Minas Gerais vai ganhar, no dia 24 de maio, um sofisticado hotel do grupo português Vila Galé, em um município que guarda muito da história entre Portugal e o Brasil, no ciclo da exploração do ouro e pedras preciosas: Ouro Preto.
O Vila Galé Collection Ouro Preto fica no distrito de Cachoeira do Campo, a 24 quilômetro da sede do município e a 80 quilômetro de Belo Horizonte e está instalado no prédio do antigo Primeiro Regimento de Cavalaria da Tropa paga da Coroa Portuguesa.
Em entrevista ao @circuitomundoof e ao jornalista @mozart_luna, o diretor presidente do Grupo Vila Galé, Jorge Rebelo de Almeida, descreveu com detalhes a décima segunda unidade do grupo no Brasil.
A hospedagem vai incluir um centro de convenções para mil pessoas, haras com cavalos Mangalarga Marchador, parque aquático infantil, piscinas aquecidas e três restaurantes temáticos dedicados às culinárias mineira, portuguesa e internacional.
“ Vamos também produzir vinhos e azeite”, disse Jorge Rebelo de Almeida, sendo a primeira unidade do grupo no Brasil com esta atividade. Segundo ainda ele, será uma experiência para o grupo e uma mais valia para o empreendimento como também para o estado de Minas Gerais e principalmente para Ouro Preto.
O empreendimento ocupará uma área preservada de mais de 270 hectares de Mata Atlântica, incluindo uma cachoeira natural e um lago artificial.
Minas Gerais é um estado brasileiro rico em história, cultura e belezas naturais, oferecendo uma combinação única de património colonial, gastronomia marcante e paisagens deslumbrantes. Conhecido pelas suas cidades históricas, igrejas barrocas e hospitalidade calorosa, este destino encanta visitantes que procuram uma imersão no passado e experiências autênticas.
O prefeito Angelo Oswaldo, também concedeu entrevista exclusiva ao jornalista @mozart_luna e disse que a cidade terá uma visibilidade internacional com a chegada do grupo Vila Galé não só no município, como também em toda região.
“A inauguração do Vila Galé representa um avanço significativo para o turismo em Minas, consolidando nossa estratégia de internacionalização do destino. Com essa nova infraestrutura, Minas Gerais reforça sua vocação para o turismo de alto padrão, oferecendo experiências autênticas que combinam patrimônio, arte e hospitalidade”, destacou o secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira.
Patrimônio da humanidade
Ouro Preto, onde ficará o Vila Galé Collection Ouro Preto, é uma das cidades mais emblemáticas de Minas Gerais, famosa pelo seu centro histórico bem preservado, ruas de pedra e construções que remontam ao Brasil colonial. Património Mundial da UNESCO, a cidade oferece um verdadeiro mergulho na época do ciclo do ouro, com igrejas e museus que contam a sua história.
Além da riqueza arquitetônica, Minas Gerais destaca-se pela sua gastronomia típica, com sabores únicos como o pão de queijo, o feijão-tropeiro e o doce de leite artesanal. Outro atrativo é a Rota das Cervejas Artesanais e dos Vinhos Mineiros, que conquista cada vez mais apreciadores.
Para os amantes da natureza, o estado oferece paisagens deslumbrantes, como as montanhas da Serra do Cipó, as cachoeiras de Capitólio e as trilhas da Serra da Canastra. Estes destinos são ideais para ecoturismo, caminhadas e turismo de aventura, proporcionando momentos inesquecíveis em meio à natureza.
Com um cenário que mistura tradição, cultura e hospitalidade, Minas Gerais promete experiências únicas para quem visita. O Vila Galé Collection Ouro Preto proporciona experiência imersiva na natureza. O hotel também promoverá experiências culturais e artísticas alinhadas à identidade mineira.
A importância histórica do prédio do Vila Galé em Ouro Preto.
No Brasil, já desde 1643, que as terras altas, na abertura do Rio Doce, eram frequentadas pelas autoridades militares da colónia Portugal. A fundação da povoação de Cachoeira deu-se em 1705. A primeira construção importante de cunho civil e público foi um quartel, num ponto estratégico que Dom Pedro de Almeida, Conde de Assumar, quis aproveitar e reforçar enquanto local de defesa. Eclodia, entretanto, a sedição de Vila Rica (atual Ouro Preto), a 28 de junho de 1720, que terminou com a prisão, em Cachoeira do Campo, do tribuno popular Felipe dos Santos Freire.
Após este acontecimento, Dom Pedro de Almeida pretendeu mudar a capital da província de Mariana para Cachoeira do Campo, onde os governadores-capitães-generais passariam a residir e onde se instalaria uma casa de fundição. Aí, Dom Pedro de Almeida mandou levantar um quartel e, em 1735, as terras de Cachoeira tornaram-se sede unida do governo civil e militar de Vila Rica (hoje Ouro Preto). É aqui que fica então alojado o esquadrão de cavalaria que estava antigamente na Vila do Carmo, em Mariana.
Neste contexto de reorganização das forças militares portuguesas, entra em funcionamento em 1779 o novo Quartel do Regimento de Cavalaria de Minas Gerais, embora sua história remonte, pois, às primeiras décadas do século XVIII e a episódios marcantes da história mineira, como a Revolta de Felipe dos Santos (1720), a Inconfidência Mineira (1789) e, mais tarde, a Sedição Militar ou Revolta do Ano da Fumaça, em 1833, período em que serviu para fins militares pela última vez.
Efetivamente, ao longo dos tempos sucederam-se ampliações destas instalações, com mais espaço para albergar militares e os seus cavalos, tendo sempre as forças em prontidão. Durante alguns anos, esta infraestrutura foi também palácio de recreio, repouso e residência de férias da corte.
Em 1816, nas terras do núcleo colonial e nalguns edifícios fizeram-se adaptações para acolher a Coudelaria Imperial de Cachoeira do Campo, que viria a ficar pronta em julho de 1819. Funcionava como um centro de criação e aprimoramento de cavalos de raça e era aqui que se criavam os cavalos para os carros imperiais utilizados na corte.
Mais tarde, já com Dom Pedro II, a população de Cachoeira do Campo pede que a propriedade tenha uma finalidade social mais relevante, pelo que o monarca acaba por desistir da coudelaria. Optando-se pela distribuição de terras a colonos, em 1889 é inaugurada a colónia agrícola D. Pedro II que, com o advento da República, recebeu o novo nome de Cesário Alvim. Contudo, algum tempo depois, o governo mandou suspender o processo e a propriedade ficou sem utilização.
Surge a ideia de convidar os salesianos para fundarem um estabelecimento agrícola, à semelhança dos que já tinham noutras regiões. Em 1893, as terras são-lhes oficialmente cedidas, com a contrapartida de recuperarem os edifícios, bastante degradados e invadidos pelo mato, e de ali instalarem uma escola agrícola. O padre salesiano Agostinho Crucifico Zanella foi o encarregado da reconstrução e a 24 de maio de 1896 era inaugurado o Colégio Dom Bosco. Destinada, inicialmente, a formar engenheiros agrícolas, foi a primeira casa salesiana de Minas. E aqui encontram-se relíquias como a primeira imagem de N. Sra. Auxiliadora a entrar em Minas, um grande relógio de sol situado no pátio interno, e a primeira serralharia hidráulica do Brasil, construída no início do século.
A partir de Cachoeira do Campo, os salesianos foram pioneiros da agricultura mecanizada em Minas, incentivando as autoridades locais a modernizarem os seus processos agrícolas.
Nas décadas que se seguiram a atividade educativa prosseguiu, cruzando-se depois com utilização religiosa do espaço por parte da comunidade salesiana. Já nos últimos tempos de ocupação, chegou também a albergar trabalhadores de empresas das redondezas.
Chega a Vila Galé
Em maio de 2023, o grupo hoteleiro Vila Galé e o Governo de Minas Gerais oficializaram a concessão do espaço para abertura de um hotel em Ouro Preto, num investimento de R$ 80 milhões, que vai gerar 120 empregos permanentes diretos e 600 postos de trabalho indiretos.
O colégio Dom Bosco é um prédio histórico classificada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG). Com a intervenção da Vila Galé, a edificação foi restaurada e fará parte da linha Collection, composta por hotéis boutique, que dão ênfase à exclusividade, à cultura e à arte.
O novo hotel ficará integrado numa gigantesca área de 195 hectares, onde serão construídas áreas experimentais de vinhas e olivais ou trilhas ecológicas com cascatas. O empreendimento contará com 311 quartos, tress restaurantes, dois bares, sete salas de convenções, um auditório, capela, biblioteca, sala de jogos, Spa Satsanga com piscina interior aquecida, Clube Infantil NEP com parque aquático, entre outros atrativos.
Abrigará também um Memorial do Colégio Dom Bosco e um Memorial da Polícia Militar.
O Colégio Dom Bosco é considerado um dos berços da liberdade no Brasil. Construído em 1779 para albergar a recém-formada Cavalaria do Regimento das Minas, conforme escrito na tarja da sua porta externa, que, segundo se crê, pode ser obra do Aleijadinho. O quartel, como era chamado na altura, foi uma das sedes do movimento da Inconfidência, onde trabalhava e se tornou alferes, Tiradentes.
O valor patrimonial deste conjunto arquitetónico, paisagístico e arqueológico está nas suas edificações sede e adjacentes, alteradas ao longo do tempo, mas sobretudo no significado que as instituições ali instaladas, uma após a outra, tiveram para a memória local e estadual.