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Você se sente reconhecido em seu trabalho?

O que à primeira vista pode parecer contraditório coaduna com o entendimento da psicodinâmica por reconhecimento.

Quando faço essa pergunta aos mais diferentes profissionais, a resposta tende a ser: depende. O que à primeira vista pode parecer contraditório para quem espera sim ou não como resposta, coaduna com o entendimento da psicodinâmica por reconhecimento.

Na abordagem cujo principal expoente é o francês Christophe Dejours, o trabalho não é considerado, em primeira instância, relação salarial ou emprego, mas sim mobilização subjetiva para responder a uma tarefa delimitada por pressões, que podem ser materiais ou sociais. Além disso, ancorado em Freud, Dejours salienta que trabalhar implica em vivências de prazer e de sofrimento, que são intimamente relacionadas ao reconhecimento do trabalho desenvolvido.

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Como o termo reconhecimento possui ampla utilização, penso ser importante detalhar um pouco acerca da concepção de reconhecimento de que estamos falando.

Segundo Dejours, o reconhecimento no trabalho é uma forma de retribuição simbólica, proferida por diversos atores pelos esforços e contribuições do sujeito ao realizar aquilo que lhe foi/é designado. Tal retribuição, é capaz de oferecer uma gratificação ao sujeito em relação às suas expectativas. Nessa acepção, conforme o autor, o reconhecimento é caracterizado por um processo dinâmico e intersubjetivo. Cabe destacar que na perspectiva dejouriana, o reconhecimento não é simples gratificação, e para ter eficiência simbólica, passa por julgamentos. O julgamento por sua vez, assume duas formas: o julgamento da beleza e o julgamento da utilidade.

O julgamento de utilidade diz respeito à utilidade econômica, técnica e/ou social do trabalho realizado (de maneira singular e coletiva), conferindo ao trabalhador sua afirmação na esfera do trabalho. Nesse julgamento, é proferida uma avaliação sobre o trabalho efetuado, sobretudo, verticalmente por superiores hierárquicos e, eventualmente, por clientes. A apreciação quanto à beleza, que diz respeito à qualidade do trabalho, é expressa, sobretudo, em termos principalmente estéticos – por exemplo, que belo trabalho – e é proferida, geralmente, pela linha horizontal. Este julgamento só pode ser proferido por aqueles que conhecem a fundo o trabalho. Ele credencia o pertencimento a um coletivo ou comunidade de pertença, como de artistas, maquiadores, professores e etc.

Mas o que isso tudo tem a ver com saúde do trabalhador?

Para a psicodinâmica do trabalho, a saúde do trabalhador é uma construção mediada pela dinâmica intersubjetiva do reconhecimento, a qual ao conferir julgamento de utilidade, de beleza ao trabalho, possibilita a constituição identitária do trabalhador, considerada central para a busca de equilíbrio psíquico. Ou seja, quando ocorre o funcionamento da dinâmica do reconhecimento, o resultado do trabalho repercute em favor da autorrealização e da construção da identidade do sujeito. Caso contrário, se não há o reconhecimento, vivências sofríveis acabam não sendo ressignificado em prazer e o trabalho perde então seu sentido subjetivo, possibilitando o aparecimento patologias.

Apesar das discussões relativas à relevância do reconhecimento serem recorrentes no universo do trabalho, diferentes exercícios laborais compreendem diferentes dinâmicas de reconhecimento. Existem profissões consideradas de prestígio, valorizadas e reconhecidas, e aquelas não legitimadas socialmente como trabalho ou desvalorizadas. Ainda, trabalhadores cujas atividades não resultam em produtos visíveis, mensuráveis, funcionais e comparáveis que tendem a enfrentar maiores dificuldades quanto à dinâmica do reconhecimento – caso característico do fazer artístico, autônomos e de quem executa trabalhos domésticos.

Afinal, algumas perguntas que se ouve, não são em vão, como: O que fazes além de arte? O que fazes além de dar aula? Só estudas? Não trabalhas de verdade?

E você, se sente reconhecido pelo trabalho desenvolvido?

DEJOURS, J. C. Trabalho vivo: Trabalho e emancipação (Tomo II). Brasília: Paralelo 15, 2012.

FREUD, S. O Mal-estar na Civilização (1930). In: Obras completas – O Mal-estar na Civilização, Novas conferências introdutórias e Outros Textos (1930-1926). São Paulo: Companhia das Letras, 2010. v.18.

NASCIMENTO, M.; DELLAGNELO, E. H. L.; COELHO, M.  “Tu Não Fazes Nada Além de Arte?” Uma análise Psicodinâmica do trabalho artístico. RGO. Revista Gestão Organizacional (UNOCHAPECÓ), v. 13, n.3, p. 71-92, set./dez.2020.

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