O Ministério Público Estadual de Alagoas (MPE/AL) espera que os envolvidos na morte de Franciellen Araújo, ocorrida em fevereiro de 2013, peguem pena máxima pelo crime. Vanessa Ingrid da Luz Souza, Thiago Handerson Oliveira Santos e Victor Uchôa Cavalcanti são acusados de torturar e queimar a jovem viva e foram indiciados por homicídio doloso triplamente qualificado. O júri popular acontece nesta quarta-feira (23).
Os outros envolvidos, Saulo José Pacheco de Araújo e Nayara da Silva, também serão julgados hoje, em juri conduzido pelo juiz Geraldo Amorim. Saulo, entretanto, foi enquadrado em apenas uma qualificadora no assassinato, que é o emprego do fogo, enquanto Nayara foi pronunciada por tortura. Segundo o promotor José Antônio Malta Marques, o trio responsável por articular e a morte.
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"Vanessa, Thiago e o Victor, estão denunciados por homicídio doloso triplamente qualificado, por motivo torpe, com crueldade e dissimulação. Todos os outros fatos já são notados, mas a dissimulação é porque a vítima foi levada ao apartamento dizendo que iria para uma festa e, no entanto, lá já estava armada toda uma cena para torturá-la, queimá-la e levá-la para o local onde foi finalmente executada".

O promotor destaca que o objetivo é que os acusados peguem a maior pena possível pelo crime, que teria sido motivado por ciúmes de Vanessa com relação ao parceiro, conhecido como Ninho do Zé Tenório. A ré teria resolvido matar toda mulher que tivesse se envolvido com ele. "O intuito do MP é de que todos os réus sejam condenados nas penas máximas dentro da previsão legal instituída pela sentença de pronuncia".
Malta Marques acrescenta que a demora no julgamento, que acontece mais de cinco anos após o homicídio, foi ocasionada pela defesa dos suspeitos. "Cinco anos após, o Judiciário poderá dar uma resposta à sociedade. Esse tempo aconteceu não por conta do MP ou do Judiciário, mas devido ao grande número de advogados defendendo os réus, que impetraram uma série de recursos", aponta.
Tanto o advogado de Vanessa Ingrid, Leonardo Ribeiro, quanto o de Saulo, Leonardo de Morais, afirmaram que vão usar, na defesa, a negativa de autoria.
Já o advogado de Thiago, o defensor público Ryldson Martins Ferreira, disse que Vanessa foi a mentora do crime. De acordo com ele, a ré conhecia o ponto fraco de seu cliente, que era o uso de drogas e sustentava o vício. "Era fácil convencê-lo de fazer o que quer que fosse", ressalta o defensor, acrescentando que eles eram próximos e tinham um grau de parentesco.
Ryldson confirma que Thiago participou do assassinato, mas diz que ele foi coagido por Vanessa, que teria, inclusive, mantido relações sexuais com ele de forma a convencê-lo a participar. A defesa espera, com esses argumentos, demonstrar que ele foi manipulado. "Vamos tentar, com isso, atenuar a punição".
O crime

De acordo com a denúncia, por volta das 19h30 do dia 14 de fevereiro de 2013, no bairro Cruz das Almas, Franciellen Araújo Rocha foi espancada e torturada pelos acusados, com auxílio de menores de idade. Por volta das 22h, a jovem foi levada ao Condomínio Residencial Serra Mar, na Serraria, onde teve braços e pernas imobilizados e teria desmaiado após mais uma série de espancamentos, momento em que teve seu corpo coberto por gasolina e ateado fogo.
Para dar início ao plano, Vanessa teria convidado amigos para uma festa em seu apartamento, prometendo fornecer bebidas e entorpecentes. Quando a festa começou, Vanessa questionou uma jovem sobre suposto relacionamento com seu parceiro. A menor negou e apontou Franciellen como a pessoa que mantinha relacionamento com Ninho do Zé Tenório.
Vanessa Ingrid ordenou então que a menor atraísse a vítima para o apartamento. Com a insistência da colega, Franciellen confirmou a ida à festa. Na chegada, foi recepcionada por Thiago com um murro no rosto, caiu no chão e foi arrastada até o quarto, onde foi espancada por mais de duas horas. Ela também teve o cabelo cortado, foi queimada no rosto com pontas de cigarros, teve as sobrancelhas raspadas e foi sufocada com uma toalha molhada.

Ao final da festa, ainda segundo a denúncia, a ré teria dado R$ 10 para que as amigas de Franciellen fossem embora de táxi, ameaçadas para que não contassem nada a ninguém. Após esse momento, os acusados saíram no carro de Saulo e pararam para comprar gasolina, seguindo em direção ao conjunto José Tenório.
Eles teriam entrado em uma estrada de barro e lá forçaram Franciellen a descer do veículo, conduzindo-a por vários metros. Thiago e Victor a imobilizaram com fitas adesivas, nos braços e nas pernas. Em seguida, Vanessa teria reiniciado as torturas, até a vítima desmaiar. Neste momento, Franciellen teve o seu corpo embebido em gasolina e foi ateado fogo nela.