Imagem
Menu lateral
Imagem
Gazeta >
Imagem
GZT 94.1 | Maceió
Assistir
Ouvir
GZT 101.1 | Arapiraca
Ouvir
GZT 101.3 | Pão de Açúcar
Ouvir
MIX 98.3 | Maceió
Ouvir
GZT CLASSIC | Rádio Web
Assistir
Ouvir
Imagem
Menu lateral Busca interna do GazetaWeb
Imagem
GZT 94.1
Assistir
Ouvir
GZT 101.1
Ouvir
GZT 101.3
Ouvir
MIX 98.3
Ouvir
GZT CLASSIC
Assistir
Ouvir
X
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no facebook compartilhar no linkedin
copiar Copiado!
ver no google news

Ouça o artigo

Compartilhe

Esgoto nosso de cada dia: AL sente efeitos nocivos da baixa cobertura sanitária

Estado trata apenas 20% dos dejetos; população e meio ambiente são os principais afetados

Com uma cobertura sanitária abaixo da média nacional, Alagoas sente os efeitos nocivos do descarte irregular de esgoto doméstico. Enquanto no país 42,67% dos resíduos são tratados, a média no estado fica na casa dos 20%. As consequências podem ser vistas com a poluição de praias, riachos e lagoas ou ainda com a contaminação do lençol freático e a proliferação de doenças consideradas primitivas, como diarreia e leptospirose.


			
				Esgoto nosso de cada dia: AL sente efeitos nocivos da baixa cobertura sanitária
FOTO: José Ronaldo

Maceió é a cidade do estado com a maior cobertura, segundo dados da Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal). O município tem média de 35% do território saneado. Mesmo assim, a capital fica em 87º lugar quando analisadas as 100 maiores cidades do Brasil, de acordo com o Instituto Trata Brasil - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, formada por empresas com interesse no saneamento e na proteção de recursos hídricos.

Leia também

A Casal garante que tem feito investimentos, ampliado a rede coletora e buscado formas de minimizar o problema, mas a realidade se mostra bem diferente. Conforme o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, em 2015 (última informação disponível), foram realizadas 693 novas ligações de esgoto na capital. Para universalizar o sistema, somente em Maceió, seriam necessárias 72 mil ligações - cada ligação beneficia um grupo de pessoas.


			
				Esgoto nosso de cada dia: AL sente efeitos nocivos da baixa cobertura sanitária
FOTO: José Ronaldo

Enquanto não pode contar com o poder público, a população se vira como dá. O principal método adotado nas residências são as fossas sépticas. No entanto, não é difícil flagrar esgoto correndo a céu aberto em bairros periféricos de Maceió ou em cidades do interior. Há ainda os que descartam os resíduos irregularmente em córregos, rios ou até mesmo em galerias pluviais, aumentando o risco de contaminação da rede de água e de degradação da saúde.

Entre os problemas ocasionados pela falta de saneamento básico e o contato direto do esgoto a céu aberto com a água estão doenças como a diarreia e a leptospirose, que tiveram um aumento significativo de ocorrências em Alagoas no ano de 2017, em grande parte, devido às enchentes ocorridas entre os meses de maio e junho, que alagaram áreas de diversas regiões.

De acordo com dados divulgados pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), os registros de diarreia pularam de 83.457 em 2016 para 124.778 no ano passado, um crescimento de mais de 41 mil casos nos últimos meses. Já os registros de leptospirose saltaram de 15 em 2016 para 67 em 2017 - um aumento de cerca de 350% em um período de 12 meses.

[VIDEO2]

SEM SANEAMENTO, DESTINO DE ESGOTOS É O MEIO AMBIENTE


			
				Esgoto nosso de cada dia: AL sente efeitos nocivos da baixa cobertura sanitária
FOTO: José Ronaldo

O crescimento desordenado e a baixa cobertura sanitária fazem com que boa parte do esgoto produzido em Alagoas tenha como destino final o meio ambiente. Sem receber nenhum tipo de tratamento, os resíduos são despejados nos chamados corpos receptores, poluindo rios, riachos, lagoas e praias. Alguns danos ambientais são considerados irreparáveis.

O Instituto do Meio Ambiente (IMA) divulga, semanalmente, os trechos de praias considerados próprios para o banho. O levantamento leva em consideração as amostras de água obtidas em uma das cinco semanas anteriores. Pelo menos oito trechos são frequentemente considerados impróprios devido ao alto grau de poluição. Todos eles próximos a pontos de descarte irregular de esgoto, que acaba se misturando com a água de galerias pluviais.

CONFIRA OS TRECHOS DE PRAIA CONSIDERADOS IMPRÓPRIOS 

A situação dos riachos não é diferente. Conforme o IMA, Maceió conta hoje com 16 riachos urbanos considerados relevantes. No entanto, a maioria deles não tem, sequer, a nascente geograficamente localizada e se transformou em esgotos a céu aberto.


			
				Esgoto nosso de cada dia: AL sente efeitos nocivos da baixa cobertura sanitária
FOTO: José Ronaldo

De acordo com Wallace Padilha, superintendente técnico da Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal), o esgoto chega até os corpos receptores basicamente de duas formas: a primeira delas é com o despejo de resíduos diretamente em córregos. Esta prática é mais comum em áreas próximas aos chamados vales, onde o nível do lençol freático é mais superficial e inviabiliza a implantação das fossas sépticas que receberiam os dejetos.

A segunda maneira é com o despejo nas galerias pluviais, por meio de ligações clandestinas. A água não tratada acaba se misturando com a água da chuva e caindo nos corpos d?água. É este o principal motivo das chamadas "línguas sujas" nas praias do estado.

"Era para chover torrencialmente na cidade e o sistema de esgoto não apresentar problema algum. Se apresenta, é porque há muitas ligações clandestinas. Existem redes distintas para o fornecimento de água, para o esgotamento e para águas da chuva. Com as ligações irregulares, as galerias acabam sendo afetadas e consequentemente o meio ambiente atingido. A própria população sofre as consequências", ressalta o superintendente.


			
				Esgoto nosso de cada dia: AL sente efeitos nocivos da baixa cobertura sanitária
FOTO: José Ronaldo

SÓ 1/3 DA CAPITAL CONTA COM REDE COLETORA


			
				Esgoto nosso de cada dia: AL sente efeitos nocivos da baixa cobertura sanitária
FOTO: José Ronaldo

O sistema coletor de esgotos de Maceió atinge hoje cerca de 300 mil habitantes, segundo a Companhia de Abastecimento de Alagoas, ou seja, algo em torno de 35% da população da cidade. No papel, a capital conta com três bacias de esgotamento. Mas, na prática, apenas uma funciona. Mesmo assim, os dejetos que chegam ao mar não passam por nenhum tratamento químico, apenas por filtragens, e têm o mar como destino final.

"Até chegar ao seu destino final, no emissário submarino, o esgoto passa por um processo de tratamento para retenção de sólidos e de retirada de areia. Há ainda o tratamento biológico, que a própria natureza se encarrega. Apesar de não haver nenhuma adição de produtos químicos, não há danos ao meio ambiente, porque nós respeitamos os limites necessários, como mostram as análises do IMA", diz Wallace Padilha, superintendente técnico da Casal.


			
				Esgoto nosso de cada dia: AL sente efeitos nocivos da baixa cobertura sanitária
FOTO: José Ronaldo

Antes de ser despejado no mar, os resíduos que seguem pela rede coletora percorrem um longo caminho. Uma jornada que começa nas residências, passa pelas chamadas estações elevatórias e, finalmente, chega à estação de tratamento, no Trapiche da Barra, como explica o supervisor de Coleta de Esgoto da Casal, Cid Carlos.

"O esgoto ele segue por gravidade até o emissário submarino, no Trapiche, mesmo que saia de Mangabeiras, por exemplo. Como isso é possível? Ele segue por uma tubulação que começa com 80 centímetros do solo e acaba com cerca de 8 metros de profundidade nas estações elevatórias. Lá, existem bombas que jogam novamente os resíduos para a altura de 80 centímetros do solo. E assim segue até chegar ao seu destino final", explica o supervisor.


			
				Esgoto nosso de cada dia: AL sente efeitos nocivos da baixa cobertura sanitária
FOTO: José Ronaldo

INTERIOR -

Se na capital a cobertura sanitária é considerada, a situação é ainda mais grave no interior do estado. Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento mostram que o índice de saneamento, quando considerado os 102 municípios de Alagoas, cai para apenas 20%. Os municípios mais desenvolvidos, como Arapiraca, ou que contam com algum bairro planejado, como é o caso de Delmiro Gouveia, apresentam números melhores.

Mas, para onde vão os resíduos? "Todo tratamento de esgoto tem que seguir para um corpo receptor. Como no interior não há mar, geralmente os dejetos são canalizados para um rio ou riacho. A dinâmica deve seguir, pelo menos na teoria, a mesma lógica do que acontece na capital", acrescenta Wallace Padilha, superintendente técnico da Casal.

POPULAÇÃO SOFRE COM DOENÇAS E PRAGAS


			
				Esgoto nosso de cada dia: AL sente efeitos nocivos da baixa cobertura sanitária
FOTO: José Ronaldo

Moradora do Conjunto Cleto Marques Luz, no Tabuleiro do Martins, em Maceió, a motorista profissional Jaqueline Lima, de 39 anos, mora há 17 em uma rua que não conta com saneamento básico. Ela assiste diariamente a um "mar" de esgoto passar na esquina de casa e conta que, para evitar transtornos, se juntou a um grupo de moradores para concretar o local.

"A gente sempre sofreu com ratos, baratas e até escorpiões. Sem contar que, quando chovia, a água misturada com esgoto invadia a nossa casa. Todo mundo vivia doente. Foi quando todos os vizinhos se juntaram e decidiram pagar para colocar cimento na rua inteira. Cada um pagou o valor referente ao tamanho da frente de casa", afirma Jaqueline em tom de indignação.


			
				Esgoto nosso de cada dia: AL sente efeitos nocivos da baixa cobertura sanitária
FOTO: José Ronaldo

O mesmo esgoto que afeta a saúde da motorista Jaqueline causa prejuízos para o comerciante Carlos Anderson, de 28 anos. A mercearia dele e do pai dele fica ao lado do ponto exato em que os dejetos se acumulam, o que tem afastado clientes e feito as vendas diminuírem.

"Na minha casa, nós nunca adoecemos, mas o transtorno é muito grande. É muito mosquito, barata e rato. Nós já procuramos a prefeitura e a Casal para ver se, pelo menos, eles pavimentam aqui e dão destino a esse esgoto, mas nada foi feito. Enquanto isso, a gente é obrigado a conviver com um rio de lama", diz o comerciante ao se referir ao esgoto na porta de casa.


			
				Esgoto nosso de cada dia: AL sente efeitos nocivos da baixa cobertura sanitária
FOTO: José Ronaldo

Para o pedreiro Luiz França, de 53 anos, os principais problemas causados pelo esgoto a céu abeto que existe no local são as doenças. "No Natal passado, uma criança de cinco anos caiu dentro de um buraco de esgoto. Deu trabalho para retirar. Depois, ela adoeceu e o pai até se mudou daqui. A gente não sabe o que pode acontecer e fica esperando para ver qual doença vai contrair. Já houve picada de escorpião, caso de diarreia e o caso dessa criança", brada.

PROBLEMAS VÃO ALÉM DOS ASPECTOS SOCIAIS

A cobertura limitada do saneamento e o lançamento de esgotos sem tratamento no solo, em rios, na lagoa e no mar, causam não só problemas ambientais e de saúde pública. Provocam também uma desvalorização da região onde a contaminação pode ser vista e sentida, locais que são tomados pelo mau cheiro e pela impressão de puro abandono.

Um exemplo disso são as ruas e vias que ficam no entorno do Riacho Salgadinho. Apesar de geograficamente bem localizadas, elas perderam valor e ficam esquecidas pela maioria dos maceioenses. Também viram "rota de desvio" para os visitantes. Uma verdadeira desvalorização econômica e paisagística da região. Afinal, ninguém quer caminhar, morar e nem trafegar tão próximo a um riacho que já é considerado por muitos como um grande esgoto a céu aberto.


			
				Esgoto nosso de cada dia: AL sente efeitos nocivos da baixa cobertura sanitária
FOTO: Jamylle Bezerra

O Salgadinho é apenas um dos casos. Próximo a ele, a Praia da Avenida, uma das mais bonitas da capital, também é evitada, mas desta vez pelos turistas e banhistas. Difícil é encontrar alguém aproveitando as águas claras e mornas, porém extremamente poluídas, do lugar.

Com cerca de 35% de cobertura de saneamento na capital, Maceió enfrenta os problemas do crescimento desordenado e da falta de estrutura para tratamento do esgoto. Uma das situações que podem ser constatadas em vários pontos da cidade é a contaminação do lençol freático, o que acontece quando as famílias cavam fossas sépticas - geralmente no quintal das casas - e passam a despejar os dejetos direto no solo. Para evitar essa contaminação, a distância entre o fundo do poço absorvente e o início do lençol precisa ser de, no mínimo, 1,5 metro, o que geralmente não acontece na parte baixa da capital.

Um dos trechos cobertos pela rede pública de esgoto é o que fica entre Cruz das Almas e o início da Praia da Avenida. Lá, as águas servidas - como também podem ser chamados os esgotos - são colhidas e percorrem um longo caminho até chegarem ao emissário submarino, na Praia do Sobral. Mas ao contrário do que muitos possam pensar, do emissário, o líquido sujo e fétido é jogado de forma bruta no mar.


			
				Esgoto nosso de cada dia: AL sente efeitos nocivos da baixa cobertura sanitária
FOTO: Jamylle Bezerra

No outro extremo da cidade, mais precisamente na região do Dique Estrada, onde o saneamento só é visto nos livros, a Lagoa Mundaú agoniza após receber os dejetos despejados por toda a população que vive na região. Para se ter uma ideia do problema, no ano passado, um monitoramento da qualidade da água foi feito pelos órgãos competentes e constatou que a taxa de oxigênio no estuário lagunar era de 0%. Além do dano ambiental imensurável provocado pelo despejo in natura de dejetos, a situação também acaba se refletindo na economia local, já que muitas pessoas sobrevivem do que pescam na lagoa. Sem oxigênio, a morte dos animais que ali vivem é certa.


			
				Esgoto nosso de cada dia: AL sente efeitos nocivos da baixa cobertura sanitária
FOTO: Jamylle Bezerra

"Em Maceió temos todo tipo de problema com esgoto. Desde o lançamento clandestino em corpos hídricos e frotas até a contaminação do lençol freático, que é quando os dejetos não têm tratamento nenhum e são direcionados para o solo. Às vezes o lençol freático é Muito próximo e acaba sendo contaminado. Essas situações só não acontecem em pontos isolados, como por exemplo no trecho entre Cruz das Almas e o início da Praia da Avenida, porque nessa região existe uma rede pública de esgoto que coleta dos prédios e das casas e encaminha o material até o emissário submarino. Só que no emissário ele não tem tratamento nenhum e acaba havendo a contaminação do mar, que se torna um problema de saúde pública, ambiental e traz prejuízos econômicos para o mercado imobiliário e turístico", afirma Mateus Gonzalez, ecólogo e presidente Comitê da Bacia da Região Hidrográfica do Complexo Estuarino Mundaú-Manguaba (CELMM).


			
				Esgoto nosso de cada dia: AL sente efeitos nocivos da baixa cobertura sanitária
FOTO: Jamylle Bezerra

Mateus explica ainda que o mar tornou-se destinação final de esgoto em virtude do poder que tem de autodepuração. Como existe uma dinâmica das águas, a diluição dos dejetos torna-se mais rápida, diferentemente do que acontece nas lagoas. "Diante do volume tão grande de água, o esgoto é rapidamente absorvido. O problema é a grande quantidade de lançamentos, que acaba resultando no alto índice de coliformes fecais nas praias de Maceió, muitas das quais não têm balneabilidade o ano inteiro", completa.

No Benedito Bentes, onde existe uma estação de tratamento de esgoto, é possível constatar mais problemas, pois ela não tem funcionado e acaba se tornando apenas um caminho de passagem para o esgoto, que é direcionado para Riacho Doce.

ETES EM CONDOMÍNIOS E EMPREENDIMENTOS PRIVADOS

Sem saneamento público, os condomínios particulares e empreendimentos de grande porte, como hotéis e fábricas, precisam instalar seu próprio sistema e dar uma destinação correta aos dejetos. É aí que surgem as Estações de Tratamento de Efluentes (ETEs). Estima-se que em Maceió existam mais de 100 delas, sendo que a maioria é operada de forma particular.

Lá, o esgoto produzido recebe tratamento biológico e/ou químico para que, ao final, torne-se um líquido incolor e inodoro, que pode ser usado em descargas, lavagem de pisos e irrigações. O reaproveitamento desse líquido proveniente de esgoto ainda engatinha em Alagoas, mas é comum em países de primeiro mundo, especialmente naqueles onde já existe escassez hídrica.

"Os países de primeiro mundo fazem o tratamento e reaproveitam a água para evitar o desperdício de água potável em descargas e outros usos secundários, como acontece em Maceió. Aqui, a água utilizada para descarga e irrigação, por exemplo, é a potável, que tem um custo alto por conta do tratamento que recebe e deveria ser utilizada para o consumo humano", conta.

App Gazeta

Confira notícias no app, ouça a rádio, leia a edição digital e acesse outros recursos

Aplicativo na Google Play Aplicativo na App Store
Aplicativo na App Store

Tags

Relacionadas

X