Três repórteres fotográficos da Gazeta de Alagoas decidiram registrar a festa dos Lambe Sujos, típica do interior sergipano. O evento foi registrado em imagens e vídeos, os quais mostram a expressão cultural do povo. Lá, os participantes se pintam, para simbolizar os negros, e levam chicotadas ao longo do percurso. Confira relato dos repórteres Ailton Cruz, Felipe Brasil e Ricardo Lêdo.

Imagine você receber um convite de supetão para ir fotografar uma peça teatral com mais de 500 pessoas correndo, dançando, pulando e recebendo chicotadas no corpo. O evento é tradicional de uma cidade do interior de Sergipe. Partimos (Felipe Brasil, Ricardo Lêdo e eu, Ailton Cruz) rumo a esta aventura.
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Estava na redação da Gazeta quando Lêdo nos convidou para viajar no último dia 09 para o município de Laranjeiras para fotografar a festa do Lambe Sujo e Caboclinhos. Concordamos e acertamos os detalhes.

Saímos às 5h30 da manhã e paramos no outro lado da ponte que divide os estados de Alagoas e Sergipe para tomar um café da manhã reforçado e típico da região.
Fizemos algumas fotos na ponte rodoferroviária sobre o Rio São Francisco e partimos com destino a Laranjeiras. Chegamos por volta das 10h30. Logo na entrada da cidade, demos de cara com alguns personagens do Lambe Sujo, que estavam abordando um caminhoneiro. Paramos o carro na praça central em frente a Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus.

Não demorou e o padre Renato Gomes de Lima já foi rezando a missa, abrindo o evento e jogando água benta no povo, que logo começou a tocar e dançar.
Começamos a filmar e fotografar. Ao mesmo tempo, tivemos que nos virar nos trintas para dar conta das imagens. Corríamos de um lado para o outro à procura de imagens que rendessem um bom trabalho.

Ricardo Lêdo foi para um lado, Felipe Brasil sumiu no meio da multidão e só sei que nos encontramos lá pelo meio-dia.
A festa
A festa do Lambe Sujo e Caboclinhos já faz parte do calendário cultural nacional. No meio da multidão, deu para registrar pessoas com os corpos cheios de marcas de cortes do Taqueiro, figura parecida com um vaqueiro que domina os negros, açoitando-os com seu chicote.

Registrar a festividade não foi fácil, até porque não poderíamos ser atingidos pelas foices e tentávamos, a todo instante, fugir da melação.
Laranjeiras é uma pequena cidade situada a 20km da capital sergipana, Aracaju. No mundo inteiro, as manifestações folclóricas aparecem de várias formas.

NoNordeste do Brasil essas manifestações são fortes em todos os estados e, muitas vezes, contam histórias dos antepassados. A música é um ponto forte dos folguedos. O Lambe Sujo é um folguedo que rememora o sofrimento da escravidão negra e, embora tenha sido registrado como nascido em 1930, conta-se que existe há mais de 100 anos.

Na festa, os moradores se pintam com melaço de cabaú, derivado da cana-de-açúcar, que fornece o brilho, e carvão ou tinta preta. A festa começa às 4 da manhã e se estende durante o dia todo, terminando com o embate entre os Caboclinhos e os Lambe Sujos.

Como fotógrafos e pesquisadores da cultura popular alagoana, tivemos a oportunidade de ver os folguedos de Laranjeiras, como Catumbi, Chegança, Pastoril e Marujada, mas fotografar os Lambe Sujos foi, sem dúvida, uma experiência única.
A luta do negro pela sua liberdade é o principal tema do evento, que tem na representação do sequestro da rainha dos caboclinhos o fator chave para os combates.

Foi uma aventura que rendeu esse belo trabalho feito a seis mãos. Laranjeiras que nos aguarde para o próximo confronto fotográfico.



Assista, agora, aos vídeos da guerra entre os lambe-sujos e caboclinhos, que é a luta do negro pela sua liberdade nas ruas da pequena cidade de Laranjeiras.