
Ao ser questionada sobre como é ocupar esta árdua função, ela afirmou que se sente como alguém que tem um grande tesouro para proteger. “O CSA faz parte da identidade do povo alagoano. Eu só enxergo pelos olhos da responsabilidade e do amor. Evidentemente, é um desafio, até porque o clube tem passado por grandes turbulências e, nos últimos anos, não consegue ter resultados esportivos que agradem o torcedor”, observou.
E prosseguiu: “No entanto, conquistamos um título importante, da Copa Alagoas, e um acesso à Copa do Brasil, garantindo recursos e calendário para 2025. Assim, o primeiro grande desafio foi alcançado. Teremos uma sequência de outros desafios. Esta é a dinâmica do futebol e isso não me assusta”.
O Azulão está na disputa a Série C este ano e, justamente sobre a missão de colocá-lo de volta à Série B do ano que vem, ela afirmou que o objetivo é fazer um time competitivo e que o trabalho será duro. “Nossa intenção será montar um time competitivo, engajado, que busque o acesso, acima de tudo. Mas sabemos que será uma missão muito árdua e teremos que ter muita resiliência no processo, superando cada etapa. Vamos trabalhar duro para isso”.
Segunda mulher a assumir a presidência de um clube de futebol no Estado, Mirian da Silveira Monte, 44 anos (24/09/79) é servidora do Judiciário Federal. Também formada em Direito pela UFAL, ela já foi delegada de Polícia Civil na Paraíba, além de já ter sido secretária de Cultura de Maceió, na gestão do atual prefeito, JHC.
A primeira a assumir os destinos de uma equipe alagoana foi Juniely Batista, em 2008, quando foi presidente do Sete de Setembro, que tinha sido presidido por João Batista, seu pai, já falecido.
Mirian Monte está comandando o CSA, após a renúncia do então presidente Rafael Tenório, em 14 de março deste ano. Aceitou o desafio de presidir o Azulão, quando muitos pensavam que iria “pular fora”. Seu mandato vai até fevereiro de 2027. Ela tinha sido convidada a compor a chapa como vice-presidente do Conselho Deliberativo, quando da eleição do então presidente Omar Coelho (já falecido). Nessa chapa, o presidente do Conselho era Rafael Tenório.
“Embora eu sempre frequentasse os estádios e meu pai fizesse parte do Conselho, eu não conhecia a dinâmica da política do clube. Infelizmente, a ausência de mulheres em espaços políticos nos põe em desvantagem e demoramos um pouco mais para assimilar a dinâmica e até para nos posicionar”, disse à Gazetaweb. “Meu perfil executivo me fez compor a chapa, como vice de Rafael Tenório, que resolveu renunciar e se afastar do clube”, emendou.
Diante da possibilidade de o clube passar por uma eleição no meio da Série C, com toda a disputa política envolvida em um pleito eleitoral, ela resolveu tentar salvar o CSA, levando grandes azulinos a uma gestão compartilhada e democrática, entre eles, segundo ela, o vice-presidente, Max Mendes.
Outras presidentes
E mais: a atual mandatária do Palmeiras, Leila Pereira, que assumiu o Verdão em 2021; além de Graciete Maués, que está na Tuna Luso-PA. Atualmente, só Mírian Monte, Leila Pereira e Graciete Maués seguem em ação em seus respectivos clubes.
“Elas me inspiram muito. A Leila, por exemplo, tem sido uma referência no futebol, para homens e mulheres, e isso é fantástico! Como é bom ver uma mulher desconstruindo paradigmas, preconceitos e vencendo, deixando sua marca no mundo. Eu, particularmente, sempre me inspirei em mulheres”, afirmou Mirian Monte.
No Brasil, algumas mulheres já assumiram a presidência de clubes de futebol. Exemplos de Jurema Bagatini Ramos, primeira a presidir um time brasileiro. Na década de 1970, e com 24 anos, ela comandou o Esporte Clube Encantado, da cidade Encantado-RS; Marlene Matheus, esposa do ex-presidente do Corinthians Vicente Matheus, que presidiu o Timão de 1991 a 1993; a ex-nadadora Patrícia Amorim (Flamengo - entre 2010 e 2012); Myrian Fortuna (Tupi - de 2013 a 2019); Luiza Estevão (Brasiliense), Maria Isabel Pimenta (URT de Patos de Minas) e Rita de Cássia (Bangu).
Família
Ao ser perguntada se tem o apoio da família em relação ao CSA, Mirian respondeu: “Desde muito nova sou submetida à pressão e acredito que me acostumei de maneira tal que, quando as coisas estão muito paradas, eu me entristeço. Gosto do desafio e minha família já desistiu de me fazer mudar de ideia. Então, recebo o seu apoio”.
A mandatária azulina tem uma filha, Maria Thereza, de 16 anos, também torcedora do Azulão. “Ela já saiu da maternidade com a roupinha do CSA. Meu marido é baiano, mas uma condição sine qua non para viver em paz comigo é torcer pelo CSA”, revelou.
Mirian explicou também como o futebol começou na vida dela. “Meu avô Benício Monte foi presidente do CSA na década de 1950. Durante sua gestão, ele construiu as arquibancadas de concreto e trouxe refletores, tendo promovido a primeira partida noturna do Nordeste no Mutange. Cresci ouvindo essas histórias pelo meu pai, Guilherme Monte, que sempre participou, de alguma maneira, do clube: foi conselheiro, presidente do Conselho Fiscal, dentre outras funções”.
Quanto ao preconceito por ser mulher em um ambiente masculino, ela afirmou: “Vão dizer que é ‘mimimi’, mas a verdade é que, o fato de eu ser mulher, exige de mim o dobro do cuidado e da atenção, para ocupar certos espaços, sobretudo os predominantemente masculinos. Precisamos estar sempre provando nossas capacidades. Mas encaro isso com naturalidade e, hoje, sinto alegria em poder abrir, por dentro, a porta para outras mulheres, em muitos espaços que já ocupei: polícia, política, judiciário, cultura, futebol”.
(Arivaldo Maia com a Jornalista Fernanda Medeiros)