De ônibus em ônibus. É assim que o Coletivo Rap & Movimento (Rapem) se apresenta. Com oito MCs e um produtor, o Coletivo foi formado em 12 de junho de 2018 pelos amigos Gustavo Henrique e Felipe Motta. Prestes a completar um ano de existência, rappers enfrentam preconceito para levar cultura da periferia para a sociedade alagoana.
"A ideia de juntar vários MCs com propósito, organização e identidade surgiu com o Coletivo Rapem para mostrar à população o que é o hip-hop. A ideia é não esperar que o público venha até a gente, mas queremos ir até as pessoas que frequentam assiduamente os transportes da cidade de Maceió e fazer com que eles conheçam a cultura e tenham um entendimento real do que é o nosso gênero musical", afirmou àGazetawebo porta-voz e produtor do Coletivo, Gustavo Henrique.
Leia também
Além de Gustavo, também fazem parte do coletivo o Victor Felipe, de 18 anos; Carlos André, de 19 anos; Michel Santos, de 18 anos; Abraão Silva, de 19 anos; Gabriel Vita, de 23 anos; Josias Brito, de 21 anos; Fellipe Motta, de 21 anos; e o mais novo integrante Felipe Medeiros, de 22 anos. E o coletivo está dialogando pautas importantes, como a integração de um grupo de mulheres, que produzem poesias.
"Levar a cultura periférica para um público diverso é fundamental, principalmente quando todos os integrantes se fazem presentes na vivência da periferia. Além de levar a cultura da periferia, é relatar fatos importantes, passar uma informação real do que vivemos e poder ter retorno dentro de todo esse contexto. Queremos ser porta-voz de todas as ideias do cotidiano. Esse é o foco do nosso projeto", disse Gustavo Henrique.
Antes de entrar nos coletivos, a formação da apresentação é preparada com planejamento.
"Às vezes pode ser individual, dupla e até mesmo trio, mas em dupla é o ideal para ter atenção dos passageiros e ter um ao outro como reforço de rimas. Não existe rota fixa para fazer nosso trabalho, temos apenas a meta de sair pela cidade e poder espalhar a música para o máximo de pessoas possível. Sempre buscamos estar em locais que tenham mais fluxo de ônibus e pessoas", contou Gustavo Henrique.
Sobre casos de preconceitos registrados dentro dos ônibus e até fora do transporte, o porta-voz do coletivo contou que algumas vezes isso acontece devido aos estereótipos.
"A forma de andar ou o dialeto de cada integrante, algumas pessoas por si mesmas, após ver alguma apresentação dentro do ônibus, chegaram e falaram que, antes de conhecer nosso trabalho, sentiram medo. Já vimos muitos passageiros guardando pertences, como celular, carteira. Mas, sempre mudam de opinião, quando nos escutam rimar, que é quando conseguimos fazer esse preconceito ser quebrado", afirmou Gustavo Henrique.
O MC relata ainda que estão fazendo algo para quebrar paradigmas de que não se trata de algo marginalizado, e sim de arte e cultura de rua. "Também sofremos preconceitos com a instituição de segurança pública do estado onde, na maioria das vezes, somos submetidos a ordens totalmente fora do contexto de uma abordagem, apenas pelo fato de sermos negros, periféricos e não nos vestirmos dentro dos padrões que a sociedade acha ser o correto, mas acima de tudo isso, mostramos que nosso talento supera qualquer preconceito, e que o hip-hop é muito mais que quaisquer divergências", acrescentou.
Para ser um integrante do Coletivo Rapem, conforme Gustavo, é necessário ter seriedade, comprometimento e tratar os ideais do grupo com respeito.
"Não admitimos preconceitos de nenhum gênero. É necessário entender que todo integrante tem voz ativa em nosso meio. Ser ciente que o coletivo não é algo individual, se faz em conjunto através da ideia de todos, sendo colocada em pauta. Também é importante não apoiar ideias fascistas sob nenhuma circunstância", concluiu.