
Criminosos estão usando aplicativos de mensagem para aplicar golpes em alagoanos que estão com processos pendentes na Justiça. Eles se passam pelos profissionais e pedem dinheiro, simulando custas processuais. A Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas contabiliza cerca de 20 registros de Boletins de Ocorrências somente nas últimas semanas.
Uma das vítimas é cliente da advogada Bruna Sales. O golpista encaminhou uma mensagem com o número do processo e citando a petição inicial com os pedidos formulados de fato pela profissional.
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“Dá ainda mais realidade à situação, transforma isso num caso como se fosse verdade, alguém que conhece do processo, que sabe dialogar", disse a advogada.
Em uma das mensagens, ela relatou que o criminoso dizia ao cliente dela que tinha vencido o processo, que já tinha feito o bloqueio financeiro e que, em breve seria liberado.
“Como essa situação específica o processo estava numa fase inicial, a pessoa que recebeu disse: ‘Bom, isso está estranho’. E me demandou, procurando: ‘Tem certeza que isso aconteceu, é verdade isso?’. Foi quando a gente disse: ‘Não’. A gente acabou sendo envolvido num golpe. Eles usam a nossa imagem, trocam o nome no whatsApp”, disse Bruna Sales.
Esse não foi o único cliente que quase caía no golpe. Outra cliente da advogada ligou para ela chorando, acreditando que tinha ganhado a causa.
“Teve uma cliente que ligou para a gente chorando. ‘Meu Deus do céu, que bom que isso se realizou’. E a gente disse: ‘Não, infelizmente isso é um golpe’. Ela passou um tempo de silêncio. Eu disse: ‘Tá tudo bem por aí?’. Ela disse: ‘Não, não está tudo bem. Porque a gente vem aguardando essa resposta e quando a resposta vem é um golpe’. Então tem um envolvimento emocional muito forte”, pontua a advogada.
Três clientes da advogada Ana Gabriela Soares quase caíram no golpe. Para um deles, o golpista enviou por mensagem um documento com o timbre do Poder Judiciário, onde constam o nome do autor do processo e dados bancários.

“Durante a mensagem, o golpista se identificou como já estando lá no fórum, tentando agilizar esse processo para o levantamento desses valores. Então ele solicitou informações bancárias, ela passou todas as informações bancárias, e na sequência ele solicitou um extrato dos últimos trinta dias. Foi nesse momento que ela desconfiou e procurou contato do escritório para poder confirmar as informações”, disse a advogada Ana Gabriela.
Ela orienta que cliente e advogado se comuniquem sempre no número oficial do escritório e que evitem passar informações para números desconhecidos.
“A gente tenta entrar em contato com os clientes sempre pelos mesmos números, pede para que eles salvem esse número e toda comunicação tem que ser feita por ele. Qualquer mensagem que chegue de um número estranho, desconfie. Paralelo a isso, qualquer mensagem referente ao processo, ainda que seja pelo WhatsApp, dá uma ligada, tenta confirmar essas informações, antes de repassar qualquer informação comprometedora”, disse Ana Gabriela.
A OAB, só ano passado, recebeu 190 ocorrências registradas na instituição sobre situações de golpes, tendo como vítimas clientes e advogados.
“Só nas últimas semanas a gente recebeu em torno de 19 colegas advogados, que vieram até a Comissão de Fiscalização da OAB, munidos de Boletim de Ocorrência”, informou a presidente da comissão Priscila Barros.
Ela ressalta a importância de registrar o BO. “A gente sempre pede para aqueles que forem vítimas da situação apresentem o Boletim de Ocorrência, detectando o número que entrou em contato com o seu cliente, e faça todas as informações de como foi passada a situação, formalizem, e aí a polícia ou a própria OAB vai fazer o trâmite da situação”, disse a presidente da comissão.
O delegado da delegacia de Estelionato de Alagoas, Sidney Tenório, afirma que tanto os distritos policiais, como a própria especializada acompanham todos os casos que chegam a conhecimento da autoridade.
“Todo caso que chega hoje é encaminhado ao distrito ou pela Delegacia de Estelionato, dependendo do valor que é, mas geralmente são valores pequenos. As quadrilhas acompanham as publicações que são feitas no Diário Oficial da Justiça e, com base nisso, elas dizem que as pessoas têm um dinheiro a receber, que geralmente é um valor pequeno. Dizem que é para pagar uma taxa, um tributo e cobram um valor pequeno. Cada advogado procura o distrito e a Polícia Civil tem acompanhado. É possível chegar nas quadrilhas, mas é um trabalho bem difícil porque as quadrilhas atuam fora do Estado”, afirmou o delegado Sidney Tenório.
O delegado orienta que, ao receber alguma mensagem do gênero, o cliente converse antes com o advogado pessoalmente.
“Vá ao escritório antes de fazer qualquer pagamento. A gente sabe da ansiedade, tem situações que os clientes estão com 10, 15 anos esperando para receber dinheiro da Justiça, ficam ansiosos para receber e acabam fazendo pagamento dessa taxa e tributo que não existe. E se você é advogado, a gente orienta que sempre comunique no primeiro contato com o cliente. Dizer a ele: ‘Nós não fazemos qualquer tipo de cobrança e pedidos de dinheiro pelo WhatsApp. Na dúvida, se você receber, nos procura para saber se foi feita realmente pelo escritório'", orienta o a autoridade policial.
*Com TV Gazeta