A surdez ainda é motivo de preconceito em várias âmbitos profissionais, dentre eles, o campo da Aeronáutica, mesmo já contemplando alguns pilotos surdos. Neste cenário, encontra-se o piloto estudante alagoano João Paulo Marinho dos Santos, conhecido como "João Avião", também fundador da Associação Nacional de Aviação de Surdos (ANAS). Ele está em Nova York para apresentar um projeto à Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), voltado à acessibilidade e segurança de voo.
Conforme explicou o piloto estudante, o projeto fundamenta-se nos direitos humanos, não apenas em prol de pilotos surdos, mas, também, pela garantia da saúde auditiva e direito do piloto ouvinte.
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"O piloto ouvinte pode ter grande prejuízo em razão da perda auditiva causada pelo rádio, conhecida como "Perda de Audição Unilateral e Bilateral". É uma preocupação com a comunicação na área da aviação via rádio, pois se trata de um risco à saúde auditiva, já que é muito fácil perdê-la; vários aviadores perderam os seus sonhos nesta profissão aeronáutica do Brasil e do mundo devido à perda de audição".
Na prática, o projeto consiste no uso do sistema DataLink/CPDLC, no qual a aeronave possui tecnologia que possibilita a todos os pilotos ouvintes e surdos usarem a comunicação, através de dados ou texto com o controlador de tráfego aéreo. É um sistema, segundo destacou João, mais seguro, com boa qualidade e que processa informação em curto tempo e com menor carga de trabalho.
"Respeitamos as Normas da ONU [Organização das Nações Unidas] e as Constituições em todos os países no mundo. Se todos temos direitos humanos iguais, então, o surdo ou ouvinte tem direito a voar por uso de DataLink/CPDLC. Tudo isso traz mais vantagens que a comunicação via rádio", frisou o piloto estudante.
Em sua visão, a OACI é uma organização grande e potente, que pode dar solução melhor "ao nosso novo sistema mundial de aviação surda". "Como envolve muitas etapas de avaliação, o resultado do projeto deve sair entre 2020 e 2021".
PIONEIRISMO
João Paulo se tornou o primeiro piloto estudante surdo do Brasil. Com o apoio dos pais, a professora Maria do Carmo Marinho dos Santos e o comerciante José Paulo dos Santos, o piloto viu sua vida social e profissional decolar.
O primeiro desafio foi alfabetizá-lo com estimulação precoce, trabalho realizado por uma fonoaudióloga, a partir dos dois anos. Com muito esforço, ele conseguiu ser oralizado, e, hoje, fala normalmente.