Na última edição de 2019, dedicamos este espaço ao exame de fatos que notabilizaram a gestão pública no curso daquele ano. Apontamos, por exemplo, a insuficiência da rede de proteção social, o registro crescente de atos de violência contra a mulher, as obras inacabadas, o número vertiginoso de inquéritos parados nas delegacias e a legião de pessoas enquadradas na situação de extrema pobreza em Alagoas.
Agora, ao passar a régua em 2020, verificamos o agravamento de indicadores no Estado - que não pode ser explicado pela ação da pandemia. Se antes havia quase quinze mil inquéritos paralisados, o número duplicou absurdamente. Já o percentual de feminicídio disparou nos últimos tempos, lamentavelmente.
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Se a deplorável decretação do AI-5 inspirou o jornalista Zuenir Ventura a escrever sobre "1968 - o ano que não terminou", na atual quadra, os problemas decorrentes da Covid-19, sobretudo num Estado de maior vulnerabilidade, passam a sensação de que não concluímos o exercício, em razão de um abismo social recorrente no cotidiano das pessoas.
Mas o Novo Ano já raiou. Com ele, realimenta-se o sentimento de esperança na superação, na chegada de dias melhores, apesar de ainda estarmos vivendo o drama da maior crise sanitária deste século.
É tempo, portanto, de olhar para frente e refletir sobre o que disse o Papa Francisco, em sua mensagem natalina: "Que o filho de Deus renove nos dirigentes políticos e governamentais um espírito de cooperação internacional, a começar pela saúde, para que todos tenham acesso a vacinas e tratamento. Diante de um desafio que não conhece fronteiras, não podemos erguer muros".
Como asseverou o professor e escritor israelense Yuval Harari, autor de "Sapiens", a humanidade está numa encruzilhada. Ou segue pela trilha da desunião, ou escolhe o caminho da solidariedade global.
Contra o isolacionismo e a intolerância, que 2021 dissemine o vírus da cooperação. Este já impregnou nossa ordem constitucional, desde 1988, quando a legítima consolidação democrática colocou ponto final em 1968. Que o exercício da política seja no sentido do entendimento, do diálogo e da solução pacífica para os conflitos. Que este novo tempo, em especial, fique marcado na história pela vitória da vida.