra isso. E agora estamos inseridas nesse movimento, algo que eu nunca imaginei que pudesse acontecer. Já participamos de alguns projetos nesse estilo e deu muito certo. É um público diferente, claro, mas acredito que o nosso trabalho tem uma energia muito forte, pra cima, e isso funciona bem. O público tem recebido de forma muito positiva. O Amazônia Para Sempre também é uma novidade, uma grande novidade, especialmente para a nossa região, o Pará. É algo muito grandioso, e está todo mundo na expectativa — inclusive nós, que estamos nos preparando para levar algo diferente e especial para esse projeto.
Você é uma das responsáveis por colocar o Pará e o Norte do país no holofote nacional. Hoje, o estado sedia a COP, virou tema de samba-enredo e muita gente quis provar o tacacá por sua influência. Como você vê esse reconhecimento da cultura paraense no Brasil e o seu papel nessa conquista?
É a realização de um sonho. A nossa região era muito desconhecida. Quando se falava em Pará, muita gente ainda pensava apenas na floresta, como se lá não tivesse cidade, prédio, como se fosse só mata e animais. Existia muito esse imaginário. Hoje, muita gente já conhece. O Pará cresceu bastante em visibilidade e conseguimos divulgar muito da nossa música. Não só eu — vários artistas de lá também contribuíram muito. Mas acho que a música Voando pro Pará ajudou a despertar curiosidade nas pessoas. Toda vez que eu encontrava alguém no avião, a pessoa dizia: “Joelma, estou indo pro Pará! Fiz todo aquele roteiro da tua música, conheci tudo!”. E eu achava aquilo incrível. Aquela música, em especial, despertou o interesse em conhecer o que é o tacacá, por exemplo. Muita gente pesquisou, quis provar, tudo por causa dela. Meu sonho sempre foi mostrar um pouco da nossa cultura, e eu sinto que consegui.
"Nunca pensei que, por meio da minha música, eu ia ajudar a mudar a imagem que as pessoas tinham do Norte, nem inspirar outras mulheres"
No início dos anos 2000, você imaginava que se tornaria um símbolo do Norte e inspiração para tantas mulheres?
Nunca, jamais! Lembro que, quando decidi seguir a carreira de cantora, meu sonho era vender 10 mil cópias de um CD. Era isso. E a gente acabou vendendo mais de 23 milhões. Foi muito além do que eu sonhei. Nunca pensei que, por meio da minha música, eu ia ajudar a mudar a imagem que as pessoas tinham do Norte, nem inspirar outras mulheres. Só queria cantar o que eu acreditava, mostrar a cultura da minha terra. Hoje, olhando pra trás, só consigo agradecer a Deus. Porque conquistei coisas que nem sabia que podia conquistar.
Quais sonhos ainda faltam realizar?
Cara, eu não tenho mais sonhos, não. Deus já me deu muito além do que eu imaginei, do que eu sonhei. Eu nem sinto que tenho o direito de pedir mais nada. Aliás, nunca pedi coisas materiais — sempre pedi coisas espirituais, sabe? E agora vou ser avó... preciso de mais o quê?
Você se sente realizada, então, artisticamente e pessoalmente?
Sim. Lembro que, quando comecei a cantar esse ritmo, meu sonho era que as pessoas conhecessem a nossa cultura, a nossa região. E hoje isso acontece. Então, me sinto realizada. Como pessoa, como mãe... agora como avó também. Deus realizou todos os meus sonhos — até aqueles que eu nunca sonhei.
Como você quer ser lembrada daqui a 20, 30 anos?
Que o meu trabalho tenha contribuído de forma positiva na vida das pessoas. Que tenha levado alegria, força, algo bom. Não quero ser lembrada por nada negativo. Só isso já me basta.