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Plantadores de sombra: moradores deixam Maceió mais verde plantando árvores

Empresária e servidor público dão exemplo de cidadania e transformam ambiente em que vivem

O interesse de dona Ely Simone, de 54 anos, pelo verde começou ainda na infância. Nascida no interior de Minas Gerais - mas radicada em Alagoas já há 27 anos -, ela conta que gostava de plantar junto com a mãe. E plantava em todo lugar: até latas vazias de tinta serviam para abrigar as mudinhas cuidadas por ela. O fascínio foi crescendo, sendo alimentado e hoje a empresária ajuda a deixar Maceió um pouco mais verde.

Nesse tempo todo em que está por aqui, Ely já plantou mais de cem árvores na capital alagoana, a maioria amendoeiras. A arborização, feita por conta própria, começou há 25 anos, nas proximidades de onde morava, na Avenida Álvaro Calheiros, no bairro da Jatiúca. Mas o trabalho não se restringe à área e continuou na Mangabeiras, onde ela mora atualmente. O corredor Vera Arruda é uma das provas disso.

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Por lá, ela já semeou cajueiros, pés de acerola, amendoeiras. A preferência maior é por árvores grandes. "Sempre gostei de plantar tudo, árvore de frutas, de flores. Mas dou muita preferência para as grandes, que dão copa, porque gosto da sombra, do verde, do oxigênio", diz ela. "A primeira rua em que morei aqui era estreitinha e comecei a plantar ali árvores de sombra porque era muito sol, o asfalto ficava tinindo".


			
				Plantadores de sombra: moradores deixam Maceió mais verde plantando árvores
FOTO: Larissa Bastos

O mesmo aconteceu quando saiu do local onde estava, em 2012, para a casa onde mora atualmente, nas proximidades de um centro médico da região. Não havia sombra e nem vento. Sem tantos prédios até então, ela decidiu dar cara nova ao espaço. Pegou 25 amendoeiras e espalhou pela rua e no espaço que viria a ser o estacionamento do estabelecimento. Muitas delas, porém, acabaram arrancadas na construção do edifício.

"Era tudo muito ermo, sem sombras, sem vento. Plantei as amendoeiras, que já estavam com quase um metro. Um dia estava em casa e escutei um barulho. Era um trator que veio arrancando tudo. Fiz um escândalo, reclamei, falei que tinha autorização para ter plantado. Não tinha nada, era mentira, mas ainda consegui salvar seis na rua", afirma a empresária.

O episódio desanimou a mineira, mas não a fez desistir da ideia de deixar Maceió mais verde. Recentemente ela deu continuidade ao trabalho de plantar árvores e ocupou um terreno baldio no bairro. Com ajuda de outro morador, foram plantadas cerca de 90 amendoeiras no lugar, que, além do lixo jogado pela própria população, acumulava ainda animais como insetos, ratos e baratas.

"Comecei a pensar que precisava fazer alguma coisa e decidi plantar. Um senhor viu e me perguntou porque eu estava fazendo aquilo. Eu disse que achava que, se fizesse, ia intimidar as pessoas de jogarem lixo. Ele achou meio estranho, mas à noite eu pegava os baldes e ia lá jogar água. Um dia ele chegou com uns pneus e disse: 'vamos nos unir?'. Plantamos mais 90 e já estão todas com quase dois metros".

Quando não tem uma ajuda dessas, dona Ely faz tudo do próprio bolso. Compra as mudas e o adubo, passa regularmente para regar nos períodos de seca. Também está sempre atenta para o que pode encontrar pelo caminho. Na Jatiúca, por exemplo, já achou um canteiro natural de amendoeiras. Na Massagueira, pega pés de jambo. E, na praia da Sereia, encontra adubo natural.


			
				Plantadores de sombra: moradores deixam Maceió mais verde plantando árvores
FOTO: Larissa Bastos

Mas nem tudo a empresária faz sozinha: há alguns anos tem a ajuda do neto, Arthur, de 4 anos, que já pegou o gosto da avó pela arborização. "Ele faz as mudas, ajuda a plantar. Na seca a gente enche baldes de água e sai para molhar. Tem umas aqui perto da idade dele, que plantei quando ele nasceu. Sempre vou com ele cuidar e falo: 'quando eu estiver do outro lado, você cuida delas'", afirma.

O resultado já está sendo replicado entre os amiguinhos do menino. "Para ele é uma festa. E ele vigia as plantas também. Quando tem gente mexendo, ele diz: 'não pode tirar as folhas da árvore da minha avó'. E passa isso para os amiguinhos, então acho que é uma sementinha, que vamos ensinando aos poucos", ressalta ela, que já colhe os frutos da empreitada - os cajueiros do Vera Arruma mesmo já estão todos carregados.

Nem todo mundo, porém, entende o trabalho de formiguinha da mineira radicada em Maceió. Algumas pessoas já chegaram a arrancar as plantas e outros duvidam dos benefícios do plantio. Orgulhosa, ela já tem a resposta na ponta da língua: está pensando nas gerações futuras e no que pode deixar para elas.

"Muita gente me vê e diz que as árvores vão demorar para crescer, mas respondo que não estou pensando em mim. Têm meus netos, vou ter bisnetos. Vai ser lindo meu neto jogar bola debaixo dessas amendoeiras, sentar para estudar. Às vezes acham que sou meio doida", conta. "No Vera Arruda, não tem como ficar até o sol ir embora. Então penso: 'se eu plantar árvores perto dos bancos, daqui a uns anos vai ter sombra ali'".


			
				Plantadores de sombra: moradores deixam Maceió mais verde plantando árvores
FOTO: José Feitosa/GA

Morador também deixa Tabuleiro mais verde

Há cerca de 12 anos, o servidor público Roberto Luís de Oliveira, de 58 anos, transformou a rua em que mora plantando árvores - a maioria frutíferas - com o objetivo não só de garantir sombra nos dias mais quentes, mas também de atrair os pássaros, que andavam sumidos da localidade. O primeiro passo foi ir de casa em casa buscando o apoio e pedindo a autorização dos vizinhos. E como não apoiar tal iniciativa? Todos concordaram e deixaram que Roberto botasse o plano em ação.

As mudas vieram do Ibama e também de sementeiras feitas em casa por ele mesmo. No total, foram 14 árvores plantadas, regadas e cuidadas diariamente por muitos meses. Para cada uma delas, ele mesmo construiu um cercado de proteção com o objetivo de evitar a destruição das mudas. Sempre que chegava do trabalho, por volta das 22h, Roberto enchia uma garrafa de água e caminhava por toda a rua para regá-las e conferir se estava tudo certo.

O tempo passou e hoje a Rua Araguaia, no Tabuleiro do Martins, é conhecida nas redondezas como a "Rua das Árvores". Lá existem atualmente 2 pés de jambo, 2 de manga, 2 de caju, 2 de 'brinco de viúva', um pé de oiti, dois de Pau Brasil e um Ipê Rosa. Um pé de jaca e um Ipê Amarelo foram alvos de atos de vandalismo que os levaram à morte quando já estavam grandes.


			
				Plantadores de sombra: moradores deixam Maceió mais verde plantando árvores
FOTO: José Feitosa/GA

"Quando vim morar nessa rua havia muitos pássaros e todos eles sumiram com o tempo. Então tive a ideia de plantar árvores frutíferas para que elas pudessem atrair os bichos à região novamente. E deu certo. Quando as árvores começaram a dar frutos, os pássaros voltaram. Hoje eu ouço o canto do bem-te-vi pela manhã, sempre que acordo. Também tem muita rolinha e até azulão", afirma o servidor público.

Ele destaca também que, além de embelezar o ambiente, as árvores possibilitam que os moradores compartilhem de momentos de lazer sem se preocupar com o sol escaldante durante o verão. Isso sem contar com as frutas, que são objetos de desejo de todos os moradores da redondeza.

"É uma pena que a iniciativa não tenha se multiplicado em outras ruas por aqui. Gostaria que a minha rua fosse exemplo para as demais e todas elas se tornassem arborizadas, mas isso não aconteceu. Confesso que já tive vontade de plantar nas outras vias da região, mas por causa do trabalho ainda não tive tempo pra isso", destaca Roberto.

Hoje, já crescidas, as árvores não necessitam mais de tantos cuidados, mas o morador não as abandonou. Pelo contrário, é responsável por fazer a poda dos galhos ou acionar o órgão responsável sempre que eles começam a atrapalhar a fiação.


			
				Plantadores de sombra: moradores deixam Maceió mais verde plantando árvores
FOTO: José Feitosa/GA

Prefeitura diz que incentiva ações do tipo

Ely lembra que não consultou a Prefeitura de Maceió sobre o trabalho que vem fazendo para deixar a cidade mais arborizada. Mas a administração também nunca reclamou da iniciativa, acrescenta a empresária radicada em Alagoas. Às vezes, ela utiliza até dos serviços municipais para dar uma mãozinha na hora de plantar árvores maiores, que precisam de mais espaço.

"Às vezes até uso o serviço da Prefeitura sem ela saber. Quando vejo que os rapazes que podam estão por aqui ofereço uma água, um lanche e pergunto se eles não querem cavar o buraco para eu plantar. Às vezes, as árvores são muito grandes e minhas faquinhas são pequenas, então não consigo. Eles fazem na maior boa vontade. Marco os lugares, eles cavam e eu planto".

A gestão diz incentivar a população a fazer sua parte, tanto que pretende lançar o Disque Árvore, projeto da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável (Semds) que vai possibilitar que os interessados solicitem e recebam em casa exemplares para que sejam plantados. O órgão vai entregar ainda um manual de cuidados e seguirá um planejamento para acompanhar o desenvolvimento do que for semeado por aí.

A instituição afirma apenas que busca orientar sobre o plantio adequado, esclarecendo sobre locais corretos para evitar que, ao crescer, as plantas danifiquem redes elétrica e hidráulica e tenham que ser suprimidas. "Esta orientação é feita durante os eventos onde há a doação de mudas e também no Parque, com a equipe do Viveiro Público de Mudas", esclarece a administração da capital.

Em dois anos, 9.096 mudas - entre arbóreas e ornamentais - foram entregues pelo município a pessoas interessadas em espalhá-las pela cidade, que tem 30 árvores tombadas e imunes ao corte, além dos coqueiros da orla também na mesma situação. A própria Prefeitura levou, ao longo desse período, mais de 32 mil delas a praças, canteiros, escolas e vias públicas, como mostra um levantamento realizado pelo Departamento de Arborização e Jardinagem.

Em 2017, o município ganhou pelo menos quatro mil novos exemplares, entre ações da Semds e doações à população. A expectativa do órgão é plantar, até dezembro, outras seis mil mudas para ajudar a mudar a realidade local: em 2015, apenas 57,1% das casas maceioenses tinham árvores por perto, o que colocava Maceió na 3.845º posição no ranking brasileiro, segundo Censo do Entorno do IBGE. Algo que Ely e Roberto vêm, aos poucos, ajudando a mudar.

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