
Não é novidade para ninguém que a prática de exercício físico faz bem para a mente, a alma e o coração. Mas para o cabeleireiro José dos Santos, o Júnior, de 51 anos, ela traz ainda mais benefícios: é um elo forte entre ele e o filho, Jefferson Ferreira dos Santos, o Juninho, de 31 anos, que é deficiente e só se locomove na cadeira de rodas. Os dois, juntos, são protagonistas de uma história de amor entre pai e filho, e também pela corrida de rua.
Eles costumam percorrer entre 5 km e 10 km pelas vias do Vergel do Lago, em Maceió, chamando a atenção de quem cruza com os dois pelo percurso. Júnior, o pai, empurra a cadeira de rodas do filho, o Juninho, durante todo o trajeto, permitindo que ele sinta toda a adrenalina e emoção que só uma corrida de rua pode proporcionar.
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A história do cabeleireiro com o esporte começou há cerca de oito anos. No início, ele saía de casa sozinho para encontrar o grupo com o qual costuma ganhar as ruas. Tempos depois, decidiu levar Juninho, o primogênito de três filhos, para que ele pudesse socializar e interagir com os demais corredores. E eles não pararam mais.
Com falta de oxigênio no cérebro, Juninho não consegue coordenar os movimentos dos braços e das pernas, dependendo sempre de alguém para desempenhar atividades aparentemente simples do cotidiano, como levar um garfo à boca. Apesar das limitações físicas impostas pela deficiência, ele consegue se comunicar verbalmente e, hoje, já se sente “em casa” quando está em meio aos integrantes do grupo de corrida.
“Ele fica muito feliz de participar das corridas comigo e com as pessoas do grupo. Todo mundo interage com ele e nem parece que é uma pessoa com deficiência”, conta o pai, que costuma sair de casa para correr todos os dias, nas primeiras horas da manhã.
Nem sempre Juninho o acompanha, mas sempre que vai, distribui simpatia por onde passa. Para muitos, ele já é considerado o mascote do grupo. “Quando eu não levo, as pessoas já sentem falta e ficam perguntando porque ele não foi”, conta o pai.
Ele diz que, antes de sair para correr com o filho, é preciso verificar as condições de saúde dele. Quando está tudo certo, a preparação é simples, bastando passar o protetor solar em Juninho antes de saírem de casa.
Ele conta que o grande objetivo de levar Juninho para correr com ele é garantir que o filho tenha uma vida social, possa conhecer, conversar e interagir com outras pessoas, o que é fundamental para qualquer ser humano. Júnior ressalta que isso tem feito muito bem não só para Juninho, mas para toda a família. E recomenda a prática para quem tem alguma pessoa com deficiência na família.
“Quem tiver um filho com deficiência nunca deve privá-lo de uma vida normal como qualquer outra pessoa. O Juninho tem uma vida social, vai para corrida sempre que eu posso levar, mas também levo para o Estádio Rei Pelé e para outros lugares, como festas e passeios. Eles gostam de estar entre as pessoas. Quem convive com essa condição de saúde tem os mesmos direitos de qualquer outra pessoa. E isso é fundamental que todo mundo entenda”, destaca.
Além da corrida, pai e filho têm muitas outras coisas em comum e, inclusive, fazem aniversário na mesma data, neste sábado, dia 20 de julho. “Ele nasceu no dia do meu aniversário. É o meu presente, meu primogênito”, conta Júnior orgulhoso.

Regatianos, eles só discordam no futebol quando o assunto é Corinthians e Flamengo. O pai é flamenguista, mas o filho é corintiano, e sempre que esses dois times se encontram, é a maior confusão. “É aquela resenha que sempre tem entre rivais”, conta Júnior, destacando que o filho não toma nenhum remédio, compreende tudo e, à sua maneira, consegue se comunicar com qualquer pessoa.
O pai conta ainda que, agora, o próximo passo que ele quer dar com Juninho na corrida é sair do Vergel e fazer o trajeto na orla de Maceió, onde os dois vão poder apreciar não só a prática do esporte, mas também a bela vista do mar.
Ao correr empurrando a cadeira de rodas de Juninho, o cabeleireiro quer se tornar exemplo para outras pessoas, mostrando que é possível proporcionar momentos de emoção e alegria para quem tem deficiência.
“Muita gente tem filho, primo, irmão com deficiência e exclui essas pessoas da vida social. Eu quero ser o exemplo para elas, para que acordem e não façam mais isso. O ser humano precisa estar incluso em festas e atividades de lazer”, conclui o pai.