Estudantes de medicina da Turma 50 da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal) se reuniram para criar um movimento que busca a valorização do curso e cobra a solução de diversas reivindicações, como a contratação de professores para disciplinas que, segundo os integrantes da campanha #ReageMedicina, não estão sendo ofertadas por falta de corpo docente especializado.
“Estamos há anos passando por um sério sucateamento e que, se não for devidamente contornado, pode por fim ao curso médico. A reitoria não nos ouve e não toma previdências. Estamos sem disciplinas, sem coordenador e completamente desamparados”, diz um trecho da nota emitida pelos alunos da Med50 Uncisal.
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Outro ponto que gera revolta nos estudantes é o posicionamento da universidade diante das polêmicas em torno da vacinação de estudantes, já que a Uncisal teria apoiado denúncias de alunos, alegando irregularidades que futuramente foram provadas como inexistentes. Os integrantes do movimento também citaram um processo de boicote por parte da universidade em relação ao curso.
“Essas questões são bem antigas. Se pegar turmas de cinco anos atrás, vão relatar as mesmas questões. A gente observa a saída de professores, que mesmo avisando previamente, não são devidamente substituídos. A gente segue há anos sem a disciplina de anestesiologia, pneumologia, a disciplina de gastroenterologia vem sofrendo. A gente segue sem prática de neurologia. Tudo por falta de organização que nada mais é que um reflexo deste processo de boicote ao curso médico”, relatou a aluna e integrante do #ReageMedicina, Thaíse, que cursa o quarto ano de medicina.
A aluna conta ainda que os estudantes não possuem representação perante à administração da universidade, pois o curso segue sem um coordenador de Medicina e também sem coordenação de internato, mesmo com alunos prestes a entrar nesse serviço e atrasando o cronograma acadêmico por conta da defasagem.
Reunindo todos os problemas relatados, os estudantes de medicina chegaram à seguinte lista de reivindicações:
- O curso de Medicina não possui um coordenador eleito;
- O curso de Medicina carece de um laboratório de anatomia em funcionamento, os alunos que estão cursando a disciplina no momento vão integralizar a carga horária sem aulas práticas presenciais;
- No projeto pedagógico do curso está prevista a curricularização da extensão com carga horária mínima de 800 horas embora a universidade não forneça projetos com vagas suficientes para os seus acadêmicos;
- A disciplina de semiologia médica está sendo ministrada por apenas um professor, com aulas teóricas online, mas sem práticas presenciais, e estudantes estão avançando para o ciclo clínico sem as habilidades de história clínica, exame físico e conhecimentos básico sobre diagnóstico das grandes síndromes;
- O laboratório de habilidades não dispõe de dispositivos que possibilitem o treinamento técnico prévio, sendo o acadêmico limitado a realizar procedimentos em pacientes sem ter conhecimento prévio da técnica em treinamento com manequins;
- A disciplina de Ginecologia carece de professores especialistas e os estudantes vão integralizar a carga horária sem práticas presenciais, não tendo habilidades para a realização da propedêutica ginecológica;
- A disciplina de anestesiologia está sem professor há pelo menos 3 anos e os estudantes estão integralizando a carga horária sem o conhecimento básico de anestesiologia;
- A disciplina de pneumologia está sem professor especialista e o estudante sai sem o conhecimento de patologias básicas importantes como as pneumonias, asma, bronquite e entre outras síndromes respiratórias, essenciais para o conhecimento do médico;
- A disciplina de gastroenterologia possui professores titulares insuficientes o que dificulta o funcionamento da especialidade na instituição;
- A disciplina de anatomia patológica está funcionando com apenas um professor para duas turmas, o que sobrecarrega o docente e prejudica o funcionamento da disciplina;
- A disciplina de neurologia não possui professores suficientes e os acadêmicos concluem a especialidade sem aulas práticas presenciais;
- Não temos coordenador de estágios e o internato do curso de medicina apresenta uma desorganização imensa, ficando totalmente desamparados pela instituição;
- O internato de medicina não tem preceptores próprios da instituição em todos os cenários de prática e isso implica em inúmeras problemáticas anualmente, mudando cenários e metodologias de “aprendizado” a cada turma;
- As decisões e deliberações acerca do curso de medicina são tomadas por pessoas que não conhecem o projeto pedagógico do curso e muitas vezes tentam prejudicar o funcionamento do mesmo;
- O curso de medicina da Uncisal possui inúmeros professores em licença, processo de aposentadoria, ou apenas sem exercer as suas atividades, mesmo sendo remunerados, e nada é feito quanto a isso;
- Muitos docentes especialistas do curso de medicina estão exercendo a sua função fora de sua especialidade, ou estão com carga horária ociosa;
- A reitoria da Uncisal é ciente de todos esses problemas, e burocratizam as ações através de processos protocolados que são respondidos de maneira vaga e sem resolutividade;
- Todos os anos enviamos solicitações e encaminhamos demandas à reitoria da Universidade, que não são solucionadas;
- O curso de Medicina da Uncisal foge de todos os requisitos para o funcionamento do curso preconizados pelas portarias do ministério da educação;
A aluna reiterou que a campanha vai além das reclamações pontuadas, mas também pede a valorização do curso de Medicina da Uncisal. Ela ainda ressaltou que, mesmo com as adversidades, a universidade consegue formar profissionais extremamente competentes, mas nem por isso a situação deve ser normalizada.
“A questão é que a gente, como aluno, se sentindo abandonado, não pode deixar pensarem que, porque os alunos conseguem superar as diversidades, pode deixar correr dessa forma. A gente precisa tomar uma atitude principalmente se são queixas que vêm se repetindo ano após ano”, conclui a estudante.
Posicionamento da Uncisal
Diante das reivindicações listadas pelos alunos, a Uncisal lançou uma nota oficial, reforçando que qualquer solicitação deve ser feita diretamente à reitoria da instituição ensino, que está aberta ao diálogo com a sua comunidade acadêmica.
Leia a nota na íntegra
Sobre as demandas apresentadas por estudantes de Medicina, a Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal) informa que:
1) O curso de Medicina da Uncisal tem como coordenador, atualmente, o professor José Tenório. O docente está na condição de coordenador pro tempore, considerando que o processo eleitoral realizado em outubro de 2020 não apresentou candidatos e que o processo desencadeado em março de 2021, com dois candidatos inscritos, está suspenso por solicitação dos estudantes, via Ouvidoria e Ministério Público, pela diminuição de transporte intermunicipal durante a fase vermelha. A suspensão foi referendada pelo Conselho Superior Universitário;
2) O laboratório de anatomia da Uncisal está com reforma em fase de conclusão, como mostra as imagens em anexo, para garantir condições adequadas para os estudantes;
3) Sobre o processo de curricularização, a oferta de cursos de extensão depende de demandas
apresentadas pelos professores. A Uncisal busca estimular essas ações para atender às recentes determinações do Ministério da Educação;
4) As aulas de Semiologia estão sendo ministradas por um único professor, porque os outros dois docentes integram o grupo de risco e estão afastados de suas funções;
5) O Laboratório de Habilidades recebeu equipamentos novos há menos de dois anos, com a substituição de manequins antigos por novos;
6) Não foram apresentadas à Reitoria da universidade demandas referentes às disciplinas de Ginecologia e Gastroenterologia. É necessário que a coordenação de curso instale processo administrativo para que providências legais possam ser adotadas;
7) Os professores Edmilson Gaia e Aldo Calaça estão à frente das disciplinas de Pneumologia e Neurologia, respectivamente;
8) A nomeação de professor para a disciplina de Anestesiologia depende de autorização do governo do estado. A Uncisal tem buscado contratar professor temporário, obedecendo todos os requisitos legais.;
9) A disciplina de Anatomia Patológica possui professores com carga horária condizente à carga horária da disciplina;
10) Sobre a coordenação de estágios e o internato de Medicina, a coordenação de Medicina
convidou docentes do curso, mas os convidados declinaram o convite;
11) As decisões e deliberações sobre o curso de Medicina são tomadas pelo Núcleo Docente
Estruturante (NDE) e colegiado de curso, que são formados por docentes dos cursos;
12) Sobre o funcionamento do curso, a Uncisal informa que toda a matriz curricular e Projeto Pedagógico do Curso são elaborados pelo Núcleo Docente Estruturante, aprovados pelo colegiado do curso e referendados pelo Conselho Superior Universitário;
13) Não foram apresentadas à Reitoria da universidade demandas referentes a docentes atuando fora de suas especialidades. É necessário que a coordenação de curso instale processo para que providências legais sejam adotadas.
A Uncisal reforça que está aberta ao diálogo com os estudantes. Porém, a Reitoria destaca que as solicitações devem ser oficializadas e feitas seguindo o fluxo de todas as instâncias da instituição: a coordenação de curso; a coordenação de Núcleo; a direção de Centro e a Reitoria.