Uma das aves mais raras do mundo e no limiar da extinção, o mutum-de-alagoas (Pauxi mitu) deu um sinal de sobrevida à espécie. A fêmea que vive no Zooparque Pedro Nardelli, conhecido pelo Programa de Reintrodução da espécie, localizado na Usina Utinga, no município de Rio Largo, Região Metropolitana de Maceió, colocou um ovo de 130 gramas, dando indício de que a reprodução é possível e que a ave está madura para acasalar. A última vez em que um exemplar da espécie colocou um ovo foi há 42 anos.
No momento da postura, o casal de mutuns estava separado e, devido a isso, o ovo não foi fertilizado. A expectativa é de que, daqui a 3 semanas, os dois estejam juntos novamente no viveiro, que está passando por reformas, e que a fêmea, novamente, ponha um ovo, desta vez, fertilizado.
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De forma inédita, os filhotes devem ser criados pela mãe. Nenhum mutum que nasceu em cativeiro, até então, foi chocado pela mãe, mas por chocadeiras elétricas. Agora, a probabilidade é de que o macho e a fêmea - ou somente a fêmea - realizem todo o processo.

De acordo com o presidente e um dos fundadores do Instituto Para Preservação da Mata Atlântica (IPMA), Fernando José Mendes Pinto, responsável pelo Zooparque, o intuito é de que o casal crie os filhotes no ambiente e que a equipe acompanhe desde a postura até a criação do filhote de mutum.
Devido à pandemia da Covid-19, alguns fatores atrasaram esse momento de copulação, como o crescimento das árvores que quebraram a tela do viveiro maior e o espaço precisou ser reformado. O casal de aves foi separado em dois locais menores ao lado do viveiro central. A equipe realiza obras para que os dois voltem a ficar juntos o mais rápido possível.
Fernando foi a última pessoa a ver um ninho com ovos de mutum na natureza, há 42 anos, e se sente emocionado pelo ocorrido. “Nós estamos fazendo agora todo o protocolo para que a gente consiga, se não nessa primeira postura, porque foi de imprevisto, a gente não esperava isso. Que na segunda postura dela, que pode ser daqui há 3 ou 4 semanas, nós tenhamos toda uma estrutura de ninho, viveiro pronto, para ver se ela põe os ovos, choca e cria os filhotes nesse viveiro”, destacou Fernando.
No local, a equipe terá a oportunidade de acompanhar o casal de mutuns criando o filhote como se o processo estivesse sendo realizado na natureza. Todos os momentos serão acompanhados e estudados, como o corte que o macho faz para a fêmea, a postura, o choco e a criação. “É possível a gente fazer um trabalho desse, salvar uma espécie que estava no limiar da extinção, graças a um trabalho conjunto de várias instituições”, afirmou Fernando.

De volta para casa
Ave símbolo de Alagoas e primeiro animal a ser considerado extinto da natureza no Brasil, o mutum voltou ao seu habitat há 5 anos, no viveiro montado na Usina Utinga. O retorno foi possível graças aos esforços de uma série de criadores, universidades, Organizações Não Governamentais (ONGs), além de órgãos dos governos federal e estadual, dentre eles o Ministério Público do Estado de Alagoas (MP/AL).
Com Folha de Pernambuco*