No caminho de Zico, Ronaldinho exibe repertório nas faltas

Quando Ronaldinho ajeita a bola, arruma o cabelo e se posiciona para cobrar uma falta, a torcida do Flamengo prende a respiração. Na manutenção da mística da camisa 10 da Gávea, o craque de hoje do time rubro-negro, criado no Sul e consagrado na Europa, repete o do passado, Zico, vindo de Quintino. Assim como o "Galinho", o jogador gaúcho exibe vasto repertório para vencer a barreira e balançar as redes. No último domingo, o artilheiro do Brasileiro fez seu quarto gol de falta na temporada. E cada um diferente dos outros, mas com um atributo em comum: a marca registrada do talento de Ronaldinho. Contra o Internacional, no Beira-Rio, palco onde o craque está acostumado a brilhar, Luiz Antônio sofreu falta perto da área, pelo lado direito. Uma posição na qual um canhoto se sentiria à vontade. Porém, o camisa 10, destro, usou seu veneno. Com a curva, a bola contornou a barreira por fora e entrou à esquerda de Muriel. Esse canto, aliás, é o predileto de Ronaldinho. A preferência se manifestou no primeiro gol de falta, na vitória sobre o Boavista, na final da Taça Guanabara. A cobrança era frontal. Numa mistura de jeito e força, ele colocou a bola à esquerda do goleiro Thiago. Talvez Flávio, goleiro do América-MG, tenha feito o dever de casa. Mas, ao estudar Ronaldinho, ele não se lembrou de que é impossível entender a cabeça dos gênios. Imprevisível, Ronaldinho cobrou forte, com efeito, à direita do goleiro, que já havia saído para o outro lado. A genialidade principal ficou guardada para a casa do maior de todos: Pelé. Na Vila Belmiro, o camisa 10 rubro-negro arrumou a bola em posição semelhante à do histórico gol de Zico sobre o Santa Cruz, em 1987. Colado à área, pela direita, Zico colocou a bola no ângulo oposto. Ronaldinho, porém, achou solução diferente. Ele esperou a barreira saltar e tocou por baixo. Prova de que o novo camisa 10 da Gávea pode não ser como o antigo. Mas Ronaldinho é, como Zico, capaz de encantar. Resta saber se conseguirá ser campeão de tudo, como foi o "Galinho".