Deslocar-se a pé de casa ao trabalho pode ser considerado um luxo no Brasil. É o que sugere um estudo divulgado nesta quinta-feira (16) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em São Paulo, por exemplo, os mais ricos têm 9,5 vezes mais chance de encontrar oportunidades de trabalho que podem ser acessadas a pé em até 30 minutos. No lado oposto a São Paulo no ranking aparece Maceió, com a menor desigualdade, mas onde os mais ricos têm 1,7 vez mais oportunidades de trabalho acessíveis a pé que os mais pobres.
"Uma coisa que a gente encontrou como padrão geral para todo o país é que, via de regra, pessoas de mais alta renda e pessoas brancas têm acesso a oportunidades maior que pessoas negras e de baixa renda", enfatizou o pesquisador do Ipea Rafael Pereira. "Mesmo onde a desigualdade entre ricos e pobres é menor, ela é quase o dobro", destacou, ao comentar o dado da capital alagoana.
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Foram analisados dados das 20 cidades mais populosas do Brasil. São Paulo liderou o ranking da desigualdade considerando a chamada Razão de Palma, que compara os 10% mais ricos da população aos 40% mais pobres.
"Nas cidades brasileiras, isso [ir a pé para o trabalho] é um privilégio para poucos", reforçou Bernardo Serra, gerente de políticas públicas do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), parceiro do estudo.
Uma curiosidade apontada pelos pesquisadores neste ranking que considera o acesso a pé a oportunidades de trabalho é a condição do Rio de Janeiro, que apresenta uma das menores desigualdades do ranking. Segundo eles, isso se deve à aglomeração de pessoas de baixa renda próximas ao centro da cidade, ou seja, as numerosas favelas localizadas na região central da cidade.
A pesquisa também analisou o acesso a escolas e hospitais, tanto pelo transporte ativo - a pé e bicicleta - quanto pelo transporte público. No campo da educação, em praticamente todas as cidades, os moradores de áreas mais pobres precisam gastar mais tempo de deslocamento que os mais ricos.
Cidades como Belém e Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, por exemplo, se destacam negativamente. Nelas, os 20% mais pobres da população precisam gastar, em média, o dobro de tempo dos 20% mais ricos para acessar a escola mais próxima de casa.
Na saúde, Campinas, no interior de São Paulo, é onde a diferença de acesso entre a parcela da população negra e a branca é maior. Isso significa dizer que os brancos tem acesso a um número de hospitais quase 2,5 vezes maior que os negros. Maceió também aparece como a cidade menos desigual.
Todos os dados da pesquisa foram reunidos em uma plataforma online, batizada Projeto Acesso a Oportunidades (https://www.ipea.gov.br/acessooportunidades).