Um longo dia. Assim pode ser considerada a quinta-feira para a judoca Rafaela Silva, atual campeã olímpica da categoria até 57kg. Pega no exame antidoping durante os Jogos Pan-Americanos de 2019, a atleta, na ocasião, foi punida com dois anos exclusão do esporte, e entrou com um recurso na Corte Arbitral do Esporte (CAS) para reduzir a pena. A audiência deste recurso começou às 7h30 desta quinta e acabou quase às 16h (horários de Brasília). Ainda não há uma previsão para quando o resultado do julgamento será divulgado. Pode ser em algumas semanas, mas ao mesmo tempo é possível que demore mais do que o normal por conta da pandemia do novo coronavírus.
Rafaela Silva fez um curto depoimento durante o julgamento. Participaram da audiência por videoconferência algumas testemunhas de defesa, além dos advogados Marcelo Franklin e Thomaz Paiva, do bioquímico Fernando Fonseca e do médico Ronaldo Abud.
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O objetivo da defesa é comprovar a origem da substância (fenoterol) que entrou no corpo da judoca durante os Jogos Pan-Americanos e, assim, conseguir a redução da pena de acordo com o grau de negligência. Pelas regras do código antidoping, os atletas são responsáveis por tudo que ingerem e, mesmo que a ingestão não tenha sido proposital e/ou que não haja ganho técnico ou esportivo com a substância, há a punição por negligência.
Com a pena atual, Rafaela Silva só poderia voltar a competir em novembro de 2021, perdendo assim as Olimpíadas de Tóquio. Uma redução da sanção para um ano a deixaria livre para competir todos os torneios preparatórios para os Jogos. Se a pena cair para um ano e meio, por exemplo, ela consegue disputar as Olimpíadas, mas com pouco tempo entre o fim do cumprimento da punição e a realização do megaevento.
Relembre o caso
Rafaela Silva foi pega no exame antidoping durante os Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru, em agosto de 2019. A PanAm Sports, que organiza essa competição, decidiu tirar a medalha de ouro da judoca, que foi conquistada na categoria leva (-57kg). No início de novembro de 2019, a carioca anunciou que entraria em uma suspensão voluntária, ou seja, antes do primeiro julgamento dela ser divulgado, parou de lutar oficialmente.
O exame acusou a presença de fenoterol, a mesma substância com a qual Etiene Medeiros foi flagrada, em junho de 2016. A nadadora acabou inocentada na ocasião. Esse ativo tem efeito broncodilatador e costuma ser usado em tratamento de doenças respiratórias, como a asma. A substância causa aumento de performance, uma vez que permite melhor troca gasosa entre o sangue e o pulmão.
Na audiência por videoconferência em janeiro, a antiga defesa da atleta, feita pelo advogado Bichara Neto, se baseou na possibilidade da contaminação ter acontecido a partir do contato com um bebê. Lara, de sete meses, é filha de outra judoca do Instituto Reação, Flávia Rodrigues, e faz uso de medicação contra asma. O contato com a criança teria acontecido em 4 de agosto, na véspera do embarque para Lima. Ali, Rafaela foi punida por dois anos, com a data de início da suspensão em novembro de 2019, ou seja, ficando sem lutar até novembro de 2021.
A judoca soube do seu caso de doping no Mundial de Judô de Tóquio, no Japão, no fim de agosto. No mesmo dia, disputou o Campeonato Mundial, conquistou a medalha de bronze e fez um novo exame de doping, que deu negativo. Ou seja, ela não foi pega no doping durante o Mundial, disputado 20 dias após o Pan de Lima.
A carioca tem no currículo o título mundial de 2013 e a medalha de ouro na Olimpíada do Rio em 2016, além de outras três pratas e dois bronzes em Campeonatos Mundiais. Em 2019, foi campeã dos Jogos Pan-Americanos pela primeira vez - mas perdeu a medalha.