
O ano começou e o torcedor foi barrado logo na rampa. Literalmente. A principal via de acesso ao Estádio Rei Pelé foi interditada com risco estrutural, o que reduziu a capacidade oficial de público. Um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) foi firmado entre o Ministério Público, Selaj, FAF, clubes, PMAL e CBMAL. Mas a obra segue em banho-maria e o impacto já é visível — ou melhor, invisível: o torcedor sumiu.

CSA e CRB ainda carregam multidões no coração, mas não mais nos estádios. Basta olhar os números. Na final do Alagoano entre CRB e ASA: 13.270 presentes, com 11.540 pagantes. Na semifinal CSA x ASA: pouco mais de 11 mil, sendo menos de 10 mil pagantes. E olhe que estamos falando dos maiores públicos do ano.
A pergunta que vale o texto é: por que tão pouco?
As arquibancadas vazias não contam só a história de uma estrutura interditada. Contam sobre horários ruins, jogos em dias úteis à noite, insegurança nos arredores, transporte público precário, preços que oscilam conforme o “apelo” do jogo e um mínimo de conforto que beira o inexistente. Torcer virou um ato de resistência — física, mental e financeira.

Há quem culpe a violência, e com razão. Há quem lembre da economia, e também tem razão. Outros tantos apontam para o que virou rotina: jogos mornos, promessas não cumpridas, experiências ruins. E tudo isso vai afastando o torcedor, um a um, degrau por degrau — como a rampa interditada.
CSA e CRB têm se esforçado. Modernizam ingressos, criam experiências, tentam promoções. Mas nadam contra a corrente. O que afasta é maior que o que atrai. O que desanima é mais frequente do que o que empolga.
O Rei Pelé encolheu. Mas o que encolheu, na verdade, foi o tamanho da nossa relação com o estádio. O futebol alagoano precisa urgentemente recuperar o seu torcedor — não só com vitórias, mas com respeito.