A corrupção eleitoral nas eleições deste ano aderiu de vez ao modelohigh tech. Uma denúncia feita pelo partido PSB, do candidato João Henrique Caldas, o JHC, aponta que Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB), que é apoiado por Rui Palmeira e Renan Filho, por meio da candidatura do vereador Ib Breda (MDB), iria se beneficiar de um cadastro eleitoral feito via WhatsApp. A ação, protocolada nesta quinta-feira (22), sob número 0600095-14.2020.6.02.0002, aponta abuso de poder econômico, com aliciamento de eleitores e pede a impugnação das candidaturas.
O fato foi constatado a partir de um grupo um aplicativo de mensagem. A ação traz fotos e áudios das mensagens enviadas para orientar os membros sobre como deveriam proceder para receberem pelo voto após a votação no dia 15 de novembro.
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O grupo, no momento em que foi registrado o print para a ação, contava com 26 pessoas. Entretanto, em um dos áudios anexados como prova, uma mulher pede para incluir a "Vanessa, irmã do Jhones!", ao que o suposto administrador do grupo Jonathan Gomes, confirma já ter incluído.
"Boa noite gente aqui do grupo, vou fazer um comunicado aqui pra vocês em relação ao candidato. É, eu peguei o título de vocês, já está com número atrás, cada título de cada cidadão aqui do grupo está com o número da pessoa atrás. Aí vai ligar uma pessoa pra vocês se identificando com nome de João. Vai perguntar a você: qual o candidato para vereador você vai votar? Aí você fala 'IB BRÊDA', só isso, só confirmar IB BRÊDA e pronto, porque se não você vai sair do grupo. Exemplo, se colocar o nome de outro candidato ou falar que não vai votar nele", explica o homem em um dos áudios.
A orientação feita pelo administrador mais adiante é respondida por uma mulher, que não foi identificada na ação, mas que chega a fazer uma ameaça caso algumas regradas não sejam cumpridas. A principal é deixar o grupo de mensagens.
"Pronto, está certo, eu vou colocar aqui, agora você avisa, viu, as pessoas que se eu colocar no grupo, não vai poder sair e quando chegar no dia da votação, 'vai' ter que mandar, todas as pessoas 'vai' ter que mandar pra mim a foto do comprovante de votação, só vou liberar o dinheiro depois que eu tiver as 'foto' do comprovante, viu?", ameaçou uma das integrantes para disciplinar quem aceitou o esquema.
Mesmo tendo se dado totalmente via aplicativo, o velho método de ter acesso ao título das pessoas, no caso as cópias, não deixou de ser adotado. É o que revela outra transcrição usada para ilustrar a denúncia.
"Pessoal do grupo, eu 'to' precisando da xérox do título com nome completo atrás, o prazo é só até amanhã, viu? 'To' precisando. Por favor venha entregar aqui na minha residência. E quem não puder vim, eu vou na casa buscar", avisa o homem de forma muito solícita.
Aliciamento
De acordo com a ação as transcrições confirmariam a prática criminosa de aliciamento de eleitores com vistas a compra de votos. Não fica claro em quais bairros estariam ocorrendo, mas com base na relação de números também foi pedido a quebra do sigilo telemáticos para rastreamento dos atuais diálogos e novas provas.
O esquema contaria, inclusive, com um sistema de checagem onde uma pessoa identificada como "João" é quem faria a confirmação do posicionamento das pessoas do grupo sobre em quem votariam. De acordo com a orientação, cada membro do grupo precisaria confirmar o voto no vereador Ib Brêda.
Ainda de acordo com a ação, isso é um elemento importante para confirmar quem seria o beneficiário da articulação que se constitui como crime eleitoral, com base no uso de recursos o que caracterizou "abuso de poder econômico".
Por integrar a coligação, a denúncia também inclui Alfredo e o vice Tácio Melo (Podemos) como beneficiário em forma de "casadinha", ou seja, voto no vereador e para prefeito, em uma espécie de "pacote" construído para a futura compra de votos.
Outro lado
Diante da gravidade dos fatos, a reportagem daGazetaweb procurou o vereador Ib Brêda. No contato, também por aplicativo de mensagens, ele disse não conhecer Jonathan Gomes. E informou, ainda, que não trabalha com esse tipo de procedimento, atribuindo ao processo eleitoral esse tipo de invenção para prejudicar.
A reportagem também entrou em contato com a assessoria do candidato Alfredo Gaspar, mas não obteve retorno. Em contato com o coordenador de campanha, o advogado Cacá Gouveia, informou que não é a pessoa adequada para se posicionar, mas ainda assim agradeceu o equilíbrio do registro em querer viabilizar um posicionamento oficial da coligação.
O vice-candidato Tácio Melo, que também é citado na denúncia, foi constatado, mas, assim como Alfredo, até o fechamento desta edição não havia visualizado as mensagens, nem retornado o contato telefônico.