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Você encararia? Alagoanos revelam motivos que os levam a comer placenta humana

Prática vem crescendo na capital; adeptas contam os benefícios trazidos por ela

Ela pode vir em cápsulas ou ser um dos ingredientes de uma vitamina de banana, como fez a apresentadora Bela Gil. Apesar de ser hábito de quase todos mamíferos, a ingestão da placenta ainda é pouco conhecida - e uma espécie de tabu - entre os seres humanos. Aos poucos, porém, essa realidade vem sendo modificada e mães alagoanas têm passado aderir à placentofagia.

O termo é usado para designar o ato de comer a própria placenta após o nascimento  "da cria". "Entre os mamíferos o consumo é onipresente em quase todas as espécies de carnívoros e herbívoros, para compensar a fome no pós-parto, obter nutrientes específicos e eliminar rastro para possíveis predadores", explica a doula e placenteira Fernanda Fassanaro.

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Ela conta que em civilizações mais antigas a placenta - um órgão feminino que só existe durante a gestação e é expulso naturalmente pelo corpo - era reverenciada em rituais e também usada como medicina. Com o tempo, esse saber ancestral foi se perdendo e o costume, sendo deixado de lado, principalmente com o avanço da ciência, que desacreditou o método.

Mesmo com a descrença, poucos estudos foram realizados até hoje para analisar os efeitos e benefícios do procedimento. Alguns deles - a maioria realizada por universidades americanas e europeias - pesquisaram, por exemplo, as consequências da placentofagia no humor da mãe e no aumento dos níveis de ferro no organismo. Os resultados ainda não foram conclusivos.

"Ainda hoje, poucos estudos satisfatórios foram apresentados à comunidade científica. Em estudos no Canadá e nos EUA grupos de mulheres relatam seus benefícios com o consumo e há pouco tempo Cuba anunciou a cura do vitiligo usando medicação feita de placenta", aponta Fernanda, citando uma pesquisa do Centro de Histoterapia Placentária do país caribenho.

Vale ressaltar mais uma vez, entretanto, que as conclusões de pesquisas sobre a técnica ainda são conflitantes. Pesquisadores da Universidade de Nevada e da Universidade de Oregon atestaram que a ingestão do órgão não traria riscos, enquanto os da Faculdade de Medicina da Universidade Cornell, em Nova York, indicaram justamente o contrário. Cabe a mulher pesquisar sobre o assunto.


			
				Você encararia? Alagoanos revelam motivos que os levam a comer placenta humana
FOTO: Cortesia/Arquivo Pessoal

Cuidados necessários

A profissional alagoana cita, porém, que nem sempre é possível consumir a própria placenta. Para que isso aconteça, é necessário ter uma série de cuidados durante a gravidez para que a mulher - e o órgão - estejam saudáveis. Caso contrário, a prática pode expor mãe e bebê a riscos como infecções bacterianas e contaminações por toxinas. Estudiosos também apontam que os hormônios presentes ali poderiam impactar a amamentação.

Em um estudo alemão, foi observado que mesmo após o parto ainda ficam contidas na placenta várias substâncias, como minerais, vitaminas e hormônios, a exemplo de estrógeno, progesterona e testosterona; prolactina; ocitocina e cortisona, além de prostaglandinas, ferro, hemoglobina, Imunoglobulina G (IgG) e Lactogen Placental Humano (HPL).

Mas Fernanda conta que adota todas as precauções para afastar qualquer tipo de perigo. "Em relação ao risco da ingestão, é feito um questionário com a mulher para saber como foi toda a gestação, se houve alguma intercorrência, se ela teve qualquer doença", aponta ela, acrescentando que é preciso também vigiar a alimentação durante os nove meses.

Além do desenvolvimento do feto, uma nutrição correta ajudaria a fortalecer a placenta. De acordo com a doula, é importante o consumo das vitaminas C e E (que fortificam as membranas amnióticas e auxiliam na produção de hemoglobina), da vitamina K (anti-hemorrágica e anti-osteoporose) e de cálcio (que auxilia no fluxo de nutrientes e tem grande importância na circulação e formação óssea fetal).

As substâncias podem ser encontradas em comidas como mamão, goiaba, pimentão amarelo, kiwi, morango, semente de girassol, castanha do pará, amendoim, avelã, amêndoa e pistache. Folhas verdes escuras, couve, brócolis, ovo, espinafre, cenoura, leite desnatado, iogurte, queijos, soja, feijão cozido, espinafre, ameixa seca também são recomendados - e fontes dos nutrientes citados pela placenteira.

Depois do nascimento, é importante observar ainda o manuseio do órgão para que ele possa ser consumido. Apesar de a maior parte das placentas recebidas pelas especialistas ser proveniente de partos domiciliares, a mulher também pode requisitar o material, geralmente tratado como lixo hospitalar, na unidade de saúde onde teve seu bebê. O direito é assegurado por lei.

"Havendo a requisição da placenta pela família, o material não deve ser considerado como Resíduo de Serviço de Saúde. Assim, o serviço deve dispor de procedimentos próprios para garantir que o paciente ou a sua família recebam um material com a segurança de que ficará preservado com o tempo, pois é de fácil putrefação", diz a Resolução nº 306/2004 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Fernanda Fassanaro explica que para a manipulação, que leva cerca de duas semanas, é preciso que ela seja guardada em um pote limpo ou saco estéril, podendo ser armazenada na geladeira por até quatro dias ou no congelador por até seis meses. "Todas as medicinas são manipuladas apenas com a própria placenta da mulher, para consumo com sua família".

Processos de manipulação

Com cada vez mais adeptos, a placentofagia humana acontece de diversas formas. Há quem escolha comer a placenta, mas existem também aquelas que preferem outros meios, fazendo a opção por cápsulas, tinturas, pomadas e óleos corporais. Na mão das especialistas no assunto, o material vira até mesmo arte, sendo transformado em objetos que ficam de recordação.


			
				Você encararia? Alagoanos revelam motivos que os levam a comer placenta humana
FOTO: Cortesia/Arquivo Pessoal

Uma das escolhas mais comuns é pelas cápsulas, que Fernanda explica serem feitas a partir da desidratação e da trituração do órgão, tudo sem aditivos. Segundo a doula, elas são indicadas para fortalecimento do sistema imunológico, diminuição da fadiga, reposição de vitaminas e minerais, estímulo à lactação e regulação dos hormônios. A validade é de dois anos (com a conservação no refrigerador).

Já a tintura é feita com a extração dos nutrientes por meio de uma solução com álcool de cereais. O potinho rende 150 ml e a profissional orienta que sejam colocados 3ml (90 gotas) num frasco de 30 ml, que deve ser completado com água. Entre os benefícios, estariam equilíbrio físico e emocional, controle de depressão, ansiedade, insônia, traumas, stress e diminuição de cólicas, tosse, febre e reações alérgicas.

Para tratar da pele, existem o óleo corporal bifásico e a pomada - esta última com manteiga de cupuaçu, karité e cacau. Os usos terapêuticos incluem casos de assaduras, dermatites de contato, ressecamento, descamação, irritação por picada de insetos, queimaduras de sol, dermatites e psoríase. A parte artística inclui carimbos e aquarela, mini-jardins e filtro dos sonhos com cordão umbilical.


			
				Você encararia? Alagoanos revelam motivos que os levam a comer placenta humana
FOTO: Cortesia/Arquivo Pessoal

"Todo o manuseio é feito de forma artesanal, respeitando a biossegurança no manuseio dos materiais e da própria placenta. A manipulação só deve ser feita após uma gestação saudável", aponta Fernanda, que é placenteira formada pelo Segredos da Placenta, organização de São Paulo, e cobra entre R$ 40 e R$ 190 pelos serviços - as mais caras são as cápsulas.

A prática em Maceió

Apesar do tabu, a prática tem se popularizado e tem sido aderida pelas mulheres - inclusive com o empurrãozinho de famosas como a própria Bela Gil e a celebridade americana Kim Kardashian. Aos poucos, ela vai chegando também a Maceió. Por aqui, a educadora perinatal Rafaela Ivis, de 24 anos, é uma das adeptas e recorreu à placentofagia em sua segunda gestação.

"Na primeira gestação não houve manipulação, primeiro por ser parto hospitalar, então nem sempre é possível guardar o órgão, e segundo devido à falta de placenteiras na cidade. Na segunda gestação, tive a certeza da aquisição da medicina da placenta por conhecer mais a fundo suas propriedades e benefícios e simplesmente por ser apaixonada por esse órgão que nutriu meu bebê durante a gestação".

Também doula, Rafaela se entusiasma com os resultados alcançados por meio da prática e conta que não só ela, como também o esposo e a filha mais velha, utilizaram as cápsulas, a tintura e o óleo bifásico. Entre os benefícios citados, estão melhora em assaduras, picadas de mosquito e brotoejas, além de tosses, viroses, reações de vacinas, febre, fadiga.


			
				Você encararia? Alagoanos revelam motivos que os levam a comer placenta humana
FOTO: Cortesia/Arquivo Pessoal

"Te digo que não vivi o baby blues (momento em que no pós-parto as puerpéras tendem a ficar mais melancólicas pela alteração e regularização hormonal). Também ajudou na estimulação de leite materno. Na volta ao trabalho, pela correria diária, passei a ordenhar e deixar leite para o bebê e para haver um estímulo maior fiz o uso das cápsulas. Foi fantástico o resultado".

Cliente de Fernanda, a fisioterapeuta Robéria Santos de Albuquerque, de 32 anos, lembra que precisou se despir de preconceitos para experimentar a técnica. A placenteira perguntou a ela se doaria o órgão para que pudesse estudar. A mamãe concordou e expressou a vontade no plano de parto - onde deixou claro também que gostaria apenas de um carimbo com a placenta, tipo um quadro.

"Logo em seguida ela poderia ser entregue à minha doula, que posteriormente entregaria para a Nanda. Tinha deixado claro que não queria fazer uso dela de outra forma que não a escrita no plano parto e, se eu pensava assim, imagina o pessoal à minha volta. 'Riponga, tupiniquim, presepada?'. Essas foram algumas das palavras que ouvi após dizer que havia ganhado todo o material feito com a minha placenta".

O nascimento da filha aconteceu em abril de 2018 e, em julho, ela ganhou cápsulas, óleo básico, tintura e um filtro dos sonhos. "Na verdade, eu não sabia que ganharia aquilo tudo. Havia dado minha placenta para a Fernanda 'estudar', mas não sabia que ela me traria de volta de alguma forma; achei que era para 'puro estudo'. Demorei para começar a ingestão", expõe.

Mas uma herpes fez com que ela olhasse aquilo tudo com outros olhos. "Em novembro fui diagnosticada com herpes zoster e não podia fazer uso do remédio oral, contraindicado para lactantes. A vacina só pode ser dada com um ano e minha filha tinha 6 meses naquele momento. O medo dela pegar era gigantesco, uma vez que é contagioso. Foi aí que, abrindo a geladeira, vi as cápsulas e algo me mandou tomar".

Funcionou. "Meu pescoço, ombro, parte do braço e escápula estavam tomados por bolhas e estava com uma dor lancinante. No terceiro dia ingerindo as cápsulas, as bolhas murcharam, os locais que ainda virariam bolhas não viraram e eu já não sentia mais dor. Eu nem acreditei! Depois comecei a passar o óleo e, de todas as marcas, só restaram as próximas do pescoço. Acreditei no poder da placenta e não duvido que isso me ajudou".


			
				Você encararia? Alagoanos revelam motivos que os levam a comer placenta humana
FOTO: Cortesia/Arquivo Pessoal

As duas alagoanas continuam a usar os produtos feitos a partir do órgão e não se arrependem. "Algumas pessoas acharam fantástico, pois não conheciam tão bem o que a placenta pode promover durante a gestação e após ela. Outras se espantaram, mas não criticaram, me chamam de 'natureba' e quem dera eu ser mesmo. Mas houve muita curiosidade", afirma Rafaela Ivis.

A placenteira Fernanda Fassanaro espera que o hábito ancestral se dissemine cada vez mais. "As mulheres maceioenses estão conhecendo agora esta possibilidade, porém, está sendo muito bem aceita. Mas no geral ainda há muito preconceito em relação a este órgão. Para grande maioria a primeira reação é fazer uma careta ao ouvir consumo de placenta".

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