O procurador Deltan Dallagnol , coordenador da força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) responsável pela Lava-Jato em Curitiba, teria planejado montar uma empresa para proferir palestras e outros eventos com seu colega de equipe Roberson Pozzobon. A ideia era lucrar com a notoriedade da operação. O negócio, de acordo com os novos diálogos divulgados pelo site "The Interpcet" e extraídos de mensagens de um grupo de chat no Telegram e publicadas na edição deste domingo na "Folha de S. Paulo", iria ser tocado pelas mulheres dos procuradores, que apareceriam como sócias. O objetivo seria evitar que ambos fossem alvos de questionamentos.
Dallagnol afirmou à "Folha" que realiza palestras para "promover a cidadania e o combate à corrupção" e que esse trabalho ocorre de maneira compatível com a atuação no Ministério Público Federal. Ele e Pozzobon negam ter aberto empresa ou instituto de palestras em nome deles ou de suas esposas. Sobre as palestras, afirmam que são "prática comum no meio jurídico por parte de autoridades públicas e em outras profissões".
Leia também
Nas mensagens entre Dallagnol e sua esposa, no fim de 2018, segundo o jornal, eles discutem a criação da empresa na qual eles não apareceriam formalmente como sócios.
"Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar nosso networking e visibilidade".
Ainda de acordo com a reportagem, os procuradores cogitaram criar um instituto com o objetivo de obter elevados cachês. "Se fizéssemos algo sem fins lucrativos e pagássemos valores altos de palestras pra nós, escaparíamos das críticas, mas teria que ver o quanto perderíamos em termos monetários", comentou Deltan com o integrante da força-tarefa.
Deltan e Pozzebon discutiram ainda fazer uma parceria com uma firma que realiza festas de formatura e outras duas empresas de eventos.
"Antes de darmos passos para abrir empresa, teríamos que ter um plano de negócios e ter claras as expectativas em relação a cada um. Para ter plano de negócios, seria bom ver os últimos eventos e preço", afirmou Deltan no chat criado para debater a criação da empresa.
Pozzobon responde: "Temos que ver se o evento que vale mais a pena é: i) Mais gente, mais barato ii) Menos gente, mais caro. E um formato não exclui o outro".
Em uma das mensagens divulgadas pelo jornal, datada de 14 de fevereiro de 2019, Deltan faz um alerta sobre a criação da empresa levantar suspeitas:
"É bem possível que um dia ela [em referência à proprietária de uma empresa especializada em palestras] seja ouvida sobre isso pra nos pegarem por gerenciarmos empresa", disse.
No que Pozzobon responde: "Se chegarem nesse grau de verificação é pq o negócio ficou lucrativo mesmo rsrsrs. Que veeeenham".
TABELA DE VALORES
Nas conversas divulgadas pelo jornal, Deltan fala sobre a rentabilidade do negócio de proferir palestra. Antes de criar o grupo no Telegram, ele teria, três meses antes, conversado com sua mulher sobre o quanto já havia arrecadado até setembro de 2018.
"As palestras e aulas já tabeladas neste ano estão dando líquido 232k [R$ 232 mil]. Ótimo... 23 aulas/palestras. Dá uma média de 10k [R$ 10 mil] limpo."
"Se tudo der certo nas palestras, vai entrar ainda uns 100k [R$ 100 mil] limpos até o fim do ano. Total líquido das palestras e livros daria uns 400k [R$ 400 mil]. Total de 40 aulas/palestras. Média de 10k limpo".
*com O Globo