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São João com a alma do Nordeste intacta

São João nasceu do povo e tem raízes na fé, no campo e na musicalidade típica do Nordeste


			
				São João com a alma do Nordeste intacta
São João com a alma do Nordeste intacta. Reprodução

Defender o multiculturalismo é, sem dúvida, um princípio democrático e inteligente de convivência, que faz a integração dos diferentes. Respeitar os sons, os sabores e os costumes de regiões distintas é compreender a riqueza de um país como o Brasil. No entanto, há uma linha tênue entre convivência cultural e descaracterização, e essa linha vem sendo cruzada nas festas juninas, sobretudo pela substituição da música tradicional por ritmos alheios ao seu espírito original.

O São João nasceu do povo e tem raízes na fé, no campo e na musicalidade típica do Nordeste. A sanfona, a zabumba e o triângulo são os instrumentos que dão corpo ao forró pé de serra, ao xote e ao baião. Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Jackson do Pandeiro e tantos outros não compuseram apenas canções, mas cravaram uma identidade sonora no coração do povo.

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Do ponto de vista social, o São João funciona como cimento comunitário. Reúne famílias, vizinhos e amigos em torno de uma tradição que atravessa gerações. Em comunidades rurais e urbanas, é tempo de reencontro, de troca, de convivência. As festas de bairro, os arraiás de rua e as quadrilhas escolares são mais do que eventos: são mecanismos de fortalecimento dos laços sociais.

Hoje, no entanto, vemos arraiás convertidos em palcos de axé, sertanejo universitário, funk e até música eletrônica. Nada contra esses estilos — cada um há de ter seu espaço —, mas não no lugar do forró tradicional e no meio das festas de São João. Isso não é inclusão cultural. É descaracterização. É uma forma sutil - e perversa - de enfraquecer um traço essencial da cultura nordestina.

Cabe advertir: o poder público, em qualquer instância, tem papel direto nessa defesa. A Constituição Federal, nos artigos 215 e 216, protege e incentiva as manifestações culturais populares. Isso inclui preservar a essência musical das festas juninas, que não são eventos de mercado, mas patrimônio imaterial.

E assim não é favor, mas um dever legal dos gestores de garantir que os mestres de cultura, os sanfoneiros, as quadrilhas juninas e os artesãos encontrem respaldo institucional para manter viva a tradição.

O São João também aquece a economia. Os polos ainda recebem milhares de turistas, que impulsionam a hotelaria, a alimentação, o transporte, o comércio e a produção cultural. Pequenos comerciantes vendem iguarias, artesanato e roupas típicas. Bandas de forró, trios de sanfona e artistas populares encontram espaço e valorização. Em muitos lugares, a festa garante o sustento de centenas de famílias durante boa parte do ano.

Multiculturalismo não significa diluir tudo até perder o sabor. Respeitar a diversidade é justamente dar espaço a cada cultura ser o que ela é, sem ser atropelada por modismos ou interesses comerciais.

Não se trata de conservadorismo cultural, mas de respeito à origem, à história e à alma do povo nordestino. Misturar tudo em nome da “modernidade” empobrece a autenticidade e desrespeita a memória coletiva de gerações.

Num país em que tradições populares são frequentemente marginalizadas ou transformadas em produto pasteurizado, o São João do Nordeste pede socorro e precisa resistir como símbolo de autonomia cultural. É festa, sim, mas também é alma, memória, economia e afirmação.

O São João é o tempo em que o Nordeste dança sua própria música, canta sua própria história e celebra sua própria fé. E isso não precisa — nem deve — ser negociado.

Joaldo Cavalcante

Jornalista e ex-secretário de Comunicação do Estado de Alagoas

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*Os artigos assinados são de responsabilidade dos seus autores, não representando, necessariamente, a opinião da Organização Arnon de Mello.

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