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HOME > notícias > CULTURA

Biblioteca Nacional sofre com pouco espaço e equipe reduzida

Escritor Marco Lucchesi comenta estado da BN após gestão de Jair Bolsonaro e afirma que instituição é um espelho do Brasil

O escritor Marco Lucchesi agora é oficialmente responsável por uma instituição que ele conta frequentar desde a juventude.

Nomeado nesta semana para a presidência da FBN, a Fundação Biblioteca Nacional, Lucchesi assume o cargo depois de encerrar um período sabático —e menos de um ano depois de ter recusado a Ordem do Mérito do Livro ao saber que a honraria também ia ser concedida ao então deputado Daniel Silveira.

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A escolha dele, que é imortal da Academia Brasileira de Letras, marca a volta à presidência da FBN de intelectuais de grande reputação pública. Além de escritor de prosa e poesia, ele é ensaísta, editor e tradutor. Nas traduções, coloca em prática o conhecimento de mais de 20 línguas —já verteu ao português obras de autores que vão do italiano Primo Levi ao poeta persa Rûmî.

Lucchesi assume a Biblioteca Nacional depois de quatro anos de gestão bolsonarista. Em entrevista à Folha, ele conta em que estado encontrou a instituição e explica quais são suas demandas urgentes.

O escritor Jorge Luís Borges, de quem o senhor é leitor, dizia que a biblioteca é uma experiência do homem com o infinito. Qual é sua relação com a Biblioteca Nacional? 

Borges faz esse pacto do infinito com os livros. Eu entro aí em duas situações específicas. De um lado, pela minha paixão pela poética da matemática, ou seja, a matemática como produtora de poéticas intrínsecas muito importantes. Eu falaria de uma biblioteca transfinita. Minha relação com a Biblioteca Nacional nasceu a partir do espanto com o infinito.

A gestão de Jair Bolsonaro foi marcada por confrontos não só com artistas, mas também pelo desmonte de órgãos ligados à cultura, com servidores que se diziam inclusive perseguidos. Em qual situação o senhor encontrou a Biblioteca Nacional? 

A BN tem um corpo de funcionários com um alto e profundo conhecimento não só do trabalho, mas também sobre para quem a biblioteca trabalha. É uma espécie de rede solidária de defesa da biblioteca. Pelos relatos que ouvi, não posso dizer, muito sinceramente, que tenha havido algum problema maior como em outras instituições, nas quais os funcionários sofreram perseguição e assédio. Uma instituição de Estado não é uma instituição de governo. Essas instituições sobreviveram por resiliência e por obstinação.

O senhor contou com a equipe da gestão anterior na transição? 

A transição foi feita com os funcionários da Biblioteca Nacional. Eles apontaram as carências que, aliás, são problemas estruturais que mais ou menos se repetem independentemente de quem esteja no centro das decisões. O grande desafio da BN foi fazer que os governos compreendam a importância dela. Ela é uma espécie de espelho do Brasil, mas um espelho em que não pode não haver imagem que não seja contemplada ou revestida. Ela tem um compromisso com o futuro e um lastro de passado excepcional. É preciso que a sociedade ame a Biblioteca Nacional, compreendendo-a sempre.

A BN tem demandas históricas, que antecedem o governo Bolsonaro. Uma delas são as obras necessárias no anexo na zona portuária do Rio de Janeiro, um espaço para abrigar parte do acervo. Como está esse processo? 

A situação ali está bastante desenvolvida. A conclusão será até 2024. É um anexo para suprir as necessidades da BN. A biblioteca foi planejada para carregar 400 mil obras, só que ela tem hoje dez milhões de itens. Instituições como essa em qualquer país tem três problemas: falta de espaço, falta de recurso e falta de pessoal. É um triângulo constante.

O senhor poderia dar um panorama das necessidades mais urgentes? Lembro que por anos a BN viveu um problema de falta de ar condicionado, que é importante para a preservação do acervo.  

Isso do ar condicionado está bem resolvido. Inclusive a gestão anterior fez um trabalho importante. Por exemplo, eles completaram uma obra de incêndio, e hoje a Biblioteca Nacional tem um certificado dos bombeiros. O mérito precisa ser reconhecido.

Os problemas são os que todas as instituições no mundo têm —ou seja, espaço. Quando o anexo estiver praticamente pronto, já teremos esgotado a área de absorver os livros. Também há a questão dos recursos. Estamos, as bibliotecas, sempre buscando a recuperação desse infinito que não para de crescer.

Quanto ao pessoal, o que a gente vê de forma geral nas instituições culturais brasileiras é justamente o número de pessoas que vai se aposentando, e a demanda de concursos públicos nem sempre está ao passo das necessidades. Estamos conversando com o Ministério da Cultura.

No passado, além de cuidar do acervo, a Biblioteca Nacional capitaneou políticas públicas de livro e leitura, incluindo a difusão da literatura brasileira no exterior. Na sua presidência, a BN deve ter algum trabalho nessa área ou a prioridade será o acervo? 

Tudo isso faz parte do sistema do Ministério da Cultura. Naquele momento, a Biblioteca Nacional, por decisões tomadas em momentos distintos, foi deixando de cumprir algumas atribuições e transferindo-as aos ministérios. Houve depois um grande vazio em que o diálogo institucional foi diminuindo. O que foi o DLLLB (Departamento do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas) e a Biblioteca Nacional não conversavam.

Nesta quinta-feira, dia 2, tive um encontro com o pessoal da Brasília, que veio conversar sobre projetos de colaboração. A biblioteca precisa se aplicar no acervo e na produção de conhecimento, que é a sua grande vocação, mas vivemos num país marcado por diversas contradições. Então, tudo o que a BN puder colaborar na difusão do livro e da leitura é importante.

Mas ela deve liderar políticas públicas nessa área da mesma forma que antes? 

Essa era atribuição da Biblioteca Nacional. Hoje não é mais. Ponto. O problema grande é quando houve o intervalo. O núcleo duro continua sendo o depósito legal de obras, a aquisição de livros, a colaboração entre bibliotecas. Houve uma separação histórica de atribuições. A BN não precisa capitanear políticas. Há um departamento, o DLLLB, que hoje trata disso.

Como estão as contas e o orçamento da BN? 

Essa questão está equilibrada para este ano. Para o funcionamento atual, funciona. Mas é claro que precisamos ampliar. Estamos conversando com os órgãos de governo. A digitalização [do acervo] não parou, mas eu daria um novo impulso.

Queremos tecer e ampliar acordos internacionais. Eu estava em março do ano passado justamente na biblioteca do Vaticano. Vi a "Eneida", de Virgílio, a edição da "Divina Comédia" que Bocaccio deu para Petrarca e as páginas de um diário de Michelangelo. E a nossa Biblioteca Nacional tem coisas que você nem imagina. Eram 60 mil peças que vieram de Portugal no início, hoje chegamos a 10 milhões de itens. Então o Brasil também fez a sua parte, né?

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