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Alerta: Ansiedade pode se transformar em transtorno e colocar a saúde em risco

OMS estima que 9,3% da população sofre com algum sintoma da doença

A ansiedade é considerada natural e faz parte da vida de todos. É normal aparecer na véspera de uma prova, em uma entrevista para emprego, horas antes de um encontro importante, no período que antecede o casamento ou na espera pelo nascimento do filho. A ansiedade é uma reação do organismo que prepara o indivíduo para "lutar ou fugir".

Diante de um desafio, o corpo segue uma programação biológica, as pupilas se dilatam, a respiração fica mais curta, o coração acelera e a musculatura fica tensionada. Para a psicóloga Valquíria Otaviani, a ansiedade é derivada do medo e pode atuar como um mecanismo de proteção do ser humano. "A ansiedade é natural e faz parte da natureza humana, não precisa ser uma coisa danosa. É um mecanismo de defesa. Ao ter um encontro marcado e precisar percorrer uma longa avenida para encontrar a pessoa, a ansiedade te faz ter o cuidado de olhar para os dois lados ao atravessar a via", explica.

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Na história, a ansiedade levou os antepassados a procurarem abrigos seguros contra predadores, armazenar provimentos e buscar novas alternativas para buscar alimentos, sendo um sentimento que faz o indivíduo agir diante de uma ameaça e desperta a necessidade de procurar novas alternativas.

No entanto, quando as reações da ansiedade não passam e a pessoa vive em constante estado de alerta, a função natural perde o papel essencial e acarreta em um sentimento nada saudável. "Uma simples dificuldade de respirar, uma respiração mais curta, uma sudorese nas mãos, um tamborilar dos dedos na superfície da mesa ou um balançar de pernas já podem indicar que é preciso olhar o que está acontecendo", alerta Valquíria.

Segundo a psicóloga, os pequenos sintomas podem se agravar, chegando a crises de pânico, que são extremamente dolorosas, e a compulsões. "No meio do caminho, do início dos sintomas para uma crise de pânico, chegamos às compulsões, seja por comida, drogas ilícitas, álcool, sexo, compras. São instantes de prazer, que, momentaneamente, trazem alívio, mas depois a ansiedade volta, pois não foi resolvido o x da questão", destaca a psicóloga.

A ansiedade como patologia

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 9,3% da população brasileira apresenta os sintomas da ansiedade, o que representa 18,6 milhões de pessoas. O manual de classificação das doenças mentais (DSM.IV) define o transtorno de ansiedade generalizada (TAG) como a preocupação excessiva ou expectativa apreensiva, que persistem por seis meses no mínimo e vêm acompanhadas pelos sintomas de fadiga, irritação, dificuldade de concentração, tensão muscular e alterações no sono, transtorno do pânico pós-traumático e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).

A psicóloga Valquíria ressalta que a ansiedade passa a ser danosa quando paralisa a vida. "Um dos pontos é o medo do futuro e a pessoa começa a olhar para trás e se lembra como dava conta no passado, como era mais feliz e mais simples. E, então, o medo de não dar conta do futuro, de não ser uma situação confortável, paralisa a fluidez das coisas da vida. É um medo do futuro e uma saudade do passado".


				
					Alerta: Ansiedade pode se transformar em transtorno e colocar a saúde em risco
FOTO: Rafael Maynart

A jornalista Isabel Ribeiro, de 24 anos, relembra que chegou a trancar uma faculdade após ter uma crise de ansiedade. "Eu cursava enfermagem. A primeira crise foi na graduação, depois disso fiquei assustada e relacionava a crise à faculdade. Foi então que decidi trancar o curso. Naquele momento, eu parei com a minha vida, foram oito meses praticamente dentro de um quarto, não falava com ninguém, qualquer lugar que não fosse a minha casa me causava pânico".

Além do isolamento, Isabel conta que sofria com falta de ar, ânsia de vômito, palpitação, falta de apetite, tontura e, às vezes, tremor nas mãos, chegando a ir para o hospital quatro vezes em um mês. Aos 18 anos, a jornalista foi diagnosticada com o TAG. "Quando as crises começaram e eu nem entendia aquilo, fui parar na emergência umas quatro vezes em um mês. Após as primeiras crises, fui a um clínico geral, que me solicitou uma bateria de exames. Só comecei a ter consciência da situação quando recebi os resultados e o médico foi bem direto, disse que a minha saúde estava perfeita e que o problema estava na minha cabeça".

Já a estudante Nathaly Oliveira, de 22 anos, descobriu recentemente alguns sintomas da ansiedade durante as sessões de terapia, mas as reações a acompanham desde a infância. "A psicóloga já apontou diversas características de pessoas ansiosas que eu tenho e sempre tive, mas não sabia o que era 'formalmente', nunca pensei que estavam associadas à ansiedade e que eu poderia ser uma pessoa ansiosa. Mas desde muito cedo, dentro de casa, minha mãe dizia que eu 'era igual ao meu pai' porque 'fica antecipando problemas. O problema nem ocorreu e você já está sofrendo sem saber o que vai ocorrer!' além de falar demais sem pensar, de forma atropelada e sentir o corpo acelerado mais que o normal muitas vezes".

Apesar de ser natural e estar presente, é preciso identificar quando a ansiedade é patológica. Os traços da doença podem aparecer em qualquer idade. O Transtorno da Ansiedade tem cura, mas é preciso buscar ajuda e encontrar a alternativa de tratamento que mais se adéque ao paciente, seja o psiquiátrico associado à psicoterapia, ou alternativas naturais, como a meditação, aromoterapia, Florais de Bach.

Com a indicação do médico, Isabel procurou um psicólogo que fez o diagnóstico. No caminho do tratamento, ela conta que ainda sofre com alguns sintomas, como a insônia, e que já precisou interromper o uso da medicação por causa dos efeitos colaterais. "Há quatro meses procurei um psiquiatra. Saí de um emprego que me deixou abalada psicologicamente, fora outros problemas ligados a ansiedade que eu ainda não consigo lidar. Em 2016 passei por outro tratamento, que, na época, me fez muito bem. Eu tinha uma boa qualidade de sono, me alimentava bem. Conseguia sair para me divertir com os amigos, estudava e me ajudava quando uma crise mais forte acontecia", relembra.

No entanto, Isabel esbarrou em um problema para dar continuidade ao tratamento, o Sistema Público de Saúde. "Fiz tratamento por três meses, o ideal é no mínimo um ano. Como eu não tinha apoio para me consultar com um psiquiatra, recorria ao sistema público, o atendimento era muito bom, mas a demora para conseguir uma consulta e o ambiente do sistema público me fizeram desistir de continuar o tratamento".

A psicóloga Valquíria Otaviani explica que o autoconhecimento é a melhor alternativa para administrar a ansiedade. "Algumas pessoas têm o perfil mais ansioso, mas tudo isso é administrado, ou ainda o transtorno pode ser desencadeado por um trauma. O olhar para mim mesma, conhecer o meu funcionamento é muito benéfico. No caso do trabalho meditativo, o respirar pode trazer o equilíbrio. A pessoa consegue restabelecer um fluxo natural, podendo diminuir até os sintomas físicos", destaca.

Aceitar a ansiedade, reconhecer seus gatilhos e limites é uma alternativa para administrar o sentimento e atenuar os efeitos nas atividades diárias.

A jornalista Isabel Ribeiro percebeu que cronometrar o tempo que estava fora de casa a confortava no dias em que precisava sair sozinha. "Era algo que causava pânico. Para tentar amenizar esse temor, eu sempre cronometrava o tempo que passaria na rua, me dava 2h para tentar. Se eu saísse de casa às 10 horas da manhã, às 12 horas já estava voltando".


				
					Alerta: Ansiedade pode se transformar em transtorno e colocar a saúde em risco
FOTO: Reprodução/Ilustração

Gatilhos para ansiedade

A preocupação adentrando o caminho do medo é um dos indícios do Transtorno da Ansiedade, segundo Valquíria Otaviani.  A insegurança, o medo de ser excluído, a dificuldade em abrir mão do controlar por medo de se perder também contribui para uma atmosfera de ansiedade. A impressão de estarmos deixando algo gera angústia, o que pode levar  à depressão.

Para Nathaly, o fato de ter comprado um smartphone e ter se conectado às redes sociais contribuiu para desencadear ainda mais os sintomas da ansiedade. "Até a metade dos cursos de graduação, jornalismo e direito, e o estágio, tudo era mais tranquilo, eu sentia menos os sintomas da ansiedade. Mesmo assim ficava tensa por sempre 'prever' o comportamento dos outros, falava quase que de forma compulsiva sem perceber. Essa foi a época em que comprei um celular com mais funcionalidades e comecei a utilizar muito mais as redes sociais, principalmente o Instagram".

Com a compra, ela conta que aumentou a frequência em que usava a ferramenta, passou a demorar mais tempo acompanhando as postagens e percebeu que estava abandonando antigos hábitos para ficar conectada às redes sociais. "Me dei conta que estava procrastinando leituras para prova da faculdade, só pra ficar no Instagram, vendo coisas e pessoas inúteis e aleatórias. Meu namorado à época me alertava sempre e várias vezes quando íamos estudar juntos, me dizia para largar o vício, porque eu não conseguia parar de mexer no celular".

Dependência tecnológica

O smartphone se tornou item essencial na vida do ser humano e estar desconectado, não ser capaz de se comunicar com as outras pessoas e não ter acesso a informações podem desencadear alguns sintomas da ansiedade. Além disso, muitos usuários compartilham fotos de uma vida perfeita e têm o comportamento controlado pelas redes sociais.

Essas pessoas ficam extremamente ansiosas por curtidas e comentários em uma postagem e podem ficar frustradas e depressivas ao receber poucos "likes". Os compartilhamentos e as curtidas significam aprovação e perceber que a vida não está igual ao compartilhado nos feeds pode ser um gatilho para a ansiedade e a depressão.

Para Isabel Ribeiro, as redes sociais a prejudicavam no momento das crises. "Na época eu evitava, era muito difícil olhar as fotos dos meus amigos se divertindo, estudando, fazendo coisas normais, que eu não conseguia fazer".

Nathaly destaca que se sente frustrada ao postar uma foto e não receber ou receber poucas curtidas. "De certa forma, acho que todo mundo procura isso quando posta algo nas redes: reconhecimento e visibilidade. Desde escolher a foto até editar, cortar, a pose que você faz quando tira a foto muitas vezes já pensada para a rede social, são atos que visam sim aos likes, aos comentários. Então, não receber o número de curtidas que eu acho que a foto vale é meio chato".

Mas é importante frisar que nem tudo é real nesse universo. "Costumo brincar que queria morar no mundo do Facebook e do Instagram. Por lá, todo mundo está feliz, ninguém tem problemas, todo mundo tem o corpo perfeito, é o mundo ideal. Mas nem tudo que é ideal é real", alerta Valquíria.

A psicóloga alerta ainda que, apesar de não ser uma regra, geralmente há uma associação entre a ansiedade e a depressão, que pode ser desencadeada ao tentar viver uma vida de redes sociais e não conseguir.

Nathaly conta que uma das dificuldade que enfrenta em relação às redes sociais é a comparação. "Não me sinto depressiva, mas também não minto que é mais agradável quando as curtidas são, ao menos, um pouco mais proporcionais ao número de seguidores. Todo mundo quer ver e ser visto nas redes sociais, isso é fato. Uma das coisas que mais afeta é achar sempre que a trajetória dos outros é melhor, que os outros têm mais chances de se dar bem, que pra eles as coisas são mais fáceis de alguma forma. Quando na verdade tudo aquilo mostrado ali é um milésimo do que ocorre todo dia na vida real", resume.

Autoconhecimento

Ainda para Valquíria, as redes sociais têm funcionado como uma trama de fios, que fica tão emaranhado, que a pessoa já não sabe a qual fio pertence. "É preciso atenção para não me perder de mim. O caminho para administrar a ansiedade com as redes sociais é me conhecer e saber de que forma o Facebook e Instagram podem contribuir como a minha vida e me ajudar".


				
					Alerta: Ansiedade pode se transformar em transtorno e colocar a saúde em risco
FOTO: Reprodução / Ilustração

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