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Futebol joga no lixo mais de 500 milhões de camisas por ano

Entenda como o atual modelo de negócio da produção de camisas impacta negativamente o planeta; pirataria no Brasil tem mais de 170 milhões de peças e gera prejuízo de R$ 20 bilhões


			
				Futebol joga no lixo mais de 500 milhões de camisas por ano
Deserto do Atacama virou lixão para montanhas de roupas, que podem ser vistas até do espaço. — Foto: Getty Images

Sabe aquela sua camisa do time de coração que já virou "velha", só um ano depois de ter sido lançada? Pense bem o que vai fazer com ela antes de jogá-la fora. Os números do lixo da "moda da bola" impressionam. A indústria dos artigos esportivos, em especial do futebol, está em xeque hoje por seu impacto na Terra. Sejam essas camisas originais ou piratas.

Indústria bilionária, com Europa no poder

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Vender muitas camisas é um gol "obrigatório" no mundo da bola. O mercado global de roupas do futebol atingiu 73,3 bilhões de euros (hoje R$ 466,6 bilhões) em 2022, e deve chegar a 101 bilhões de euros em 2028. A Europa deverá ser responsável por 55% desse crescimento.

Camisas de futebol são populares dentro e fora dos estádios. Não saem de moda. Quanto mais modelos, melhor — pelo menos para os clubes, fornecedores e patrocinadores. O Napoli, por exemplo, teve 13 camisas diferentes em 2021/22. É um modelo de negócio baseado em cada vez mais volume, crescimento infinito. Teoricamente.


			
				Futebol joga no lixo mais de 500 milhões de camisas por ano
Camisas de futebol geram milhares de toneladas de lixo que não é degradável. GazetaWeb.com

O consumo de roupas ligadas ao futebol deve aumentar 63% até 2030.

A venda de produtos licenciados representa de 10% a 20% de todas as receitas dos 20 clubes mais ricos da Europa. Quem mais arrecada com a venda de camisas e merchandising em todo o mundo é o Real Madrid (que também é o de maior receita total, mais de um bilhão de euros).

O clube espanhol arrecadou 196 milhões de euros, ou R$ 1,2 bilhão, com uniformes em 2023/24, segundo relatório da Uefa. O documento não diz quantas peças foram vendidas.

Top 5 maiores receitas com camisas:

Real Madrid - 196 milhões de euros

Bayern de Munique - 171 milhões de euros

Barcelona - 171 milhões de euros

Liverpool - 146 milhões de euros

Manchester United - 146 milhões de euros

* Fonte: Uefa (2024)


			
				Futebol joga no lixo mais de 500 milhões de camisas por ano
Real Madrid é o clube que mais fatura dinheiro com a venda de camisas no mundo. GazetaWeb.com

O mercado de produtos esportivos no Brasil, incluindo acessórios, calçados e vestuário, gera cerca de 400 milhões de peças originais por ano. O ge conversou com profissionais de clubes do Brasileirão que lidam com a produção de camisas. No geral, são três meses para o desenvolvimento de um novo uniforme, do conceito até o desenho final.

Depois da definição, são mais três meses para a modelagem na fábrica até a criação da peça piloto. O passo seguinte é levá-la para o mercado, e as lojas fazem os pedidos. O clube também encomenda o chamado "enxoval" para a sua fornecedora de material esportivo.


			
				Futebol joga no lixo mais de 500 milhões de camisas por ano
Deserto do Atacama virou lixão para montanhas de roupas, que podem ser vistas até do espaço. — Foto: Getty Images

Esse enxoval, com roupas de viagem, aquecimento, treino e jogo, conta com até 30 mil peças por ano, em média. Isso inclui também short e meião. A cada partida, o clube organiza 75 uniformes, e cada atleta costuma ficar com duas camisas.

Um clube da Série A do Campeonato Brasileiro e de projeção nacional conta com três uniformes por ano: modelos 1, 2 e 3. Em média, são produzidas 80 mil camisas de cada modelo para cada clube, por ano. Isso dá um total de 240 mil novas camisas a cada temporada. Os números são maiores para Flamengo e Corinthians, dado o tamanho de suas torcidas.

Camisas de futebol são, no final das contas, itens icônicos e que geram muito dinheiro. E também muito desperdício. Mais de 500 bilhões de dólares (R$ 2,8 trilhões) em valor de produto são perdidos a cada ano, por camisas não aproveitadas ou não recicladas. Uniformes só costumam "viver" por 10 meses, antes da chegada de um novo modelo.

Camisa de futebol: lixo difícil de se livrar

Qual o principal destino dessas camisas? O lixão. Ou a fogueira. Cerca de 60% do material esportivo encomendado por clubes e federações de futebol da Europa é jogado fora ao final de cada temporada. Estamos falando de até 3,6 milhões de itens. O mesmo acontece com as camisas dos torcedores. Isso impacta e muito o meio ambiente.


			
				Futebol joga no lixo mais de 500 milhões de camisas por ano
Brentford lançou camisa reciclada para 2025/26, feita a partir de uniformes de outras temporadas. — Foto: Divulgação / Brentford

Uniformes de futebol e outras peças esportivas são geralmente feitos de poliéster, material derivado do petróleo, hoje o combustível fóssil mais usado no mundo. Produzir camisas de futebol leva à emissão de gases de efeito estufa, que agravam o aquecimento global. As fábricas dessas peças também costumam funcionar com combustíveis fósseis.

Tanto o poliéster como o náilon não são biodegradáveis, ou seja, a natureza não consegue decompor. O que acontece então? Milhões de toneladas de camisas de futebol são jogadas fora e se acumulam em lixões pelo planeta. Geralmente em países pobres. Há também microplásticos que contaminam aterros e oceanos. A poluição tem início e meio, sem fim. E a produção não para, só aumenta.


			
				Futebol joga no lixo mais de 500 milhões de camisas por ano
Camisas de futebol geram milhares de toneladas de lixo que não é degradável. — Foto: Getty Images

— A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo. Ela utiliza fontes de energia não renováveis, e grande parte do material é sintético. Todos os anos, vários modelos de camisas são produzidos por time. No outro ano, outros mais. E os que ficam para trás logo serão descartados, de forma terrível. É um ciclo extremamente problemático, do início ao fim: a produção, o material, o consumismo, o descarte — comentou a empreendedora Carol Rosignoli, especialista na indústria da moda.

A cada ano, 100 mil toneladas de roupas esportivas param em lixões do Reino Unido. Isso é o equivalente a 951 camisas de futebol jogadas fora a cada minuto, ou 500 milhões anualmente. Preservar uma peça por mais nove meses pode reduzir o estrago ambiental em até 30%. É o que aponta a organização Green Football.

Voltada para a relação entre o futebol e as mudanças do clima, a Green Football atacou esse problema recentemente com campanha Great Save (Grande defesa, em inglês). A iniciativa envolveu torcedores, emissoras de televisão, clubes e jogadores para diminuir a quantidade de camisas de futebol descartadas em aterros sanitários da Inglaterra.

— Sabemos que há um percentual considerável de torcedores preocupados com o assunto, a questão das camisas. O desafio é deixar claro para as pessoas a relevância do problema. Procuramos problemas que têm um impacto grande, e é impressionante a pegada de carbono da produção de camisas — disse Sarah Jacob, diretora da Green Football.

A mesma Green Football realizou uma pesquisa, com mais de mil torcedores ingleses, e 49% dos entrevistados disseram que raramente ou nunca usaram as camisas de time que compraram.

Um em cada três torcedores pararam de vestir o uniforme porque não cabia mais, e 13% deixaram de fazer isso porque o jogador estampado deixou o clube. Outros motivos para jogar a camisa fora: superstição; buraco sem reparação; escudo ou detalhes descolando.

Por outro lado, 26% dos torcedores guarda camisas por valor sentimental. Cerca de 22% dos entrevistados se sentiriam encorajados a permanecer com elas caso soubessem como doá-las depois. Quase 50% declararam que alterar a camisa ajudaria a preservar a peça.

Profissionais que atuam no setor defendem que o poliéster e o náilon são necessários porque o material esportivo precisa ser de alta qualidade, resistente, leve, durável e de seca rápida. Grandes marcas e clubes são cada vez cobrados sobre esse assunto pelos consumidores.

O ge procurou, entre abril e maio, três das maiores fornecedoras de material esportivo: Nike, Adidas e Puma. A Adidas informou que não conseguiria colaborar para a reportagem. A Puma não deu retorno por e-mail. A Nike não respondeu às perguntas enviadas, mas compartilhou informações sobre o seu compromisso com sustentabilidade.

A Nike tem como meta para 2025 reduzir 70% das emissões de gases do efeito estufa em instalações próprias ou operadas, por meio de eletricidade 100% renovável. Outro objetivo é reduzir em 10% os resíduos por unidade na fabricação, centros de distribuição e sedes.

A Adidas indicou em seu relatório anual de 2024 que as emissões de gases de efeito estufa bateram 5,3 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente. A empresa estabeleceu que 10% de todo o poliéster usado em seus produtos virá de resíduos têxteis até 2030.

A Puma afirmou em relatório que nove em cada 10 produtos seus no mundo em 2024 foram feitos de "partes significativas" de material reciclado ou certificado. Além disso, informou que reduziu em 65,8% os resíduos enviados para aterros sanitário por peça de vestuário.

Pirataria no Brasil: R$ 20 bilhões de prejuízo

O consumo em massa de camisas de futebol licenciadas é, por si só, um problema de sustentabilidade. Mas existe todo o universo da pirataria.

Os produtos esportivos piratas, entre vestuário, calçados e acessórios, provocam prejuízo de R$ 20 bilhões por ano para o mercado brasileiro, segundo estudo de 2023 da Associação pela Indústria e Comércio Esportivo (Ápice), que reúne empresas nacionais e internacionais do setor.

O Brasil também deixa de arrecadar R$ 5 bilhões por ano em impostos, e 40 mil empregos formais não são gerados, de acordo com o estudo da Ápice. A pirataria ocupa de 30% a 35% do mercado esportivo do país, com 173 milhões de peças adquiridas por ano. Número que hoje é maior.

— Nosso estudo identificou, em 2023, que 57 milhões de camisas de futebol (não só de jogo) foram vendidas no Brasil, sendo 17 milhões piratas. Isso representa cerca de 30% do mercado tomado pela pirataria. Há um crescimento elevado no meio de distribuição digital, e estimamos que em pouco tempo será o principal meio de escoamento dessas camisas piratas — comentou Renato Jardim, diretor executivo da Ápice.

O mercado global de camisas de futebol originais foi avaliado em 2023 em mais de 6 bilhões de dólares (hoje, R$ 33,9 bilhões), segundo a organização Business Research Insights. As estimativas para o ecossistema pirata foram de dezenas de bilhões de dólares.

Combater a pirataria no Brasil é complexo porque há produtores nacionais e as peças importadas, as "camisas tailandesas". O comércio eletrônico e as redes sociais pulverizaram os canais de venda. Se uma loja é derrubada, outra surge rapidamente. O crime organizado tem laços.

Rastrear e interceptar essa quantidade de camisas é um desafio para as autoridades. Clubes contratam empresas de monitoramento para derrubar ofertas ilegais. Flamengo, Athletico-PR e Internacional, junto com empresas do ramo, removeram 300 mil delas entre 2024 e 2025.

Quem importar, exportar, vender, distribuir, oferecer ou colocar à venda produtos falsificados que violem o direito dos clubes pode pegar de dois a quatro anos de prisão.

As camisas importadas, produzidas principalmente na Ásia e vendidas por um valor bem abaixo das originais, podem estar associadas ao trabalho infantil ou em condições de exploração. Vale lembrar que grandes marcas do setor esportivo, e da indústria da moda no geral, foram alvo de denúncias no passado por problemas semelhantes.

E o produto pirata também pode ser mais prejudicial ao meio ambiente, mais poluente, por utilizar materiais de pior qualidade ou tóxicos, vir de processos mais sujos e gerar mais resíduos.

— O dano ambiental da produção de camisetas piratas é um aspecto crítico e muitas vezes negligenciado. Para baratear custos, são utilizados tecidos sintéticos de qualidade inferior, corantes e produtos químicos que podem ser prejudiciais tanto para o meio ambiente quanto para a saúde do consumidor. A ausência de controle de qualidade e de conformidade com regulamentações de segurança é a norma — explicou o advogado Flávio Meirelles, diretor do Grupo Meirelles IPC e OFFERTECH, e membro do Conselho Nacional de Combate à Pirataria do Ministério da Justiça.

* A reportagem faz parte do quadro "Clima em Jogo", do Redação sportv.

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