O jornalista Glenn Greenwald, do site "The Intercept", afirmou nesta terça-feira (21) que a denúncia do Ministério Público Federal contra ele na operação Spoofing - que investiga invasões de celulares de autoridades - é uma "retaliação pelo governo [Jair] Bolsonaro" e um "ataque à imprensa livre".
"É um ataque contra a imprensa livre, obviamente, contra a nossa reportagem, mas também contra a Polícia Federal e o STF, que disse que eu não posso ser investigado, muito menos denunciado pela minha reportagem, porque é uma aberração do direito constitucional de uma imprensa livre", declarou Greenwald, em vídeo postado em rede social.
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"Então, isso é obviamente uma retaliação pelo governo Bolsonaro. Nós nunca vamos ser intimidados por ninguém abusando do aparato do estado. Nós vamos continuar a fazer nosso jornalismo, estou fazendo nosso trabalho agora para a próxima reportagem. Nós sempre vamos defender uma imprensa livre."
O jornalista foi denunciado pelo crime de associação criminosa e pelo crime de interceptação telefônica, informática ou telemática, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei. Ele não tinha sido investigado ou indiciado na operação Spoofing.
O site "The Intercept" publicou, em 2019, conversas atribuídas ao então juiz federal e atual ministro da Justiça, Sergio Moro, e procuradores da Operação Lava Jato. Segundo o site, Moro orientou ações e cobrou novas operações dos procuradores, o que, para o "The Intercept", evidencia parcialidade do então juiz.
Investigações da Polícia Federal mostraram que os celulares das autoridades haviam sido hackeados. Um dos investigados, o hacker Walter Delgatti Neto, afirmou em depoimento que repassou o conteúdo das conversas para Glenn.
Uma liminar do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedida em 2019, determinou que o jornalista não fosse investigado na operação Spoofing.
O MPF informou que Glenn não foi investigado, mas que indícios contra ele surgiram a partir das apurações sobre os hackers. Por isso, segundo o MPF, ele foi denunciado mesmo sem ser investigado.
Defesa e 'The Intercept'
Além da nota divulgada por Glenn Greenwald, os advogados Rafael Borges e Rafael Fagundes, que defendem o jornalista, também divulgaram posicionamento. Eles dizem que receberam com "perplexidade" a denúncia do MPF.
"Trata-se de um expediente tosco que visa desrespeitar a autoridade da medida cautelar concedida na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 601, do Supremo Tribunal Federal, para além de ferir a liberdade de imprensa e servir como instrumento de disputa política", dizem.
"Seu objetivo é depreciar o trabalho jornalístico de divulgação de mensagens realizado pela equipe do The Intercept Brasil em parceria com outros veículos da mídia nacional e estrangeira. Os advogados de Glenn Grenwald preparam a medida judicial cabível e pedirão que a Associação Brasileira de Imprensa, por sua importância e representatividade, cerre fileiras em defesa do jornalista agredido."
O site "The Intercept" - que tem Greenwald como um dos fundadores e editores - também divulgou nota no início da tarde desta terça. O veículo diz que os diálogos que constam na denúncia são "rigorosamente os mesmos que já haviam sido analisados pela Polícia Federal durante a operação Spoofing, e acerca dos quais a PF não imprimiu qualquer conduta criminosa a Glenn".
"Glenn Greenwald não foi sequer investigado pela PF, pois não existiam contra ele os mínimos indícios de cometimento de crimes. Causa perplexidade que o Ministério Público Federal se preste a um papel claramente político, na contramão do inquérito da própria Polícia Federal", segue o The Intercept.
"Nós do Intercept vemos nessa ação uma tentativa de criminalizar não somente o nosso trabalho, mas de todo o jornalismo brasileiro. Não existe democracia sem jornalismo crítico e livre. A sociedade brasileira não pode aceitar abusos de poder como esse", conclui o site.
Mais denunciados
O Ministério Público também denunciou o grupo que já vinha sendo investigado no caso:
- Walter Delgatti Netto
- Thiago Eliezer Martins Santos
- Danilo Cristiano Marques
- Gustavo Henrique Elias Santos
- Luiz Henrique Molição
- Suelen Oliveira
A apresentação da denúncia não significa que as pessoas apontadas pelo MPF sejam culpadas. A Justiça ainda tem que analisar a denúncia e, se entender que há indícios de crimes cometidos, determinar a abertura do processo. Só então os investigados viram réus e, ao final do processo judicial, são absolvidos ou condenados.
O G1 entrou em contato com as defesas de Suelen, Gustavo, Walter e Danilo, mas ainda não havia recebido uma resposta até a última atualização desta reportagem.