Imagem
Menu lateral
Imagem
GZT 94.1
GZT 101.1
GZT 101.3
MIX 98.3
Imagem
Imagem
GZT 94.1
GZT 101.1
GZT 101.3
MIX 98.3
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no facebook compartilhar no linkedin
copiar Copiado!
ver no google news

Ouça o artigo

Compartilhe

HOME > notícias > GERAL

Mulheres relatam sonho da maternidade adiado

Tratamentos foram interrompidos devido ao risco de contaminação

Andreia de Menezes sempre desejou tornar-se mãe. Acabou postergando o desejo por conta dos estudos e trabalho. Quando finalmente decidiu que o momento havia chegado, aos 36 anos, ela e o marido começaram a tentar, mas não conseguiram engravidar naturalmente.

Ao procurar orientação médica, foi informada que sua contagem de óvulos estava muito baixa - uma das possíveis justificativas para a dificuldade. Aos 38 anos, decidiu inciar um tratamento de fertilização in vitro para tentar realizar o sonho da maternidade.

Leia também

Com o avanço do coronavírus pelo Brasil, o crescimento do número de casos em São Paulo, porém, precisou suspender parte dos planos. "Uma coisa é você não ser mãe até a fase em que é uma escolha sua. A gente previne, a gente quer esperar o melhor momento, tem o trabalho... Aí quando você fala ?agora eu quero? e o querer não é seu, o controle não é seu, isso assusta", diz.

Devido ao risco de contágio e pelo desconhecimento das consequências que o novo vírus poderia provocar em gestantes, a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) recomendou em março que a maioria dos procedimentos de fertilização fosse suspensa, com exceção apenas para casos específicos. Em abril, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou nota técnica com orientação no mesmo sentido.

"Essas futuras mães estão tendo que adiar o sonho. Inicialmente a gente não tinha informação sobre o coronavírus, o efeito disso na fertilidade e em grávidas. É sempre uma novidade, haja vista o que aconteceu com o zika. Então começaram as recomendações de que se só terminasse os ciclos em andamento, cuidasse de casos urgentes e não iniciasse novos ciclos", afirma o médico geneticista Ciro Martinhago, diretor do Laboratório Chromosome Medicina Genômica.

A fertilização in vitro é um processo longo e cheio de etapas, em que o tempo é crucial para aumentar as chances de obter bom resultado. Além disso, embora seja oferecida pelo SUS, ainda é pouco acessível na rede pública, e cada tentativa nas clínicas particulares pode custar de R$ 20 mil a R$ 30 mil.

"O tratamento em si já traz várias ansiedades. Você faz a estimulação (com hormônios) e tem que dar ?x? número de óvulos para colher. No meu, de 8 que colhi 4 estavam bons. Usaram 3 na fertilização. Desses 3, nenhum chegou na fase de embrião. Então meu primeiro ciclo não deu resultado. Se tivesse dado embrião, ele ainda vai para a biópsia para saber a qualidade para implantar. Então é um funil muito grande", diz Andreia.

Andreia recebeu a notícia de que sua primeira tentativa não tinha dado certo uma semana antes do início da quarentena obrigatória estipulada pelo governo estadual, que começou a vigorar em 24 de março. Mas, como seu caso era considerado de urgência pela pouca quantidade de óvulos disponíveis, parte do tratamento foi mantida.

"O médico exemplificou: ?vamos supor que fosse uma cirurgia: estão dizendo que eletivas estão sendo canceladas e de urgências serão mantidas. Você seria um paciente com a cirurgia mantida. Então ele falou que eu não teria tempo de esperar 4 ou 5 meses. Será que eu estava acabando com minha chance ali? Será que os próximos 4 meses poderiam zerar minha chance de ter um filho? Isso me deu um choque de realidade. Mas sou uma pessoa que dificilmente deixo a peteca cair, então eu me mantive", diz.

Andreia continuou com a estimulação dos óvulos, mas a implantação do embrião foi adiada. "O médico foi muito claro: ?os embriões vão ficar congelados não sabemos até quando. Enquanto não terminar essa crise a gente não implanta?."

Fertilidade com a idade

Cada mulher nasce com um número limitado de óvulos e segundo, especialistas, a partir dos 35 anos há uma queda brusca na quantidade dos disponíveis, mas isso varia para cada indivíduo. Doenças genéticas e adquiridas também podem interferir na fertilidade.

"Cada ano que passa, há a probabilidade menor que a mulher consiga engravidar naturalmente. Com o tempo, também aumenta a chance de aborto espontâneo ou de embriões com alterações genéticas como a síndrome de down", afirma Martinhago.

No entanto, o que levou Valéria Sattamini, de 48 anos, a optar pela reprodução assistida não foi a falta de óvulos, mas a impossibilidade do marido pela fecundação natural devido a uma vasectomia.

"Me casei o ano passado, mas meu marido já tem dois filhos (de 10 e 12 anos) de um casamento anterior e havia feito vasectomia. Então a única forma de engravidar seria a fertilização in vitro. Combinei com meu médico que faríamos três tentativas. Foi até bastante surpreendente porque para a minha idade eu tive um bom número de óvulos. O dr. ficou muito animado, mas nenhum embrião vingou na primeira", diz.

Valéria conta que nem sempre quis ser mãe, mas a vontade apareceu com o convívio com os enteados.

"Nunca amadureci muito essa ideia. Tive alguns relacionamentos longos, mas nenhum companheiro anterior tinha esse desejo e eu também não tinha muito a motivação. Quando me casei com meu marido, ele é um excelente pai e eu me apaixonei pelos filhos dele. A gente tem um relacionamento maravilhoso. E eu fiquei com vontade de ser mãe, eu experimentei ser um pouco mãe deles e curti, achei muito gratificante mesmo sendo uma ?mãe emprestada?", afirma.

Com a chegada da pandemia, Valéria e o marido decidiram adiar o tratamento por orientação do médico, mesmo antes da recomendação das entidades de saúde. O fato de morar com a mãe de 80 anos influenciou na decisão, uma vez que idosos estão no grupo de risco para o contágio da Covid-19.

"Eu fiquei um pouco desanimada no começo, mas pensei que ainda temos mais tentativas pela frente. Hoje em dia a medicina oferece essa oportunidade. Tem mulheres até mais velhas do que eu sendo mães. Uma coisa que me incentivou muito foi o bom resultado de uma amiga da minha idade, que teve uma gravidez tranquila, a bebê nasceu saudável", afirma.

Apesar do adiamento, Valéria afirma que ficou de certa forma aliviada. "Para mim foi um alívio porque eu estava apreensiva de ter que fazer o tratamento na quarentena. Estava com medo. Vai que engravido e pego Covid. Não quero estar em uma quarentena, trancada dentro de casa, grávida e paranoica com tudo. Acho que foi muito prudente a decisão", afirma.

Rede de apoio

Valéria relata que se apoia nos ensinamentos da própria mãe para passar por esse período e diz que a matriarca está empolgada para ser avó.

"Minha mãe fala: tudo que Deus faz é bom. Se não era para acontecer neste momento é porque tinha alguma razão de ser. Eu sei que uma hora isso vai passar, as coisas vão melhorar e eu vou continuar meu tratamento", diz.

Andreia também cita a própria mãe em seu processo de fortalecimento.

"Minha avó morreu em um parto, quando minha mãe tinha 14 anos. Por isso, minha mãe não queria ter filhos. Mas aos 20 anos, e com 11 meses de casada, acabou vindo ?um erro de percurso? (eu) em uma troca de anticoncepcional. A gente brinca muito sobre isso e ela fala que foi o melhor ?acidente de percurso? da vida dela", afirma.

"Me casei tarde, com quase 34. Mas sempre falei para a minha mãe: ?casar eu não garanto, mas um neto eu te dou?. E ela respondia, quando eu era mais nova, que se eu fosse inteligente, não teria filhos. Hoje ela pergunta: ?quando vem meu neto??."

App Gazeta

Confira notícias no app, ouça a rádio, leia a edição digital e acesse outros recursos

Aplicativo na App Store

Tags

Relacionadas