862 quilômetros é a distância que leva o maceioense ao destino dos sonhos de muita gente - a Chapada Diamantina, o 'coração da Bahia', lugar que mais se parece com um sonho paradisíaco, repleto de cachoeiras, pedras preciosas, arte, cultura e boa gente. O trajeto, geralmente, é feito em cerca de 50 minutos, de avião, ou em 12 horas, de automóvel. Mas, Jasmim Buarque e Marcos Luz fizeram diferente. O percurso do casal durou 19 dias e foi traçado de bicicleta. Além das belezas da chapada, eles conheceram mais: fizeram incontáveis paradas durante o caminho em vales, praias, rios e demais cachoeiras. O período foi de inspiração. Jasmim que, entre tantos dons, é artista visual, fez uma série de pinturas em homenagem ao grande e longo feito.
Esta aventura é ainda mais surpreendente pelo fato de Jasmim só ter aprendido a pedalar este ano, justamente para a viagem. Já Marcos contou que já pedalou quase todo o Brasil. "Já pedalei várias vezes sozinho, não lembro quantas vezes, mas só não fui para os estados do extremo norte, como Acre, Rondônia e Roraima, mas os outros, pelo menos de passagem, fui".
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"Eu tinha tentado aprender a andar de bicicleta já faz mais de ano, mas eu não conseguia, paralisava de medo. Eu até ganhei uma bicicleta no começo do ano passado, tentei aprender, mas não consegui e vendi. Simplesmente estava bloqueando, embora eu tivesse muita muita vontade de aprender a andar e por também ser um transporte rápido e mais barato", contou Jasmim.
A aventureira lembra com carinho do aprendizado. "Marcos me convidou para viajar e eu disse que queria que fosse de bicicleta. Então, comprei uma e comecei a praticar no final do ano passado. Dia 31 de dezembro foi a primeira vez que eu fui da Garça Torta até a casa da minha mãe, no São Jorge. Foi muito bom e difícil. Eu tinha que ter muita disciplina e estar em estado de atenção constante. Fui praticando e melhorando gradativamente", narrou Jasmim.
Durante a fase de aprendizado, os treinos aconteceram em bairros famosos de Maceió: Jacintinho, Feitosa, Mercado, Centro, José Tenório, Ponta Verde, Ipioca e Farol. "Andamos em muitos locais da cidade e fui viajar aprendendo a andar, mas ainda estou ainda aprendendo".
A viagem

A dupla não precisou de muito; levou cerca R$ 1 mil para o período. Além dos 19 dias no caminho, eles passaram mais 35 no Parque Nacional de Chapada Diamantina. Com o espírito de aventura e a alma leve, eles optaram por fugir dos luxos turísticos e, no período, viveram em conformidade com a natureza. Respeitando os limites das coisas ao redor e, em especial, dos seus corpos, que fazem parte desta unicidade que é o universo.
"Durante o caminho, nos alimentamos mais de frutas, paramos em todas as barraquinhas que encontrávamos na estrada pelo menos para ver o que tinha e se nosso corpo sentia a necessidade de se alimentar", lembrou Jasmim.
Quando questionados sobre onde tomavam banho e faziam as necessidades fisiológicas, eles disseram que isso não foi uma dificuldade. "Quando ficamos em locais como as praças tomávamos banho de caneca ou pano úmido. Na casa dos amigos, usávamos o banheiro mesmo, mas também tomávamos banho nos rios e nas praias, afinal, dormir salgado é bem legal", disse, bem-humorado, Marcos Luz.

Ao chegarem no destino, só encantamento. A dupla ficou longe de redes sociais e de tudo o que pudesse aproximá-los do que é definido como 'modernidade líquida'. Imersos na mãe-natureza, eles aproveitaram o que de melhor a Chapada Diamantina tem a oferecer.

Visitaram incontáveis cachoeiras. Segundo estimativa de guias locais, o parque tem mais 200 cascatas e, em época de chuva, o número pode dobrar. Entre as atrações, conheceram a segunda maior cachoeira da América Latina e a maior do Brasil, a cachoeira da Fumaça, que leva o nome devido à altura ser tão grande que a água não chega ao solo e logo se transforma em 'fumaça'.
Da viagem, restaram as seguintes perspectivas. "Concluo que viajar para mim é o combustível de mais qualidade que posso me oferecer. Todas as vezes que me deixei ir Brasil adentro, vivi momentos muitos especiais, não só com encontros e/ou companhias do caminho, mas, sim, um encontro comigo mesmo, com a capacidade de desfrutar de momentos simples sem me esforçar, a exemplo de subir uma serra para poder apreciar um belo pôr-do-sol ou um horizonte mais amplo em 360 graus", conta Marcos Luz.
Já Jasmim disse que essa viagem, para ela, foi importante para autodescoberta. "Sinto que viajar é uma maneira de fazer uma viagem interna, que tudo que acontece no caminho revela como estou em meu interior. Isso me permite viver em um tempo diferente do das cidades para sentir qual é o meu verdadeiro ritmo e saber que estando nele eu consigo chegar em meus objetivos, em meus sonhos, superar muitos medos e sentir alegria em perceber que sou capaz. Me sinto mais forte, mais amorosa", conclui.

Dicas para viajantes interessados em repetir o feito

Após esta jornada, os viajantes passaram algumas dicas para quem quer fazer o mesmo. "Mantenha-se hidratado, pedale somente o quanto seu corpo suporta, esteja atento aos sinais dele. Se comunique com as pessoas do caminho e faça novas amizades. Peça dicas de estradas mais calmas para as pessoas que moram na região. É melhor para saber onde estão as opções de lugares bonitos como cachoeiras, rios, vales, etc", sugere Marcos Luz.
Ela completa: "Leve o mínimo possível de bagagem, tenha uma alimentação leve e o mais simples possível. Para as mulheres, o coletor menstrual é muito confortável para pedalar. Deve-se usar um assento de bicicleta adequado para o corpo feminino e calcinhas sem elástico, o que ajuda muito no caminho. Esteja consciente de que, a cada pedalada, em um respirar, o tempo já passou e o que vale é somente o que está sendo executado", diz Jasmim.
As ilustrações apresentadas nesta matéria são comercializadas pela artista e podem ser consultadas em sua rede social.Clique aqui e conheça mais deste trabalho.
