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Israel não respeita palestinos nem quando estamos mortos, diz sobrinha de jornalista assassinada

Familiar de Shireen Abu Akleh, repórter morta na Cisjordânia, critica desrespeito em funeral e pede ação dos EUA

Todo dia é 11 de maio para Lina Abu Akleh. É a data da morte de sua tia, a celebrada jornalista palestino-americana Shireen Abu Akleh, alvejada na cabeça enquanto trabalhava na Cisjordânia. "Sinto como se eu estivesse presa em um ciclo. É um pesadelo. Uma bala mudou as nossas vidas", diz.

Há um crescente consenso de que Israel disparou contra Abu Akleh. É o que dizem a família, as autoridades palestinas e a imprensa estrangeira, que conduziu suas investigações. Na sexta-feira (24), a ONU se uniu ao coro, apontando que as forças israelenses dispararam contra Abu Akleh.

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Israel nega. O governo do país também afirma que, caso um de seus soldados tenha atirado na jornalista, foi por engano —uma consequência de estarem em uma zona de combate. "Eles estão fugindo da culpa, como fizeram no passado. Estão tentando acobertar seus crimes", afirma a sobrinha da repórter.

Lina, 27, fala de Jerusalém, onde mora desde que voltou de seus estudos em São Francisco, nos EUA. Durante a entrevista, recorda-se da tia como confidente, mentora, melhor amiga e segunda mãe.

Lembra-se, também, do que foi obrigada a ver no velório dela: forças israelenses atacando as pessoas que carregavam o caixão, que cambaleou. "Eles não nos respeitam quando estamos vivos e não nos respeitam quando estamos mortos. Violaram o direito dela a um funeral", diz.

Que tipo de pessoa Shireen era, para além da televisão? Ela era um doce. Tinha um ótimo coração. Era muito engraçada, também. Muita gente não sabe disso, porque ela sempre estava na TV, um ambiente no qual você precisa parecer sério. Era muito centrada. Sempre estava ao meu lado. Somos uma família muito pequena. Éramos seis pessoas, agora somos só cinco. Ela era minha confidente, minha mentora, minha tia, minha melhor amiga, minha segunda mãe e minha madrinha na igreja.

A família recentemente se reuniu para uma missa marcando os 40 dias de morte dela. Mesmo depois desse tempo, ainda sinto que é 11 de maio todo dia quando acordo. Sinto como se eu estivesse presa em um ciclo. É um pesadelo. Uma bala mudou as nossas vidas. Matou ela e matou também uma parte da gente. Uma parte da minha alma foi levada embora com a Shireen.

As investigações da mídia, como a publicada pelo New York Times, indicam que Israel é culpado pelo disparo. Tem esperança de que o país assuma a responsabilidade do crime? No final das contas, tendo em vista o histórico deles, não temos muita esperança. Eles já mudaram a narrativa deles diversas vezes, desde o momento em que Shireen foi morta. Estão espalhando desinformação. Estão tentando acobertar seus crimes. E parte da imprensa está fazendo a mesma coisa, alimentando a narrativa.

Mas boa parte da imprensa internacional tem sugerido a culpa de Israel. Existe uma mudança visível, na opinião pública, na direção de um apoio mais claro aos palestinos? Sim, há uma mudança na opinião pública, e esse é o nosso objetivo. Queremos mudar o discurso em torno de como os palestinos são representados na imprensa. Somos gratos às investigações que cobriram os fatos de maneira factual, como as feitas por CNN e New York Times, que sugerem que as forças israelenses dispararam contra ela.

Houve também bastante ultraje, no exterior, com as cenas dos ataques durante o funeral. Ela foi morta duas vezes. Foi morta em Jenin e no funeral, quando os israelenses atacaram de maneira selvagem os homens que carregavam o caixão. Tentaram fazer com que derrubassem o caixão, e o mundo todo viu. Eu estava lá, fiquei bastante traumatizada. Eles não nos respeitam quando estamos vivos e não nos respeitam quando estamos mortos. Violaram o direito dela a um funeral, à dignidade. Mas não nos surpreende. É o que um Estado faz quando ocupa outro povo.

Por que acha que dispararam contra a sua tia? Ela era uma palestina cristã, uma mulher jornalista, bastante conhecida, muito profissional. Objetiva, mas não era neutra. Dedicou toda sua vida a espalhar a verdade. Cobria toda a Palestina de diferentes ângulos, e isso não é algo que Israel queira. Eles não querem que as pessoas vejam o que está acontecendo: os palestinos vivem sob ocupação. Shireen dava voz aos palestinos silenciados. Era a voz da verdade. Quem fala a verdade é um alvo, e ela foi alvejada.

Shireen também tinha cidadania americana. Como interpreta a reação dos EUA? Agradecemos os esforços que os americanos fizeram desde o primeiro dia. Recebemos um telefonema de Antony Blinken, secretário de Estado. Ao mesmo tempo: e agora? Quando vão ter uma investigação independente? Vão responsabilizar Israel? Os Estados Unidos falam de democracia, de liberdade de imprensa. Por que há duas medidas? Todo o mundo está responsabilizando a Rússia por seus crimes na Ucrânia. Se Shireen tivesse sido morta na Ucrânia, a reação teria sido diferente. Há tanta evidência. Não sei o que mais podemos dizer. Há testemunhas. Está na hora de os EUA começarem a acreditar nos palestinos.

Joe Biden, presidente dos EUA, visitará Israel em julho. O que espera? Que algo de positivo saia dessa visita. Que responsabilizem Israel. É importante que a comunidade internacional continue a falar do caso. O que aconteceu com a Shireen poderia ter acontecido com qualquer jornalista. É importante apoiá-la.

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