Apesar de as festas juninas serem comemoradas em vários países do mundo, é no Nordeste brasileiro que ela é festejada à altura. Considerada, por unanimidade, o festejo mais adorado pelo povo nordestino, os festejos juninos perpassam gerações e, a cada ano, enriquecem ainda mais a cultura e a tradição. É nesta época que as pessoas revivem os costumes e os ritos mais tradicionais do sertanejo em meio à era da contemporaneidade.
Em Maceió, este ano, a festa tem um gostinho especial. É que o São João da capital está muito caprichado e mais competitivo. Segundo o diretor da Fundação Municipal de Ação Cultural (FMAC), Vinícius Palmeira, este é um são João que concorre com as festas das grandes cidades do nordeste brasileiro, como as que acontecem em Caruaru, no Agreste pernambucano, e em Campina Grande, na Paraíba.
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Os bairros históricos de Jaraguá e Fernão Velho ganharam uma "roupagem nova". Eles têm destaque na programação da festa junina. Considerada a abertura dos festejos, Fernão Velho recebeu o Trem do Forró, na última quinta-feira, onde o pessoal arrastou o pé até tarde da madrugada.
Já o Jaraguá, principal "roteiro" nestas festas, recebe o Arraial Central, que conta com três palcos dedicados ao forró pé serra, ao "forrock" e às famosas bandas de forró nacional. Serão nove dias seguidos de festa no local, que deve receber milhares de pessoas até o dia 30 de junho.
De acordo com a FMAC, 72 festejos estarão espalhados pelos bairros da capital alagoana. No total, são 103 shows, com atrações nacionais e locais, programados.
Dos 72 arraiais, 40 deles são organizados com recursos próprios da população, que a cada ano se une no sentido de garantir que a tradição seja cumprida. Já os outros 32 arraiais foram selecionados pelo edital de incentivo à cultura, lançado e apoiado pela FMAC.
A força da tradição

Por falar em arraial nos bairros, os festejos mais simplórios logo são lembrados. A fogueira que aquece as noites frias do "São João", o cheiro de pólvora no ar, as pessoas embelezadas "para ficarem de papo pro ar à porta de casa", o sorriso da criança ao desafiar o fogo, o chiado da sanfona, a batida da zabumba e som do triângulo.
Tudo começou como um ato de fé. Os santos da Igreja Católica e seguidores de Jesus Cristo, São João, São Pedro e Santo Antônio são o trio que dá sentido a tamanha festança. Os recortes históricos revelam que o povo católico europeu - os que trouxeram as comemorações juninas para o Brasil - pediam aos santos, nesta época, por fartura na colheita agrária, e em troca faziam grandes festejos.
A força cultural é tamanha que até quem não tem fé festeja! E o São João é considerado parte do folclore brasileiro. Entre os costumes e ritos, o nordestino acende a fogueira, faz do milho o prato principal, solta fogos, canta e dança. Mas dança muito! Tem o forró, a quadrilha junina, o Coco de Roda, o xaxado e o baião.
Em Alagoas, há as famosas disputas das quadrilhas e do coco. A Organização Arnon de Mello (OAM) é uma das incentivadoras da promoção cultural. É a OAM quem promove o principal concurso de quadrilha de Alagoas, o Forró & Folia, que finalizou as apresentações na sexta-feira (22). Agora, a quadrilha junina vencedora segue para a grande etapa regional do concurso, em Goiana-PE.
O Coco de Roda é outra dança muito aclamada durante as festas juninas. A batida do pé no chão duro, as palmas de mãos e o rodado dos vestidos encantam aos que assistem. A disputa do coco no estado acontece entre os dias 23 e 30 de junho, na Praça Multieventos, no bairro da Pajuçara, em Maceió, sempre a partir das 19h30. Este ano, é a segunda edição do Festival de Coco de Roda de Alagoas. O evento contará 16 grupos de Coco de Roda que competirão entre si, além contarem com apresentações de grupos convidados.

Festa entre famílias
Assim como as grandes festas de dezembro, as juninas têm o poder de reunir famílias. É como conta o Sr. Edvaldo Silva, que faz questão de acender a fogueira para São João há 53 anos. "Desde criança que eu participo das festas juninas com a minha família e o costume continua o mesmo. É muito bom ficar perto da fogueira, ver as crianças brincarem, dançarem e soltar fogos. Todos os anos, nas três datas dos santos, fazemos fogueira", afirmando que as festas juninas são as suas favoritas.

Edvaldo, agora casado e pai de família, diz que passa a data com a família Marcelino, de sua esposa, em São Sebastião. E acrescenta: "a nossa família tem uma média de umas 115 pessoas e no São João cerca de 80 parentes aparecem para os dias de festa. Aí comemos muita pamonha, fazemos quadrilhas improvisadas, brincamos de adivinhação e até pulamos fogueira", detalha ele.
Mais uma entre as tantas famílias que se unem para comemorar o São João é a família Oliveira, lá de Rio Largo. Todos os anos é certo, no São João vai ter "quebra pote", quadrilha improvisada e decoração temática. Mas esta família dispensa a fogueira. Um verdadeiro contraponto entre a contemporaneidade e as tradições.
A dona da casa onde a "Grande Família" se reúne explica o motivo de a fogueira não fazer parte da festa. "Dá muito trabalho! O principal motivo é porque o local da festa é fechado, então é mais complicado pra fazê-la, mas também não temos tempo para conseguir a madeira, que demanda um trabalho muito grande", diz Roberta Castello Branco, que ainda conta que achou meios para substituir essa carência da tradição.
