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Há mais de meio século, alagoano mantém viva a técnica de consertar relógios

Edvan Oliveira trabalha há 57 anos como relojoeiro e é especialista em montagem e desmontagem dessas 'máquinas do tempo'

O filósofo Pierry Levy escreveu que as técnicas condicionam a cultura e a sociedade. A palavra vem do grego téchne, que significa o ofício dos artesãos ou das artes em geral. Arte é o que podemos observar na precisão, destreza e amor ao ofício de várias pessoas que detém antigas técnicas de trabalho e saberes especiais, numa sociedade tão massificada e obcecada por rapidez e produção em escala industrial. É o caso do Senhor Edvan Oliveira Copertino, que há 57 anos conserta, monta de desmonta relógios no Beco São José, no Centro de Maceió.

Alagoano da gema, como ele mesmo se intitula, Edvan nasceu em Maceió há 79 anos e desde os 24 se dedica ao ofício de relojoeiro tradicional. Ao observar de fora o cômodo pequeno onde ele trabalha, têm-se a sensação de que a sala pode passar despercebida durante o cotidiano frenético do Centro e a presença do ponto de táxi em frente. Quando se entra na loja, apesar dos mais de mil relógios de pulso, de parede e despertador, digital ou analógico, que se espalham por toda a parte, a impressão que se tem é de que o tempo parou de fato.

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"Eu tinha um irmão que também era relojoeiro e uma vez me perguntou: você quer aprender o ofício? Eu disse quero, é uma profissão. Ele me emprestou as suas apostilas e eu comecei a estudar, todo sábado eu ia para a casa dele. Depois, fiz um curso por correspondência no Rio de Janeiro, onde montava o relógio com as peças, tirava as fotos, mandava novamente, até que depois de três, quatro meses, comecei a trabalhar. É através dessa profissão que eu vivo até hoje, graças ao meu bom Deus", diz seu Edvan.


				
					Há mais de meio século, alagoano mantém viva a técnica de consertar relógios
FOTO: Ascom Itec

Ao falar sobre a aplicação da técnica em sua profissão, alguém desavisado que o ouça falar pode pensar que se trata de outro tipo de ofício. Palavras como carreta, cabelo, dente, platina, tambor de corda, carreta de escape, eixo, peão, balanço, que são peças integrantes dos maquinários de relógios, fazem parecer ter mil profissões contidas em uma. Desde que iniciou no ponto em 1º de janeiro de 1961, cumprindo horário comercial em dias úteis, seu Edvan só se lembra de ter faltado ao trabalho por dois motivos.

"Só me afastei duas vezes para me operar e uma das operações foi nos olhos. Minha vista ficou nova, mas passei mais de 40 anos trabalhando com peças pequenas a olho nu. Hoje uso a lupa, mas ainda às vezes eu não uso nada", disse.

Seu Edvan teria hoje 12 filhos, se as doenças e a falta de infraestrutura da época não tivessem levado dez deles, ainda recém-nascidos. Hoje, tem sete netos, dois na Polícia Militar. Passou por necessidades, mas se orgulha de nunca ter precisado ser desonesto com qualquer cliente que tenha deixado relógios na loja para reparo.


				
					Há mais de meio século, alagoano mantém viva a técnica de consertar relógios
FOTO: Ascom Itec

"Eu sempre gostei da verdade, pois meus pais me ensinaram assim, eram evangélicos da Primeira Igreja Batista aqui do Centro e me deram educação. Na minha profissão tem muita gente desonesta. Um homem quando tem um estabelecimento há 57 anos, aberto todos os dias, tem que ter sua moral para servir de exemplo para a família, minha ideia é esta e sempre foi esta, a de respeitar para ser respeitado. Nunca dei entrada em delegacia por causa de relógio de freguês. Tenho pra mais de mil relógios aqui, de pulso, de parede, que clientes nunca vieram buscar e eu nunca vendi nenhum. Eu estou satisfeito com a minha profissão", explica.

Outras Relíquias

Além da sua própria história e dos relógios antigos que, por si só, já são indicadores de preservação de um tempo áureo no Estado, seu Edvan teve o privilégio de encontrar, ao fazer obras na loja, um outro objeto que, segundo lhe disseram, é valioso.

"Na escavação para baixar o piso da loja, encontrei enrolada em uns capins essa garrafa de barro. Estava desse jeito, só fiz lavar para tirar o barro. Pus na prateleira e um dia uma moça passou por aqui e me disse que a garrafa era da época de Maurício de Nassau. Essa moça disse que era estudiosa, me falou que essa peça tem valor, então eu estou vendendo. Disse que eles andavam de turma por aqui, na época em que tudo era mata, bebendo aguardente, e então jogaram essa garrafa, que se enterrou com o tempo e eu encontrei na obra que fiz na loja".


				
					Há mais de meio século, alagoano mantém viva a técnica de consertar relógios
FOTO: Ascom Itec

A pessoa, da qual Seu Edvan não lembra o nome, fez as seguintes inscrições num pedaço de papel: 'período Maurício de Nassau, Governo Holandês no Brasil, em PE. 1644'.

Com sua honestidade e destreza no domínio da técnica de relojoaria, seja analógica ou digital, seu Edvan, em quase 8 décadas de vida, segue, paradoxalmente, desafiando o tempo ao fazer os relógios voltarem a funcionar, e se mostra otimista pelo futuro do País

Em 2017, seu Edvan foi um dos homenageados pelo Tribunal Regional do Trabalho da 19ª Região (TRT) numa exposição fotográfica comemorativa dos 25 anos de instalação do Tribunal em Alagoas, intitulada "Antigas Profissões - Legado", como um dos alagoanos responsáveis por manterem vivos antigos ofícios, hoje quase extintos.

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