
Há dois anos, um grupo de manifestantes insatisfeitos com os resultados das eleições deixou um acampamento em frente ao QG do Exército em Brasília e depredou as sedes dos Três Poderes.
O Supremo Tribunal Federal (STF) já condenou 375 réus pelos atos de vandalismo, que resultaram na denúncia de 1.682 envolvidos. Em Alagoas, parlamentares que representam a esquerda e a direita ouvidos pela Gazeta convergem em relação à necessidade de punição aos envolvidos no ato, mas discordam sobre a pena aplicada e também a respeito de uma possível tentativa de golpe.
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O líder do MDB na Câmara Federal, Isnaldo Bulhões, disse que o momento mostra a importância da liberdade de expressão sem que seja sinônimo de desrespeito. “Esse momento lamentável da nossa história servirá para ficarmos vigilantes quanto à importância da liberdade de expressão sem que isso seja sinônimo de desrespeito, vandalismo e atentado contra nossa democracia.
É preciso divergir com respeito, principalmente às leis. Independente de opiniões políticas somos uma só nação”. O deputado federal Alfredo Gaspar (União) defendeu quesejam soltos os que não participaram da depredação e que a Constituição brasileira seja respeitada, complementando que o Brasil tem demonstrado uma grande desconfiança na credibilidade dos poderes.
“A narrativa construída em torno do 8 de janeiro interessa, sobretudo, àqueles que desejam esconder os problemas reais do Brasil e firmar o papel de salvadores da democracia. Que haja punição para os que efetivamente depredaram o patrimônio público, que os inocentes sejam soltos e que a Constituição Federal seja respeitada. Chega de falsas narrativas e de abuso de autoridade”, desaprovou.
Já o deputado federal Paulão (PT) vê todo o processo como um desrespeito à supremacia brasileira e também à Constituição. “O 8 de janeiro foi um atentado à democracia, ao Estado Democrático de Direito. Na realidade, foram atos terroristas praticados e articulados e está comprovado através do inquérito da Polícia Federal e também ações do Supremo Tribunal Federal que foi um ato planejado, pensado pelo ex-presidente Bolsonaro e pelo seu vice, o general Braga Neto”, iniciou, mencionando inquérito da PF que indiciou Bolsonaro, Braga Netto e mais 35 sobre tentativa de golpe em novembro”.
De acordo com Paulão, não pode haver impunidade ou anistia para os que estiveram envolvidos. “É fundamental que eles tenham uma punição severa para se vir de exemplo e, ao mesmo tempo, não estimular atos terroristas praticados por essa organização criminosa. E, pelo contrário, a gente tem que fazer luta em defesa da democracia. Então, enquanto eles quebram, depredam, não respeitam a nossa Constituição, a gente tem que fazer mobilização de rua em defesa da democracia”, afirmou.
INFILTRADOS
Para o deputado estadual Cabo Bebeto (PL), existiram naquele dia pessoas com intenções diferentes, mas que não há qualquer relação com golpe ou terrorismo. “Acho que, naquele momento, muitos patriotas estavam revoltados, alguns ficaram nos acampamentos, outros foram para a Esplanada e alguns também invadiram os prédios. Porém creio que talvez alguns tenham danificado um ou outro patrimônio público e devem responder por isso, mas nada se compara a terrorismo”, analisou.
O deputado salientou que acredita que havia vândalos infiltrados no ato e que, tendo participado de eventos da direita em sua trajetória política, nunca viu “ninguém com aquele perfil de estar destruindo patrimônio”.
“O que foi feito foi uma Justiça exagerada, e quando ela é exagerada, não é Justiça, é injustiça. E a gente tem aí pessoas que cometeram pequenos delitos, pessoas que sequer invadiram prédios públicos, condenadas a 14, 15, 17 anos de prisão, enquanto traficantes, corruptos, andam tranquilamente pelo Brasil”, criticou.
O deputado federal Rafael Brito (MDB) salientou a conquista da atriz brasileira Fernanda Torres no Globo de Ouro por meio do filme “Ainda Estou Aqui”, que retrata a história de Eunice Paiva.
“O dia 8 de janeiro marca um momento crucial na nossa história recente, quando mostramos ao mundo que o Brasil não se curva mais diante do autoritarismo. Enquanto alguns tentaram atacar nossas instituições, nós reagimos com firmeza, porque defender a democracia não é sobre lados políticos — é sobre amor à nossa pátria”.
PURA NARRATIVA
O vereador Leonardo Dias (PL), por outro lado, defendeu uma punição mais branda para os envolvidos nos atos, embora garanta que o episódio de vandalismo não representa os valores da direita. “Nada justifica episódios como o ocorrido em 8 de janeiro ou de outros ainda mais violentos que os movimentos de esquerda já realizaram em todo o Bra sil. Agora, é preciso dizer que vandalismo não é tentativa de golpe. Golpe no domingo, sem armas? Pura narrativa”, disse.
Ele considerou as punições aos envolvidos como uma “imputação de crimes em escala industrial”. “Temos uma dosimetria desproporcional sem a individualização de culpa. Réus primários com residência fixa, pegando 17 anos de prisão por rabiscar de batom uma estátua? Isso é Justiça?”, finalizou.
À Gazeta, o Ministro dos Transportes e senador licenciado Renan Filho (MDB) disse que a vitória do Presidente Lula fortaleceu a democracia do país e que os atos de dois anos atrás simbolizam “a truculência, a tirania e o desrespeito às instituições”.
“Para mim, o que houve depois do 8 de janeiro é o mais importante: o restabelecimento das forças democráticas, da harmonia entre os poderes e a justiça exercendo o seu papel. A lição que fica para os brasileiros é a de que nossa democracia é forte e a radicalização não é o caminho para a construção de futuro do País que todos nós sonhamos, com mais desenvolvimento, economia forte, equidade e inclusão”.