Que a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) é um local de produção de conhecimento todo mundo já sabe, mas que lá abriga um centro de inovação que tem desenvolvido grandes projetos para empresas nacionais e multinacionais, movimentando cerca de R$ 20 milhões ao ano, é novidade para muitos. Criado em 2015 dentro do Instituto de Computação da Ufal, o Edge tem realizado um trabalho de excelência e conquistado inúmeros prêmios internacionais, levando o nome do Estado para o mundo.
Atuando em três frentes principais de trabalho, automação industrial, sistemas embarcados e aplicações em inteligência artificial, o Centro de Inovação tem passado, desde a pandemia da Covid-19, por muitas mudanças e grande crescimento. Para se ter uma ideia, quando começou a operar, em 2016, eram cerca de 10 pessoas na equipe. Durante a pandemia, esse número passou para 60, saltando, nestes últimos 3 anos, para 250 pessoas envolvidas nos projetos.
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A cartela de “clientes” é variada e conta com nomes como Petrobras, Lenovo, Asus, Epson e Siemens. A lista de projetos executados passa de cem, em parceria com mais de 40 empresas, o que demonstra que o Centro tem cumprido o seu principal objetivo, que é o de realizar projetos de inovação tecnológica junto a empreendimentos públicos e privados.
Os resultados têm dado tão certo que, hoje, as demandas chegam das empresas para o Centro de Inovação e não há mais necessidade de realização do movimento inverso, de buscar, ativamente, novos parceiros. A procura tem sido tanta que, recentemente, foi preciso recusar alguns trabalhos, parar e estudar se o desejo seria crescer mais e como isso poderia ser feito, de forma a não comprometer a qualidade do que é ofertado.
Os projetos são captados via Lei de Informática (8248/1991), que desonera empresas que investem em pesquisa e desenvolvimento no país. Um dos trabalhos já entregues pelo Edge e que está à disposição dos consumidores no mercado foi o de uma babá eletrônica inteligente, que conta com multifunções, diferente da maior parte desse tipo de item que pode ser encontrado nas lojas. Trata-se do modelo Pixsee, vendido por cerca de R$ 5 mil em sites de vendas de grande renome, como a Amazon.
Fruto da parceria com uma gigante no mercado de hardware no mundo, a Compal Eletronics, a babá eletrônica inteligente ganhou dispositivos que identificam questões como umidade e temperatura do ambiente; detecta a causa do choro (identificando se trata-se de fome ou dor) e até situações de perigo (como quando o bebê rola no berço e fica com o rosto virado para baixo), emitindo sinais sonoros de alerta para o adulto que está acompanhando o bebê por meio do equipamento.
Além disso, com a tecnologia desenvolvida em Alagoas, a babá eletrônica também possui a funcionalidade de criar álbuns fotográficos semanais, congelando imagens e as transformando em fotos que vão sendo armazenadas no dispositivo, que pode ser acessado por meio de um aplicativo. Com as fotos, os pais podem conferir os melhores momentos do bebê que, normalmente, são perdidos, como quando ele sorri ou até mesmo rola pela primeira vez.
O professor da Ufal e diretor de Relações Institucionais do Edge, Mario Hozano, fala com orgulho do projeto, que já rendeu alguns prêmios internacionais. “Esse projeto é desenvolvido com a Compal há mais de dois anos e, de lá para cá, já ganhamos alguns prêmios com ele. É um trabalho que foi entregue, mas que sempre precisa passar por atualizações, que é o que estamos fazendo atualmente”, conta o professor.
Ele ressalta que o desenvolvimento da tecnologia para a babá eletrônica envolve o trabalho de cerca de 15 pessoas do Centro de Inovação, que é responsável apenas por uma parte do produto. “Na verdade, todo o projeto envolve uma equipe multidisciplinar. Nós somos responsáveis por uma parte, que é a do aplicativo em si. Desenvolvemos, principalmente, o aplicativo para Android. Já ganhamos vários prêmios com esse projeto”, afirma.
Uma das premiações ocorreu no evento de tecnologia considerado o mais influente do mundo, o Consumer Electronics Show (CES) 2023, realizado no início de janeiro deste ano, em Las Vesgas ( EUA). A Pixsee recebeu o prêmio Innovation Awards Honoree, levando a honraria na categoria Smart Home, que reconhece os produtos de destaque para a composição de um "lar inteligente".
Valorização dos talentos alagoanos
Por ter nascido dentro da universidade e estar no centro de formação dos profissionais que ganharão o mercado da tecnologia, o Edge mantém um quadro formado, quase que em sua totalidade (cerca de 90%), por alagoanos. Um verdadeiro incentivo à pesquisa e inovação no âmbito local.
Pessoas que atuam de forma presencial e permanecem na Ufal, egressos que estão fora da academia e moram em Alagoas e até pessoas que passaram pela universidade federal e hoje residem em outros estados ou, até mesmo, em outros países, são abraçadas e têm a oportunidade de participar de importantes projetos dentro de suas áreas de atuação.
“Antes da pandemia, todo o trabalho era feito nas dependências da Ufal. Mas isso mudou e passamos a adotar o modelo híbrido, até porque, com a quantidade de colaboradores que temos hoje, não seria mais possível atuarmos lá. Temos pessoas remotas, que moram em outras cidades de Alagoas, como Arapiraca e Palmeira dos Índios; em outros estados, como Paraíba, Minas Gerais, Pernambuco e São Paulo, e até colaboradores que estão fazendo doutorado na Europa e contribuem com nossos trabalhos”, afirma o professor Mario Hozano.
Ele conta que, ao iniciar um projeto, com 15 dias já é possível apresentar alguma nova funcionalidade. À medida que os trabalhos vão evoluindo, vão sendo entregues às empresas parceiras, de forma que elas decidem o momento ideal, por exemplo, para colocar o produto no mercado.
Um trabalho bastante importante feito pelo Edge foi realizado junto à Petrobras, por meio do desenvolvimento de soluções para perfurações de poços profundos. É a tecnologia sendo utilizada para os mais diversos fins. “Nós somos a única universidade que desenvolveu um projeto para a Petrobras e que já entrou em produção. Atualmente, ele vem sendo renovado e estamos criando um novo sistema para apoiar as atividades para a construção do poço, perfuração dele”, explica Mario.
Infraestrutura
O Centro de Inovação conta com uma estrutura com ótimos equipamentos, alguns deles cedidos pela Universidade Federal e outros adquiridos pelo próprio Edge. São computadores oferecidos aos colaboradores, quatro supercomputadores que custaram cerca de R$ 400 mil cada, impressora 3D e outras máquinas utilizadas para a execução dos trabalhos.
Quanto à estrutura física, são cerca de dez salas de laboratório espalhadas pela Ufal, além de uma espaço dentro do Polo Tecnológico do Jaraguá, resultado de parceria com o Governo de Alagoas. Atualmente, o local vem sendo reformado e deve ser utilizado para receber empresas interessadas em parcerias com o Centro de Inovação.
“Em termos de equipamentos, não conseguimos precisar os valores, mas temos um conjunto legal deles. Cada projeto tem a necessidade de um equipamento novo e, assim, a gente vai compondo o nosso patrimônio”, afirma o professor.
Ele conta que há, atualmente, neste período pós-pandemia, uma corrida mundial por profissionais que trabalham com tecnologia, diante do fato de existirem mais vagas que pessoas. Com isso, o Edge está à frente de outros centros, especialmente por ter acesso à mão de obra especializada e qualificada que está sendo formada na Ufal.
“Estamos formando pessoas na universidade. Um banco de talentos para termos uma reserva. No ano passado, chegamos ao ponto de avaliar se valia a pena crescer. Seguramos um pouco o crescimento para que, este ano, conseguíssemos fazer uma reestruturação. Criamos um programa piloto de formação de pessoas de nível de excelência. Quando estivermos com esse programa estabelecido, vamos conseguir nos organizar melhor para acompanhar o crescimento e avançarmos em uma velocidade ainda maior”, conclui Mario.
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