A 66 dias da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, marcada para 9 de fevereiro, o Comitê Internacional (COI) confirmou nesta terça-feira, em reunião realizada em Lausanne, na Suíça, que a Rússia, uma das maiores potências do mundo no esporte, não poderá disputar a competição.
A decisão, contudo, não atinge os atletas comprovadamente fora do escândalo de doping. Eles serão escolhidos por uma banca formada pelo COI e podem competir pela bandeira olímpica, caso queiram, e se forem ao pódio não terão no protocolo o hino russo.
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- Esse é um ataque sem precedentes a integridade dos Jogos Olímpicos e do esporte. O COI, após acompanhar todos os processos, decidiu por sanções proporcionais ao sistemático processo de manipulação para proteger os atletas limpos. Isso pode significar um marco e serve para catalizar forças para um mais efetivo sistema de controle antidoping liderado pela Wada - disse Thomas Bach, presidente do COI.
É uma decisão histórica, já que o COI sempre se mostrou relutante em excluir um país inteiro dos Jogos, desde que a nação não tenha problemas graves políticos ou com o Comitê Nacional. Por exemplo, entre 1964 e 1988, a África do Sul foi impedida de disputar os Jogos por conta do Apartheid.
- Como atleta, eu me sinto triste por todos os atletas limpos de todos os comitês olímpicos que sofreram com essa manipulação. Trabalhando com a Comissão de Atletas do COI, nós vamos continuar procurando oportunidades para fazer com que esses atletas tenham de volta os momentos que perderam na linha de chegada e no pódio - finalizou Bach.
A decisão tomada pelo COI impede que qualquer membro do Ministério do Esporte da Rússia seja credenciado para os Jogos de Inverno de PyeongChang. O ministro, Vitaly Mutko, e outro político ligado ao ministério, Yuri Nagornykh, foram excluídos do movimento olímpico e não poderão participar das Olimpíadas em nenhuma edição futura. Dmitry Chernyshenko, russo que faz parte da organização dos Jogos de Inverno de 2022, em Pequim, foi retirado do seu cargo atual.
O COI também suspendeu o presidente do Comitê Olímpico da Rússia, Alexander Zhukov de sua posição como membro honorário da entidade. Os russos ainda terão que pagar todos os custos das investigações e serão obrigados a contribuir com US$ 15 milhões para o fundo independente de testes antidoping. Por fim, o COI cita que a suspensão pode ser parcialmente retirada para a cerimônia de encerramento dos Jogos de PyeongChang caso os russos cumpram com todas as exigências.
Atletas serão escolhidos por banca
Os atletas russos serão convidados para os Jogos de PyeongChang e terão que usar uniformes neutros apenas com os seus nomes. Uma banca formada irá analisar caso a caso e fazer os convites. Serão eles: Valerie Fourneyron, presidente do fundo independente de testes antidoping, além de um membro escolhido pela Wada, outro pela DFSU e um pelo COI, representado por Richard Budgett.
O painel será guiado primeiramente pela qualificação para PyeongChang no respectivo esporte do atleta. O competidor, claro, precisará estar comprovadamente limpo de doping e ter seguido todos os protocolos de testes solicitado pela força-tarefa. Eles serão chamados de "Atletas Olímpicos da Rúsia", e o hino olímpico será tocado caso ganhem o ouro na Coreia do Sul.
Todos terão o mesmo suporte logístico dos demais e ficarão na Vila Olímpica. O COI irá definir profissionais para formarem um staff para esse grupo, como foi no Time de Refugiados da Rio 2016.
Polêmica não é de agora
Os russos estão perdendo, uma a uma, as medalhas conquistadas nos Jogos Olímpicos de 2014. O porta-bandeira, por exemplo, Aleksandr Zubkov, perdeu a medalha de ouro conquistada no bobsled. Ao todo, já são 11 medalhas cassadas, quatro delas de ouro, que fizeram o país perder a primeira posição no quadro de medalhas e, atualmente, após as trocas de resultados, cair para o quarto posto.
Em 2015, um relatório independente encomendado pela Agência Mundial Antidoping (Wada) encontrou evidências de doping na Rússia. O documento revelou que os russos se beneficiaram do programa de doping em mais de 30 esportes e em diversas competições. Duas comissões foram criadas pelo COI para investigar as evidências.
Decisões do COI
Convidar individualmente atletas russos, sob critérios estritos, para os Jogos Olímpicos de Inverno PyeongChang 2018. Esses atletas participarão, seja individualmente ou coletivamente, sob o nome de "Atletas Olímpicos da Rússia" (OAR, em inglês). Eles competirão com uniformes com essa marca e pela bandeira olímpica. O hino olímpico será tocado em cada cerimônia
Não credenciar oficiais do Ministérios dos Esportes da Rússia para os Jogos Olímpicos de Inverno PyeongChang 2018
Excluir o então ministro dos Esportes, Senhor Vitaly Mutko, e seu então vice-ministro, Senhor Yuri Nagornykh, de qualquer participação em qualquer edição futura dos Jogos Olímpicos
Retirar o Senhor Dmitry Chernyshenko, ex-CEO do Comitê Organizador Sochi 2014, da Comissão de Coordenação de Pequim 2022
Suspender o presidente do Comitê Olímpico Russo, Alexander Zhukov, como membro do COI, uma vez que sua associação está ligada à sua posição como presidente do Comitê Olímpico Russo
O COI se reverva ao direito de tomar medidas contra e sancionar outras pessoas envolvidas no sistema
O Comitê Olímpico Russo terá que reembolsar os custos incorridos pelo COI nas investigações e contribuiur para o estabelecimento da Autoridade Independente de Testes (ITA, em inglês) pela soma total de 15 milhões de dólares (cerca de R$ 50 milhões), para construir a capacidade e integridade do sistema antidoping global
O COI pode suspender parcial ou totalmente a suspensão do Comitê Olímpico Russo a partir do início da Cerimônia de Encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno PyeongChang 2018, desde que essas decisões sejam totalmente respeitadas e implementadas pelo Comitê Olímpico Russo e pelos atletas e funcionários convidados
Rio 2016
Para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o COI não baniu a Rússia, deixando a critério de cada uma das Federações Internacionais a participação, ou não, do país. A entidade que comanda o atletismo no mundo, a IAAF, por exemplo, proibiu os russos de participarem sob a bandeira do país. Ao todo, 112 atletas que estavam classificados para os Jogos não participaram do evento.
Na ocasião, a decisão de não banir os atletas da Rússia da Olimpíada do Rio foi criticada pela Agência Mundial Antidoping (Wada), através de nota. Por outro lado, a Rússia foi banida dos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro. Uma das potências mundiais, o país não pode participar com nenhum atleta do evento.
No último dia 26 de novembro, a IAAF manteve a suspensão de dois anos da Rússia imposta sobre reivindicações de doping patrocinado pelo estado.