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Promotor escreve desabafo um ano após morte da esposa: "Silêncio de um inocente"

Segundo a Polícia Civil, Martha Nascimento cometeu suicídio na residência do casal, no Jardim Petrópolis

Um ano após a morte da esposa, nesta sexta-feira (8), o promotor de Justiça, Sidrack Nascimento, escreveu um desabafo titulado por "O silêncio de um inocente". A morte de Martha Nascimento, ocorrida na residência do casal, no Jardim Petrópolis, em Maceió, foi considerada pela Polícia Civil como suicídio.

No texto, o promotor relembrou o ocorrido e sobre os sentimentos vividos no último ano. "Aos meus pés e no jardim de nossa casa, vi o que não poderia imaginar nos piores pesadelos: uma cena tenebrosa, que, desde então e até hoje, revive e toma conta dos meus pensamentos, tragando, por inteiro, o viço dos dias que ainda tenho pela frente", escreveu.

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Em outro trecho, ele explicou que redigiu o artigo como forma de terapia durante o período de isolamento social. "Escrevo pra me libertar do trauma que diariamente me consome. Pra me alforriar da dor da perda e me blindar dos sentimentos mais mesquinhos."

Veja o texto na íntegra:

O Silêncio de um Inocente
Sidrack Nascimento
Dez anos podem não ser mais que um piscar de olhos pra quem viveu, com profundo amor e cumplicidade, o auge de uma vida compartilhada, marcada por jantares festivos, viagens memoráveis pelo mundo, encontros com amigos nos finais de semana, momentos inesquecíveis a dois. 
Mas um único ano pode significar uma eternidade, pra quem, durante esse tempo, sufoca consigo, e somente consigo, a angústia do luto e da iniquidade, a insuportável dor da perda e o imenso peso da acusação dos que são capazes de atropelar a dignidade do próximo.
Hoje faz 365 dias que Martha está com Deus.
Na manhã da primeira quarta-feira de maio de 2019, minha companheira de mais de uma década tirou sua própria vida, acometida por um surto psicótico. Aos meus pés e no jardim de nossa casa, vi o que não poderia imaginar nos piores pesadelos: uma cena tenebrosa, que, desde então e até hoje, revive e toma conta dos meus pensamentos, tragando, por inteiro, o viço dos dias que ainda tenho pela frente.
Desolado naquele momento de perda, contei com a benevolência gratuita dos verdadeiros amigos. Confidentes dos problemas psiquiátricos que acompanhavam minha falecida esposa e do carinho que eu lhe dedicava, me acolheram e me fortaleceram. Ainda que entendessem que, naquelas circunstâncias, não havia quem pudesse evitar o pior, sabiam da sensação de impotência e do inexplicável sentimento de culpa com que eu passaria a conviver a partir daquele episódio.
Por outro lado, senti na pele a irresponsabilidade de outros tantos, que, desumanamente, me impingiram o título de criminoso. Acusado da prática de homicídio contra Martha, fui impedido de comparecer a seu velório e sepultamento. Cegos em seu egoísmo, ignoraram o surto psicótico que desencadeou o suicídio e iniciaram uma campanha farisaica, plantando, em jornais sensacionalistas, boatos os mais absurdos, com o propósito de me incriminar do que jamais poderia passar pela cabeça de quem dedicou trinta e seis anos de sua vida ao ministério sacerdotal, com respeito ao próximo e fé inabalável.
No dia 6 de junho de 2019 foi concluído o inquérito. Considerando os laudos do Instituto Médico Legal e do Instituto de Criminalística, bem como o depoimento do jardineiro do condomínio onde morávamos - que a tudo, absolutamente a tudo, assistiu -, foi oficialmente confirmado o suicídio.  
Imaginei que, a partir dali, arrefeceria a, até então, injustificável sanha persecutória. Eis que, na sexta-feira daquela mesma semana, fui advertido, pela primeira vez: "Estão de olho no dinheiro. Vão fazer o que for preciso". 
Guiados pela ganância e pela cobiça, novas notícias continuaram (e continuam) sendo levadas, não graciosamente, às capas de jornais de questionável credibilidade: "Sidrack nega direitos legítimos do enteado", "Sidrack Nascimento vai encarar família de esposa na justiça", "Sidrack não terá direito a dinheiro deixado por Martha". A essa altura estava claro: o propósito era eminentemente patrimonial.
Enquanto, recolhido em orações, tentava avançar no meu luto, fui alvo de toda ordem de acusações e impropérios. Não respondi a absolutamente nada, como, aliás - quem me conhece, sabe - não sou de fazer. Deixei que o Senhor tomasse conta do destino e se encarregasse de assentar as coisas. Ante a possibilidade real de protestar aos quatro cantos contra as dezenas de matérias falaciosas - caluniosas, difamatórias e injuriosas - a meu respeito, optei pelo silêncio.  
Em quarentena, ainda mais recluso do que habitualmente sou, tenho refletido constantemente sobre o significado da provação por que passei e estou passando. E, assim, resolvi, de forma despretensiosa, redigir este artigo, como terapia e como catarse. Escrevo pra me libertar do trauma que diariamente me consome. Pra me alforriar da dor da perda e me blindar dos sentimentos mais mesquinhos. 
Se Martha estivesse entre nós, em momento de lucidez, olharia nos meus olhos, enxugaria minhas lágrimas e repetiria comigo a frase que sempre gostou de me dizer, parafraseando Mário Quintana: "estes que aí estão, atravancando teu caminho, eles passarão; e tu passarinho".
Que sua memória seja respeitada, eu imploro. Que a lembrança do seu sorriso se mantenha viva entre todos nós. É assim que eu quero sempre lembrar de você.

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