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Cercado por histórias, tomba o Hotel Atlântico

Histórico palacete na Avenida da Paz, no Jaraguá, abrigou casa de veraneio para governadores e quartel-general


				
					Cercado por histórias, tomba o Hotel Atlântico
Hotel Atlântico. Reprodução

Construído no início do século 20, o palacete que sediou o histórico Hotel Atlântico também abrigou, desde um quartel general e casa de veraneio até palacete governamental e abrigo para fugitivos políticos. Um prédio que acumulou tanta história hoje deixa apenas detritos, poeira e memórias.

O local, que é parte do patrimônio histórico e arquitetônico da Avenida da Paz, em Maceió, desabou na tarde de domingo (21), após alguns dias de chuva na capital alagoana. O tombamento espalhou detritos pelas vias no entorno e gerou congestionamentos.

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O palacete foi construído na Rua Saraiva, número 103, no Aterro de Jaraguá, atual Avenida da Paz, em um tempo onde aquelas ruas ainda eram desertas e a maior presença era do céu azul e da brisa do mar. Hoje, um monte de entulho determina o fim do prazo de validade do Hotel Atlântico, o fim de mais um patrimônio histórico e cultural alagoano.

O começo das muitas histórias que envolvem o local é o ano de 1908, quando foi anunciado que o imóvel se tornaria um quartel general. No entanto, a ocupação pelos militares foi realizada de fato no ano de 1910, quando foi transformado em Quartel-general da Inspeção Permanente do Exército, com ocupação do alagoano General de Divisão Francisco da Rocha Callado, que chegou a residir no Hotel durante os anos de ocupação dos militares.

No ano de 1920, o prédio foi alugado ao governo do Estado como casa de veraneio, sendo ainda chamado de Palacete dos governadores, e, só então, com a revolução de 1930, é que o futuro Hotel Atlântico foi devolvido aos proprietários, que ainda deixaram o imóvel sem uso por alguns anos até que fosse inaugurado como o primeiro grande Hotel de faixa litorânea de Alagoas.

Na década de 1960, o hotel era ainda bastante movimentado, mas não foi sempre assim. É o que nos conta o historiador Carlito Lima: “Embora a Avenida da Paz tenha sido construída em 1918-1919, só nos anos 30 é que a burguesia de Maceió descobriu a Avenida da Paz e foi morar lá”. Mas para entender o que chamava tanta atenção do Hotel naquela época, é necessário abrir um panorama de tudo que fazia com que o imóvel fosse valorizado, como começa enumerando Carlito: “Primeiramente, foi o primeiro hotel à beira-mar. Antigamente, tinha os hoteis Beirites, o Hotel Bela Vista, mas todos eram no centro da cidade. Então, o Hotel Atlântico, ele ficava ali à beira-mar, junto do Salgadinho. Nessa época, o Salgadinho não era poluído e muita gente se hospedou ali naquele hotel.”


				
					Cercado por histórias, tomba o Hotel Atlântico
Parte da estrutura do hotel caiu, nesse domingo. Ailton Cruz

O historiador ainda relembra de figuras importantes que passaram pelo hotel, e da própria juventude: “Eu me lembro de ter visto o Gilberto Gil, ter visto também o Paulo Gracindo e mais outros artistas que vinham pro teatro e ficavam hospedados no Hotel Atlântico, até time de futebol [...] outra coisa, no Hotel Atlântico tinha um bar, restaurante, que nós, na nossa juventude, já com os 15, 16 anos, nós íamos tomar cerveja com tiragosto lá.”

Em meados de 1975, o hotel, à época sob gestão do empresário Theobaldo Barbosa, serviu ainda de abrigo para os que buscavam refúgio contra o regime militar, como é o caso do advogado e jornalista Jayme Miranda, que era, também, filho do dono do estabelecimento. O hotel abrigou opositores políticos do regime, oferecendo-lhes proteção e discrição, conforme fugiam das perseguições, comuns à época.

A família Miranda possui a propriedade do Hotel Atlântico desde a década de 1950. No ano de 2023, devido a falta de manutenção durante anos, o prédio já se encontrava em estado crítico, o que fez com que Willy Miranda, atual detentor dos direitos do imóvel por usucapião, avaliasse uma demolição. Não tendo os R$100 mil necessários, Willy tentou recorrer à Defesa Civil de Maceió, que fez um registro de ocorrência. Aberto em outubro de 2023, o processo está parado desde setembro do mesmo ano.

Neste último domingo, dia 21 de abril, parte do edifício cedeu e seus escombros ficaram espalhados até a segunda faixa da pista. Felizmente, não houve vítimas, mas devido ao risco oferecido aos transeuntes, a Defesa Civil isolou a área até que a demolição seja finalizada.

O bairro do Jaraguá possui, em média, 84 tombamentos, que é o reconhecimento do valor histórico e culural de um bem. Para que existam esses tombamentos e, consequentemente, edifícios históricos sejam preservados pelo estado, legislações específicas foram aprovadas ao longo dos anos, como explica a arquiteta e urbanista Thalianne Leal. “O município de Maceió possui legislação específica, que identifica algumas zonas especiais de preservação, como também pode identificar unidades especiais de preservação, que são imóveis isolados, que também são possíveis de serem preservados, identificados como de relevância histórica.”

Um imóvel não é apenas um montante de cimento e tijolos, principalmente quando se há tanta história envolvida. Essas estruturas fazem parte da memória histórica e cultural, reitera a especialista: “A importância deles é que são testemunhos materiais do passado da cidade. São edifícios e espaços urbanos que demonstram as formas de construir, maneiras de habitar ou utilizar que ao longo do tempo perdem-se devido às mudanças das sociedades. Nosso papel é garantir que gerações futuras possam usufruir deste conhecimento”.

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